Jornal Estado de Minas

Corrida espacial

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– Mamãe, você também está vendo aquilo ali?, perguntou meu filho, sentado no banco do copiloto, surpreso. Confesso que a motorista, no caso eu mesma, não via nada além de uma fila infinita de carros, parados no congestionamento do horário de pico. Tentava decidir entre seguir reto ou virar a esquina, escolhendo qual dos dois caminhos seria menos lento.




 
Já cogitava fazer o uni, duni, tê, quando olhei na direção apontada pelo menino. Que incrível. Na nossa frente, acima da linha do horizonte, surgia a maior Lua que eu já tinha visto na vida. Ela estava nascendo naquele exato momento. Plena. Imponente. Magnética.
 
Já tinha ouvido falar na existência da Superlua, mas aquilo ali era um exagero. Precisei piscar os olhos para compreender a exuberância daquele meio disco, em tom sépia, gigantesco. Mal cabia entre as silhuetas dos dois prédios, de cada lado das margens da Rua dos Timbiras.
 
Não tive mais dúvidas sobre qual seria a melhor rota a percorrer. ‘Vamos seguir aquela Lua!’, disse para o meu pequeno, alterando a rota do GPS interno, que dizia para pegar o pão na padaria e os bombons que eu havia prometido há uma semana. Faltavam apenas 10 minutos para fechar a loja de chocolates. Quem liga? 
 
Entusiasmado com a aventura, o caçula concordou em recalcular o trajeto. Elon Musk que se cuide. Lá vamos nós. Apertei o pé no acelerador, pilotando o mais rápido possível para chegar ao cume da Timbiras, onde, pela lógica, a Lua cheia estaria esperando por nós.  
 
Nossa corrida espacial particular estava apenas começando. Passou a fazer sentido o apelido que uma cigana havia dado ao Renault Kwid: Galáctica. Na ocasião, não adiantou argumentar que o carro já tinha sido batizado de Baunilha, em função da pintura na cor creme e do teto plotado de preto, lembrando calda de chocolate. 




 
Tanto fazia. Baunilha ou Galáctica, o bólido continuou subindo o morro, valente na jornada rumo à estação lunar. A cada sinal de trânsito, a Lua enchia mais um pouco, dando as caras no céu. Talvez não desse tempo de cumprir nossa missão: chegar ao topo do mundo, visualizando-a por inteiro, antes de ela terminar de emergir das montanhas.
 
Na dúvida, instruí ao copiloto a tirar umas fotos da Superlua. De nada adiantou. A câmera dos celulares comuns é incapaz de captar o brilho da Lua em profundidade. Também as estrelas se tornam pontinhos opacos nas fotografias noturnas. Quase não dá para ver.
Tive a ideia de postar um lembrete nos grupos da família e dos amigos. Vou reproduzir aqui a íntegra da mensagem:
 
Olhem a Lua AGORA!!!!!!! 

A MAIOR QUE EU JÁ VI!!! LINDA!  

Passados alguns minutos, ainda engarrafada no trânsito, dei uma conferida rápida nos grupos. Nenhum comentário. Ou melhor, somente o da Raquel Viana, obrigada: “Uau! Está um escândalo! Linda mesmo”.  Fiquei pensando no que poderia ter acontecido. Será que faltaram emojis? Deveria ter pedido por favor, olhem a Lua? Talvez devesse ter usado negrito, em vez de letras maiúsculas.  
 
Quer saber mesmo? A verdade é que eu não deveria estar mexendo no celular, redigindo e lendo mensagens enquanto dirigia, especialmente com meu filho do lado e uma Superlua na minha frente.  Em vez de baixar os olhos para a tela, deveria voltar os olhos para o céu e acompanhar o espetáculo ao vivo, agora, já. 




 
E, então, sonhar que todos os familiares e amigos estariam fazendo o mesmo neste momento  e que, por isso, não haviam respondido ao bilhetinho no whatsapp. 
 
E que, juntos, embora distantes uns dos outros, estávamos agradecendo pelo presente do Universo. A Lua se mostrava maior do que nunca para atrair as crianças, provocar os adultos, distrair motoristas presos no trânsito, enamorar os casais e, quem sabe, interromper conflitos, tragédias e guerras por alguns minutos. 
 
Luariza-te, pedia o grafite no muro, perdido em algum canto da cidade.  

P.S.: Na próxima sexta, 26 de agosto, estarei na vivência Práticas Lunares. Informações pelo (31) 99116-9858.