Ao longo desta semana, entre os dias 02 e 03 de junho, o mundo volta-se para um dos maiores eventos ambientais: a Conferência Estocolmo+50, em comemoração aos 50 anos da primeira conferência ambiental, organizada pelo Organização da Nações Unidas (ONU), na mesma cidade que agora a sedia e com a participação do governo do Quênia, país do Leste Africano.
Todos os aparatos para o sucesso do encontro têm como meta alcançar uma Terra mais saudável, adequada ao progresso econômico, sem abdicar do progresso social, base para o bem-estar e resiliência humana.
Leia: A Conferência de Estocolmo, um novo olhar sobre o mundo
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mudanças climáticas, perda da natureza e da biodiversidade e poluição e resíduos.
Representantes de diversas partes do mundo estarão no evento com o intuito de garantir a aceleração da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de discutir a Tríplice Crise Planetária: A crise do clima expõe seus sinais repetidamente. O planeta está exposto a extremos climáticos sinalizados cotidianamente, com efeitos mais perversos entre os povos do Sul Global, mais pobres e com menos recursos para enfrentar as intempéries avassaladoras a que estão submetidos.
A África padece com secas severas e desertificação, que impedem o solo de produzir em locais onde a insegurança alimentar já é crônica; Índia e Paquistão enfrentam uma das mais severas crises de calor; Uruguai e Brasil foram palcos de eventos climáticos raros nesta época do ano, nos últimos dias, com o Ciclone Yakecan; Bangladesh, em 2021, padeceu com chuvas torrenciais, que deixaram milhões de desabrigados e centenas de mortos; a Sibéria registra temperaturas cada vez mais elevadas e típicas dos trópicos etc.
A população de 3,6 bilhões de pessoas que habitam as terras do Hemisfério Meridional é a mais vulnerável aos extremos do clima. Se uma mudança drástica não for realizada para minimizar os danos sobre um dos mais complexos sistemas naturais: a atmosfera e todos os elementos que a envolvem, isso pode resultar em um “novo normal” brutal para essa parcela da sociedade.
Com exceção da Antártida (que não possui ocupação humana permanente), as ações antrópicas alteraram 77% das terras emersas e 88% dos oceanos, com mais de 2 bilhões de hectares degradados, devido ao uso intensivo e descontrolado do solo, além de colocar mais de um milhão de espécies em risco de extinção, de acordo com os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU.
A poluição atmosférica e seus resíduos, provavelmente, são a maior ameaça à saúde pública mundial, sendo responsável pela morte prematura de mais de sete milhões de crianças, entre outros cenários, igualmente, devastadores. Estima-se que onze milhões de toneladas de resíduos plásticos sejam lançadas nos oceanos anualmente. Concomitantemente, são produzidas cinquenta milhões de toneladas de lixo eletrônico!
A humanidade esquece que no Planeta não existe fora. Tudo que é produzido permanece aqui. Tira-se do raio de visão, mas não da Terra! Há necessidade urgente de mudanças de hábitos de consumo para que o Planeta possa respirar seus minúsculos e eternos átomos em maior equilíbrio.
As alterações climáticas e a perda da biodiversidade são os dois pontos mais problemáticos da nova época geológica, sugerida pelos cientistas: o Antropoceno. Apesar de possuir elementos distintos, é quase consenso entre a comunidade científica que não podem ser solucionados isoladamente. Estão, intimamente, interligados.
As alterações climáticas agravam os riscos à biodiversidade e aos habitats naturais e manejados; ao mesmo tempo, ecossistemas naturais e manejados e a sua biodiversidade desempenham um papel fundamental nos fluxos de gases, bem como no apoio à adaptação climática, segundo o IPCC.
Assim, reduzir o aquecimento global, garantindo um clima habitável e, simultaneamente, proteger a biodiversidade são elementos que se sustentam mutuamente. A criação desse cenário em um futuro quase imediato é essencial para fornecer, de forma sustentável e equitativa, maiores benefícios para as sociedades humanas.
O devaneio do homem na lua (em 1969), com as imagens da Terra frágil e isolada no Cosmos trouxe um sentimento ,de responsabilidade maior à humanidade. Vê-la, diminuta no vazio espacial, modificou sentimentos e necessidades, talvez nunca sentidos em um coletivo global.
Ao mesmo tempo espalhavam-se os temores de um conflito nuclear entre as superpotências da Guerra Fria e acirravam as guerras que as envolviam; os teóricos ecomalthusianos difundiam o terror com a superpopulação, as tensões étnicas afro-asiáticas - marcadas por barbáries que assombravam a todos e, em muito casos, resultantes das nefastas investidas das potências europeias durante a colonização - tomavam espaço, cada vez mais abrangente, nos meios de comunicação na década de 1970, com a inovações da Terceira Fase da Revolução Industrial e potencializaram a necessidade de rever as relações homem-meio.
Celebridades, cantores assumiam um papel decisivo de influenciadores através da arte, que contestava e ampliava a ressonância das vozes que buscavam um mundo melhor. Isso implicava na luta pelos direitos humanos e pela preservação ambiental.
Foi nesse contexto que David Bowie lançou um dos seus álbuns mais icônicos “Ziggy Stardust” dias depois da Conferência de Estocolmo, em 1972. A faixa de abertura, “Five Years”, alertava, entre outras coisas, que a Terra estava mesmo morrendo. Para muitos, Bowie e a conferência, juntos, mudaram a forma de ver o mundo.
Assim, há 50 anos, o mundo se uniu para enfrentar os maiores desafios ambientais do Planeta. Desde então, muito se falou, mas nem tanto se fez. Entretanto, apesar de módicos, houve avanços para a humanidade, como a redução da rarefação da camada de ozônio, a diminuição dos custos das fontes de energia alternativas renováveis (ainda insuficientes para uma parcela expressiva da sociedade), a erradicação da produção de combustíveis como o chumbo, a maior restrição do comércio global de mercúrio, entre outros feitos.
Entretanto é emergencial alavancar, ainda mais, as estratégias de proteção ao meio ambiente, reduzir a pobreza e garantir o respeito aos direitos humanos, em escala planetária, a todos os indivíduos.
Claro que podemos ser pessimistas e acreditar que, em 1972, tudo foi uma manipulação do Ocidente rico para criar uma nova forma de submissão entre as nações, após a perda das suas colônias na África e na Ásia. Quando o Clube de Roma, o Clube dos Ricos, propõe o “desenvolvimento zero” como o meio de evitar a degradação ambiental, tal premissa pode ser interpretada como um novo mecanismo de subordinação das nações pobres aos interesses das nações poderosas.
Mas, especialmente hoje, sinto necessidade de acreditar que havia hombridade nas discussões levantadas em 1972. Somente assim, posso crer que o tema atual da conferência “Estocolmo 50: um planeta saudável para a prosperidade de todos – nossa responsabilidade, nossa oportunidade será um ponto de virada e o pouco que se fez nesses últimos 50 anos, poderá ser alterado nos 50 anos futuros. O Planeta exige isso.