Esperar é algo que a criança aprende somente a partir dos quatro anos de idade. Antes desse prazo, nos primeiros doze meses de vida, não se vê como um ser inteiro, separada dos seus pais, então esperar gera insegurança. Até os três anos, a dificuldade de entender o ponto de vista de alguém leva à postura de impaciência comum às crianças nessa idade. Dessa forma, chorar, gritar e bater os pés tornam-se imagens comuns dos pequenos. A partir dos quatro anos, já entendem a noção de espera e podem tolerar um certo atraso, sem grandes dramas. A partir daí, ao longo da vida, vamos nos colocando em espera.
Eu carrego comigo, quase sempre, um sentimento de algo inacabado. Muitos momentos impunham um tempo de espera para ter resultados, pois não fuipaciente para terminá-los, muitas vezes por falta de estímulos.
As causas do abandono não são claras. Pode ser porque não valiam mais a pena ou porque as circunstâncias se modificaram. Aspirar a algo sem tempo de cumprimento pode gerar esse afastamento da expectativa inicial. A ausência do prazo de conclusão dilui o desejo e desvanece a ambição de implementá-lo.
Tudo tem seu tempo e hora. Quantas vezes se escuta isso! Uma frase ultrapassada nos tempos modernos, quando tudo tem que ser para ontem. Esperar já não é um verbo fácil de conjugar. Esperar implica o tempo de um desejo que pode não mais pulsar na intensidade do dia anterior. O tempo e a sua rapidez, que impressionam, fazem essa espera não ser mais justificada.
Os motivos da espera, que em algum momento fizeram sentido, porque se acreditava que valeria a pena, vão se enfraquecendo. Queremos viver agora. Queremos ir àquele lugar hoje. Amanhã, talvez esse desejo possa ser realizado num piscar de olhos, mas já não importa mais. Queremos os arrepios da pele provocados pelo roçar daqueles lábios e o toque atrevido das mãos ao longo desse dia. Faça o favor de atender. Não ponha para esperar. Nesse tempo seus lábios e suas mãos podem não mais interessar.
Não peça tempo ao outro. Mas se o fizer, que o faça com uma promessa, embasada em palavras mais fortes que todas as outras más palavras que surgirão com a tentativa de afastar a espera. A única possibilidade de se reconectar com a esperança (e a manutenção da vigília) são as lembranças, mesmo tênues de palavras e gestos. São essas memórias que irão encorajar o outro a viver na letargia da expectativa, mesmo com os infortúnios que venham a surgir.
A espera subordina o outro. O que se espera é o objeto dominador. Resta saber até que ponto cogita manter esse poder sobre você. Permanecer no estado de espera é viver na incerteza. É projetar um futuro sobre as sombras do passado. E o passado, quase sempre, deve ser mantido onde está: no passado. Quem coloca em espera manipula o tempo do outro. Mantém o outro cativo e subordinado, transformando-o em um ser impotente e sem o controle da própria vida.
Não se prenda ao tempo, quase sempre, “perdido” da espera. Mude as rotas, siga outras setas, mais livres, menos aprisionadas. Fique com o outro não porque você precisa dele, mas apenas porque o ama. Essa é a mais nobre de todas as formas de partilha de sentimentos: eu apenas amo você. É a transformação dos sentimentos em amizade sincera. Aquela que não impõe. Está lá, mesmo quando se encontra distante.
A espera impede de crescer com novos experimentos. Quem ama, não coloca o outro em estado de pausa. Não estabelece prazos. Pedir um tempo significa que essa pessoa não quer mais estar com você, mas não o(a) quer perder. É injusto pedir ao outro para esperar, pois quem o faz pensa apenas nele. Deseja que o outro o espere, enquanto organiza o que sente. Ninguém merece aguardar a indecisão alheia.
Às vezes, é necessário, apenas ir. Ir, paraconhecer outros horizontes, emocionar-se com “novas loucuras”, encontrar seu caminho. Não fique onde não há crescimento. Seja livre. A distância o fortalece e a solidão o inspire a outras ideias. Não se reprima.