O Enem está chegando. O que rever da Geografia? São tantas possibilidades: geografia física, humana ou geopolítica? Por onde começar? Deu um nó? Não sabe como desatar?
Vamos lá. Comecem pela cartografia. A orientação (já de início para não desnortear), escalas numéricas, gráficas para as distâncias calcular. As latitudes e longitudes das coordenadas geográficas permitem localizar. Entendam os fusos horários. Lembrem-se de que, quando acordo no Ocidente, no Oriente adormeço, pois para leste as horas se somam e para oeste, subtraem.
Relembrem os mapas topográficos e as suas curvas de nível representando o relevo. Quanto mais próximas, maior declividade indica, ao passo que o afastamento impõe a planura do terreno. Não esqueçam as projeções cartográficas: cilíndricas, cônicas e azimutais. Mercator, Peters e a ONU delas se utilizaram para representar o planeta e seus interesses. Apesar das permanentes distorções, elas são uma das formas de ver o mundo. Enquanto isso, aguarda-se o Brasil no topo, conforme a sua grandeza, equivalente ao seu poder e com equidistância similar às maiores potências planetárias.
Mas a geografia física não é só isso. Há 14 bilhões de anos, a explosão primordial (Big Bang) deu origem ao universo, que, como a bailarina ao dançar, movimenta as forças centrífugas e centrípetas da física, expandindo e contraindo, formando galáxias, estrelas, planetas...
O Planeta Terra é só um fragmento com a sua história dividida em eras geológicas: arqueo, protero, paleo, meso e ceno, que teimam em terminar tudo igual, pois possuem o mesmo radical: zoica, pois isso significa vida e a Terra busca a vida. Valorizem as espécies, mas, em especial, o ambiente que as permitiu estar aqui. Tudo foi feito para recebê-las. Respeite!
Lembrem-se: a Terra tem a sua crosta fragmentada impulsionada pelo pulsar das placas tectônicas. A cada movimento, afastam, colidem e deslizam gerando terremotos, vulcões e montanhas.
No meio da confusão surgiram as rochas: magmáticas, metamórficas e sedimentares, os componentes das estruturas geológicas, abrigando (ou não), no seu substrato, os recursos naturais metálicos ou fósseis. Os escudos cristalinos, as bacias sedimentares e os dobramentos modernos se espalharam pelos continentes, exibindo as suas formas planálticas, planas e montanhosas. Nesta zona superficial terrestre, há um embate poderoso das forças destruidoras para equilibrar-se com as forças criadoras internas do planeta. Caso contrário, não haveria vida e a Terra pede vida.
Tem o clima, que tanto encanta e amedronta, com seus fenômenos. Ou será o tempo? Não. O tempo é muito inconstante. Melhor a constância do clima (talvez nem tanto com o aquecimento global).
Os seus elementos são fundamentais. A temperatura que oscila com a latitude e a altitude, explicando por que há neve no Equador e trópicos; a umidade é responsável, entre outras coisas, pelas chuvas convectivas, orográficas ou frontais; e a pressão atmosférica é que define o movimento dos ventos globais, dos ventos regionais (aqueles que sopram logo ali, como as brisas e monções) ou que assoviam mais pertinho (que o digam os gaúchos e o seu vento Minuano).
Os fatores climáticos como as massas de ar, continentalidade, maritimidade e correntes marítimas influenciam e modificam os padrões climáticos. A atmosfera delgada, sempre vulnerável, não deve ser esquecida.
A água das chuvas forma os rios, lagos, lençóis subterrâneos e, na forma de vapor, se espalha pelo ar. Essa mesma água vai decompor a rocha para formar o solo e a mágica se completar. Esse solo abriga a semente que brotará e preencherá a paisagem de florestas de folhas decíduas, perenes, acículas e latifoliadas; campos de gramíneas; savanas herbáceas, arbustivas e arbóreas. A biodiversidade será definida pela disponibilidade de calor e água presentes no sistema. Não estranhem os cactos desérticos e as tundras polares.
Não omitam os rios. Minúsculos nas suas nascentes, correm impetuosos pelas encostas, sem restrições se alargam gradualmente e, malandramente, serpenteiam com seus meandros pelas planícies até desembocarem no mar, por meio de vários canais dos deltas ou o canal solitário do estuário. A sua trajetória e magia são inestimáveis.
Os oceanos são estratégicos e imperiosos. As correntes marítimas, por onde passam, deixam seus traços: as frias, como Humboldt, têm mais oxigênio e mais peixes, mas as costas banhadas são mais áridas; as quentes, como a do Golfo do México, promovem chuvas, tempestades e furacões, amenizam o clima das latitudes elevadas, favorecem a ressurgência e a piscosidade das águas.
Em alguns momentos, as temperaturas do Pacífico Sul, mais frio, sobem, de forma natural e desconhecida. É o El Niño. Como todo bom menino, suas “travessuras” provocam uma “bagunça” no clima global.
Mas a geografia não se restringe aos conhecimentos geofísicos. A geografia humana merece sua atenção, pois no último minuto da história da Terra, surge o homem, a última e a mais perfeita obra desse planeta.
Formavam grupos nômades, coletores e caçadores. Ainda primitivos, pegaram uma pedra, depois outra e bateram a primeira contra a segunda, criando outra forma. Provavelmente, assim descobriram a ousadia de agir sobre o meio ambiente e modificá-lo, continuamente, em seu próprio benefício.
Com o tempo, as mulheres domesticaram as sementes e desenvolveram a agricultura. A espécie humana tornou-se sedentária. Na Antiguidade, o campo produziu excedentes permitindo a criação das cidades. A evolução das atividades artesanais e comerciais intensificou a insana necessidade de dominar outros povos e territórios, assim avançaram além-mar. O Novo Mundo foi “desbravado”. Os resultados nefastos dessa investida perduram até hoje.
A humanidade não parou de progredir. Nasceu a era industrial, as novas fontes de energia nos motores a vapor e a combustão (movidos a carvão e petróleo, respectivamente) e, com ela, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. A população explodiu em números, exigindo, cada vez mais, a necessidade de nutrição em massa. Malthus fez projeções assombrosas.
Nesse frenesi, vieram as grandes guerras do Século XX. As fronteiras artificiais se moviam num ritmo acentuado. Novas relações geopolíticas foram instituídas. A geografia do poder se transfere da Europa para o continente americano. O mundo torna-se bipolar. Os EUA e a ex-URSS definem as relações mundiais no cenário da Guerra Fria.
O muro cai em 1989. Em 1991 a ex-URSS se desfaz. Com o colapso do regime político-econômico no Oriente, o Capitalismo atingiu sua apoteose. É o fim da história? A história se acelera. A globalização dita as normas. O rural e o urbano formam uma fusão, explorando mais recursos, consumidos em excesso e cada vez menos duráveis. O Planeta pede socorro. A humanidade pede socorro.
As tecnologias avançam em um ritmo impressionante nos “vales do silício” espalhados pelo mundo. Atendem desde o cidadão comum aos objetivos menos nobres. Armas cada vez mais poderosas são desenvolvidas consumindo mais gastos que investimentos na redução das desigualdades sociais. O combate ao terror não eliminou o terror, deu a ele novos artifícios.
Centenas de milhares de homens, mulheres e jovens saem às ruas e se levantam contra a opressão, a discriminação e as mudanças climáticas. Apelam por um mundo melhor. Buscam uma “nova ordem” mundial nessa babel tão resumidamente aqui descrita.
E, assim, encerro essa audácia geográfica. Muito não foi citado. Para isso, há livros extensos. Apenas cito alguns conceitos dessa ciência tão encantadora, destinada àqueles que aqui chegarem.
Como bem descreveu Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem“. No próximo fim de semana, tenham coragem para dar os primeiros passos do provável caminho do resto da vida de vocês! Boa sorte!