É necessário falar das crianças. Por mais estranho que possa parecer quando a demanda pela vacina é superior à capacidade de se ofertar, falar das crianças não parece ser uma tarefa emergencial. Mas é.
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COVID-19: Minas atinge o maior patamar de infectados em acompanhamentoCrianças devem ficar no fim da fila da vacina de covid-19Comorbidade aumenta em 5,5 vezes as chances de quadro grave de covid em criançaMontanhas: a mistura de cenários e históriasA hipocrisia e a geopolítica: um breve olhar sobre os Uigures na ChinaParece irônico falar sobre isso no Brasil, país que não articulou uma estratégia eficiente da vacinação e não há previsão de acesso pleno às vacinas por adultos e idosos, falar das crianças parece algo muito distante. Mas, é necessário que elas se tornem a próxima fronteira da vacinação.
A ciência não sabe claramente quais os fatores que impedem que as crianças não desenvolvam os sintomas severos da COVID-19, sendo na maioria assintomáticas.
Entretanto, são potenciais transmissoras da doença e quanto mais o vírus circula maiores as chances de desenvolver variantes mais resistentes e letais.
O número de casos de crianças contaminadas, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, correspondente ao primeiro trimestre de 2020 comparado com o primeiro trimestre de 2021 (quando atingimos ou máximo do agravamento da pandemia no país) indica que o número de infectados nessa faixa de idade foi reduzido, felizmente, e com isso a mortalidade nos primeiros anos de vida.
Alguns poderiam questionar então o porquê da necessidade de vaciná-las. Estudos científicos, ainda na fase inicial, revelam que há possibilidades de as crianças que contraíram a COVID-19 desenvolverem sintomas persistentes de longo prazo (fadiga, dores musculares e articulares, cefaleia, insônia, problemas respiratórios e palpitações), como ocorre com os adultos.
Mas, o cenário mais grave e que impõe a necessidade de vacinar todas as crianças no futuro próximo é que o vírus pode continuar se disseminando, com variantes cada vez mais potentes e que tornem as crianças alvo mais fáceis dessas novas mutações. O Brasil, tradicionalmente, tem, provavelmente, o mais amplo programa de vacinação destinada as crianças do mundo.
Somos uma referência global positiva neste aspecto. O negacionismo dos efeitos benéficos das vacinas, que está aumentando, infelizmente, entre determinadas parcelas da população brasileira, acende a luz da preocupação em todas as esferas associadas às demais doenças. Mas, essa é uma outra discussão. Voltemos ao objetivo inicial deste “diálogo”.
Os cientistas acreditam que uma imunidade coletiva eficiente abranja entre 70% a 85% da população, que precisaria ser vacinada ou imune ao vírus para chegar ao ponto de satisfatório do controle da doença. Esse pode ser o ponto mágico da imunidade coletiva.
Como no Brasil, o total de crianças de 0 a 12 anos, segundo dados do IBGE de 2018, soma 35,5 milhões, que corresponde a 17% da população brasileira, é necessário que seja projetado uma forma eficiente de vacinação futura destinada a essa faixa etária para que possamos ter real sucesso no controle da pandemia.
Não é voltar ao normal, talvez isso nunca mais seja alcançado nos padrões anteriores, e nesse momento deve ser evitado (é a tentativa de voltar à normalidade que explica o cenário atual da pandemia no país). O controle da doença a longo prazo é condição fundamental. Então, é necessário pensar nas crianças!