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Era para ser uma caminhada comum com o filho, evento que se tornou mais frequente neste período de férias escolares. Entre uma e outra pancada de chuva, mãe e filho saem juntos para a pista de cooper, onde dão duas a três voltas, no máximo. 




 
Desta vez, porém, a cena começa diferente. O pequeno sugere andar pelas ruas do bairro, sem rumo, para ver até onde as pernas aguentam. “Bora!”, ela concorda, na hora. Nunca recusa um desafio libertário, ao estilo do filme "Easy rider". Liberdade ainda que tardia, esse tem sido o seu lema.    
As novidades continuam durante o passeio. A dois quarteirões de casa, o menino decide cumprimentar uma mulher desconhecida, que espera no ponto de ônibus. A senhora não vê o gesto amigável da criança. Ou vê e finge que não viu. Mantém a cara de paisagem. 
 
Sem entender o propósito do filho, a mãe evita dar palpite. Antes, tenta compreender o que se passa na mente do menino. Ela já tinha visto algo parecido. O cidadão saía por aí cumprimentando as pessoas, aleatoriamente. Era um candidato a vereador do bairro. Não se sabe se chegou a ganhar uma eleição. 
 
No quarteirão seguinte, o menino repete o ato de gentileza urbana. Dá um ‘oi’ ao homem que está parado na porta da oficina mecânica, olhando para o nada. Com as mãos sujas de graxa, ele parece aguardar a chegada de um cliente imaginário. Ignora completamente o cumprimento.




 
Entre divertida e curiosa, ela permanece como observadora do momento. Não há como chamar a atenção do menino, questioná-lo por ser gentil e espontâneo. Se ele fosse uma criança, iria orientar a não dar confiança para estranhos na rua, mas ele já tem 12 anos. É um adolescente, e tem o coração de ouro.
 
A mãe paga para ver até onde isso vai dar. Mais do que isso, compra a ideia do garoto. Resolve ajudá-lo em sua missão inventada de levar alegria às pessoas e ao mundo. Vamos analisar o problema. Talvez a mulher tivesse ficado indiferente por ele ser um rapazinho ou, quem sabe, por se tratar de uma criança. Ela sugere dividir a dupla. No próximo quarteirão, ele cumprimentaria os homens e ela, as mulheres. 
 
O resultado permanece nulo. Vai ver que ambos estão errando na ênfase do cumprimento. Propõe fazer o teste com aquela jovem que está vindo. Antes de ela se aproximar, a mãe endireita o corpo, respira fundo e abre o seu melhor sorriso. “Boa-tarde!”, diz, animada, mas a moça nem levanta a cabeça do celular.  
 
A estatística é desanimadora. De uma lista de 14 inquiridos, apenas dois e meio corresponderam, isso considerando no cálculo a mulher que deu um meio sorriso. Fazer o quê? A mãe admite já ter sido assim, anestesiada pelos problemas, paralisada pela correria, indiferente à benevolência alheia. 




 
Nesse ponto, porém, ela já está ficando cansada, tanto em função do percurso quanto da insensibilidade das pessoas. Chega a colocar em dúvida a regra de que não se deve negar um cumprimento nem a um cão.  É o que vamos ver. Ao virar a esquina, surgem um labrador e o seu dono.  O cachorro vem cumprimentar o menino, do jeito dele. Pula, fareja, faz festa. Em troca, recebe um tapinha amistoso na cabeça.
 
Diante da saudação recíproca, o proprietário do animal é obrigado a se render. Ele também cumprimenta o pequeno, por tabela. Será que os animais humanizam as pessoas? A resposta para essa pergunta fica no ar, mas a apuração sobe para cinco sorrisos e meio. Parece certo incluir o peludinho na conta.