O-L-A leitores da coluna Mais L-E-V! Alguém aí anotou a placa dos carros? Pois eu passei a semana fazendo isso, para trazer a vocês, na crônica de H-O-J, combinações curiosas de letras encontradas no trânsito. A ideia aconteceu outro dia, quando segui por vários quarteirões atrás da placa GOD.
O motorista andava em câmera lenta, em uma pista de mão única, sem acostamento. Em outras palavras, molengava na minha frente. Praticamente me obrigou a observar e a traduzir as três letras para o português: Deus.
O motorista andava em câmera lenta, em uma pista de mão única, sem acostamento. Em outras palavras, molengava na minha frente. Praticamente me obrigou a observar e a traduzir as três letras para o português: Deus.
Seria um sinal dos céus? Resisti à tentação de ultrapassar o veículo, pois me pareceu uma blasfêmia. Deus sempre passa na frente. Em vez de buzinar ou cortar pela direita, reduzi a velocidade do carro.
GOD seguiu no seu ritmo, onipotente. No quarteirão seguinte, virou à direita. Quase fui atrás para descobrir onde era a garagem do paraíso, mas interrompi a viagem, nos dois sentidos.
GOD seguiu no seu ritmo, onipotente. No quarteirão seguinte, virou à direita. Quase fui atrás para descobrir onde era a garagem do paraíso, mas interrompi a viagem, nos dois sentidos.
Fui direto para casa, refletindo sobre o ocorrido. Desconfiei das pistas do universo. Até parece que o Cosmos iria se ocupar em me mandar recados subliminares nas placas de trânsito. Questionei a minha fé, mas a dúvida não durou três quarteirões. Na rotatória perto de casa, veio a comprovação. O veículo à minha frente trazia a palavra P-A-Z, assim, com todas as letras, em maiúsculo.
O-W-N. É o melhor que posso dizer na linguagem das placas, usando a interjeição mais usada atualmente para expressar admiração por algo lindo, fofinho. É geralmente empregada após receber fotos de bebês, cachorrinhos e outras fofuras nas mensagens de WhatsApp. Resumindo, é o que se diz ao comentar os vídeos da bebê Alice, aquela pessoinha que fala palavras difíceis na internet.
Algumas placas são mais nobres e outras, menos. Pelo que pude observar nas ruas, há uma epidemia de placas P-U-M, com a variante P-U-N, que são um convite à gozação do condutor. Ou zoeira, dirão os mais jovens. Não adianta tentar entrar com recurso no Detran. Só é permitido alterar a placa em casos de clonagem ou transferência do veículo para outro estado.
A única placa proibida no Brasil é GAY-2424. Já o prefixo, se vier sozinho, permanece como está. Em Brasília, um advogado entrou na Justiça pedindo a substituição das letras G-A-Y, alegando constrangimento e o risco de possíveis ataques homofóbicos. O Juizado Especial do Distrito Federal negou o pedido. A sentença foi uma aula de direitos humanos: “Não se é escondendo, mascarando a grafia associada a uma orientação sexual que se extirpa o preconceito, mas através de políticas de educação e conscientização da população”.
No Brasil, as placas de identificação obedecem a uma sequência única, mas cada estado tem a sua combinação autorizada de letras e números. Em Minas, vale do GKL 0001 ao HOK 9999. Isso explica a grande quantidade de placas G-O-L, independentemente das campanhas dos times mineiros de futebol, vitoriosas ou nem tanto.
Também é mera coincidência a placa B-A-R circulando em Belo Horizonte, a capital dos botecos. Álcool e direção não combinam. Quem misturar os dois corre o risco de entrar pelo K-N-O. Restará a pergunta: K-D-E (cadê) a P-R-F (Polícia Rodoviária Federal) para dar jeito nisso?
Por falar em siglas oficiais, já esbarrei com o veículo O-M-C (Organização Mundial do Comércio), parado ao lado da O-M-S (Organização Mundial de Saúde), a 90 graus do passeio. Do lado oposto, naturalmente, estava uma O-N-G, organização não governamental. Senti falta da placa COP-26, que andou nos noticiários nos últimos dias decidindo sobre a sobrevivência da Terra.
Com as regras do Mercosul, o futuro das placas divertidas está sob ameaça de extinção, assim como as frases de para-choque de caminhão, que deixaram de existir (alguém sabe dizer por quê?). Aos poucos, as placas amarelas vêm sendo substituídas pelo cinza sem graça.
A nova sequência – três letras, um número, uma letra, e dois números – renderá menos piadinhas, mas há uma luz no fim do túnel. Eu juro que vi, na Avenida Bento Simão, o carro N-Z-L-zero-B-zero. Ou seja, havia um L0BO andando pelo bairro. O-P-A!
Vi também um fusquinha com a placa B-U-G, que quer dizer inseto. Se fosse a versão Beatle, daria um perfeito besouro. Diante dessa aparição, só poderia dizer uma coisa: Own...