No último domingo iniciou-se em Glasgow, na Escócia, a 26ª Conferência das Partes, da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP26. O principal eixo das discussões serão as mudanças climáticas globais e os desafios que a humanidade deveráenfrentar para minimizar os impactos ambientais que o planeta enfrentará no futuro, não tão distante, como apontam muitos cientistas e dados da ONU.
Esse fato evidencia o primeiro grande evento ambiental, que ocorreu há quase 50 anos, em junho de 1972, em Estocolmo, na Suécia. Foi a primeira Conferência Ambiental da ONU. Nesse mesmo ano foi tirada a primeira fotografia colorida da Terra pelos astronautas da Apollo17.
O Planeta parecia um mármore azulado, em contraste com a negritude ao entorno. A singeleza da imagem mostrava o Planeta, com seu sistema fechado e finito, como o único lar possível para os humanos. A Conferência de Estocolmo, com o lema “Apenas uma Terra”,foi um alerta ao mundo: que não temos outra morada, além desse planeta. Então cabe ao homem criar os meios para viver melhor aqui.
Nas décadas anteriores,um grande número de desastres ambientaishaviam ocorrido, aumentando, assim, a consciência e a preocupação com o meio natural: em Londres, em 1962, milhares morreram em função de um nevoeiro letal, que cobriu a cidade; uma seca devastadora atingiu o Sahelafricano, em 1969, agravando a fome entre uma das populações mais pobres do mundo;no Japão, mais de 2200 pessoas morrem, contaminadas por mercúrio, lançado por uma indústria química, naBaía de Minamata (o acidente deu nome à Doença de Minamata, uma doença neurológica causada por envenenamento por mercúrio); vazamentos de óleo, de navios cargueiros, no Canal da Mancha e na Califórnia comprometeram a sobrevivência de milhares de espécies oceânicas.
Foi nesse contexto que a Suécia, pequeno país do norte europeu, localizado na Península Escandinava, fez o primeiro alerta sobre a questão ambiental. Em 1967, o governo sueco envia uma carta à ONU, chamando a atenção sobrea questão ambiental globalepedindo uma ação conjunta das nações mundiais em prol do meio ambiente.
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada com o intuito de propiciar um mundo melhor e mais equilibrado. Entretanto, a carta das Nações Unidas,que tem como princípios melhorar as condições de vida de todos os povos, promover a paz, a estabilidade, o desenvolvimento econômico e os direitos humanos, é, praticamente, omissa quanto as questões ambientais. Foia iniciativa sueca, que lançou as bases para a cooperação Internacional na área do meio ambiente.
Surpreendentemente, países opostos no cenário da Guerra Fria se colocaram favoráveis a um encontro para tratar a respeito das questões ambientais em âmbito mundial. Os Estados Unidos, a União Soviética e outras nações demonstraram “simpatia” com os princípios da carta enviada pelo governo sueco à ONU (no final, a URSS e os países do Leste europeu não compareceram, em protesto pela exclusão da participação somente da Alemanha Oriental pela ONU).
O Reino Unido e a França se mostraram reticentes a esse evento. Esses países temiam uma cobrança das antigas colônias pelos danos provocados durante a fase de ocupação e, além deles, os próprios países subdesenvolvidos temiam que os países desenvolvidos buscassem mecanismos que dificultassem o seu processo de desenvolvimento, sob o argumento dos danos ambientais que provocariam ao planeta. Não estavam de todo equivocados.
Apesar de aConferência de Estocolmo mostrar ao mundo que não existia outro laralém deste planeta, tal fato não impedia as tentativas de contenção e contestação das questões ambientais apresentadas por muitos países, por temerem perdas econômicas. Esses fatos moldaram a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, de 1972, e a gestão ambiental nos 50 anos subsequentes.
Entretanto, ideias-chave como o desenvolvimento sustentável e instituições como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) existenteshoje, são resultantesdas discussões geradas em Estocolmo.
No final do evento, as três principais decisões da conferência foram: a Declaração de Estocolmo, o Plano de Ação de Estocolmo (que engloba 109 recomendações para governos e organizações internacionais para combater a degradação ambiental) e cinco resoluções que, entre outras coisas, exigiam a proibição de testes de armas nucleares que provocassem precipitação radioativa, a criação de um banco de dados Internacional sobre o meio ambiente e a criação de um fundo para o meio ambiente.
O evento deixou um legado muito importante para o meio ambiente. Criou uma nova era de cooperação ambiental multilateral e de muitos tratados que demandam ações globais comuns a todos os países, a maior democratização dos debates ambientais ao abrir as portas para as Organizações NãoGovernamentais, que antes não tinham acesso ao sistema das Nações Unidas e, principalmente, colocar o desenvolvimento sustentável no centro do discurso ambiental.O lema da conferência de “Apenas uma Terra” tornou-se um ícone para o movimento ambientalista moderno.
É notório que não há como desenvolver sem impactar, mas há meios para minimizar tais impactos. Esse é o desafio que o homem terá que enfrentar. A humanidade terá que reduzir a pobreza e a fome, encontrando uma forma de preservar os ecossistemas.
A busca de soluções para conciliar o desenvolvimento econômico e a gestão ambiental é a tarefa mais árdua que líderes mundiais devem enfrentar. Qualquer diálogo contrário é só um indicativo de que lhes falta, no mínimo, seriedade. E, aos humanos cabe agir com responsabilidade, cuidado e como mordomos da Terra viva,se há o desejo de um futuro melhor.