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Estado de Minas ANÁLISE

Comunismo, má-fé e desinformação: a grande verdade brasileira

A montagem de falsas verdades reflete na proliferação de radicalismos na condução da sociedade brasileira na atualidade


17/10/2022 06:00

Palavras-cruzadas com a palavra Fake News
(foto: Pixabay)
Creio que todos saibam que sou professora de geografia, já algumas décadas. Meu encanto com a disciplina começou quando tive minha primeira aula, da referida disciplina, no Ensino Médio. Estávamos vivendo um momento crucial das mudanças políticas, que se refletem até o momento atual. O modelo bipolar, sustentado pelas disputas entre o capitalismo, defendido pelos Estados Unidos (EUA) e o socialismo, representado pela antiga União Soviética (URSS), sinalizavam que estava chegando ao fim.

Lembro, com nitidez, daquela tarde quente de fevereiro, quando a professora chegou e explicou, simplificadamente, os conceitos do capitalismo e do socialismo e como eram representados no mundo. Gorbachev, no poder na antiga URSS implementava as mudanças que levariam à desintegração da superpotência oriental: a Glasnost e a Perestroika. Ronald Reagan e, na sequência, George Bush (pai), do lado inverso, liderava a maior potência do Ocidente. 

No Oriente Médio, a guerra Irã-Iraque estava, ainda, em andamento. Perto dali os palestinos reagem com a Intifada à presença de Israel, nas terras por ambos disputadas. Enquanto isso, o Hamas surge, sem causar grandes temores aos judeus, como uma dissidência mais radical da Organização para Libertação da Palestina (OLP). Na Ásia Central, os soviéticos sucumbiram à resistência afegã, com o apoio dos EUA. Na África, o apartheid, o tenebroso sistema de segregação racial sul-africano está a findar e, com ele a libertação de Mandela é só uma questão de tempo (mesmo sem o apoio de líderes importantes do Ocidente, como a Dama de Ferro, Margareth Thatcher). Na América Latina, as ditaduras enfrentam seus próprios demônios e caem uma a uma. 
 

Assim, a Guerra Fria era apresentada pela professora, com uma calma que o momento não vivia. Eu escutava e me envolvia com tudo que era falado. Ali tracei parte do meu futuro. O Brasil engatinhava no piso da redemocratização. A Constituição de 1988 ocupava quase todo o espaço do noticiário. Nem entendia tudo o que era apresentado, mas tinha certeza de que era o melhor para o futuro do Brasil. 

A AIDS era o temor daqueles tempos.  Fomos surpreendidos com uma doença que amedrontava a todos e era cerceada de muitas dúvidas e preconceitos. Mas, mesmo com as limitações dos meios de comunicação, comparados com o que temos hoje, as informações de médicos, trazidos de outros locais para a pequena Tarumirim, sobre os possíveis meios da propagação da doença, chegavam até nós. 

Recebíamos conhecimento. Esclarecimentos sobre sexo e, principalmente, sobre sexo seguro eram discutidos mais livremente. Preservativos passaram a existir no nosso vocabulário (não, "camisinhas"), não compartilhar seringas, cuidados com a transfusão sanguínea, alas de hospitais destinadas a pessoas portadoras do vírus HIV...eram assuntos pesquisados e apresentados no nosso cotidiano escolar e foram derrubando as falácias e construindo ciência, enquanto despedíamos dos nossos ídolos: Lauro Corona, Cazuza, Fred Mercury, Henfil, Renato Russo, Claudia Magno, Betinho, entre tantos outros. 

Não lembro dos meus pais questionando as decisões da escola. Havia confiança.  Era saúde pública e a escola tinha um papel importante neste aspecto de orientação. Estávamos no findar dos anos de 1980. 

No mundo, a Conferência de Montreal (1987) alertava para o risco da exposição aos raios UVA e UVB, com a rarefação da camada de ozônio, presente na estratosfera: "evitar a exposição solar entre 10 e 16 horas e nos momentos recomendados, protejam-se", tornou-se um mantra. A discussão ambiental estava fervorosa e entendíamos a importância daquilo para nós e as gerações futuras. Eram os princípios da sustentabilidade. Tão simples. 

De repente, a globalização exige a abertura econômica, e o Consenso de Washington cria o novo cenário econômico brasileiro e mundial, principalmente, entre as nações subdesenvolvidas. O mercado é invadido por marcas nunca vistas, a privatização dos meios produtivos estatais, o "Estado Mínimo " é a nova ordem global. 

A terceirização dos meios produtivos reduz as rendas dos assalariados, mas preconiza a ideia de mais empregos. As classes operárias são enfraquecidas pela automação das indústrias e migração das linhas de produção para os mercados onde a mão de obra é mais barata. Socialmente, o ter ganha espaço sobre o ser.

Os princípios do capitalismo, teoricamente, foram vitoriosos. Entretanto, há de se perguntar por que ainda há tanta desigualdade e pobreza entre as nações, se esse é o melhor modelo político-econômico a ser adotado. Mas as pessoas não queriam e não querem saber as respostas, pois foi demonizado o socialismo e, por extensão, o comunismo (que na prática nunca existiu), por aqueles que detém o poder global.

Hoje, quando escuto sobre o risco do comunismo no Brasil, sinto que a ignorância prevaleceu sobre o conhecimento. E me culpo, em parte, pois como professora não deixei os conceitos tão claros entre ex-alunos (sim, eles argumentam isso!), como minha professorinha, tão querida, naquela aula de décadas atrás, conceitos que jamais foram esquecidos. 

Nunca temi essa possibilidade, até porque o comunismo, na sua plenitude, é impossível nos agrupamentos humanos (a tentativa do passado é uma demonstração disso), não porque o sistema seja ruim, mas os humanos o são, em essência, e o impediriam. 

Parem de escutar líderes religiosos mal intencionados. A Bíblia é um livro espetacular, mas foi escrito em uma determinada época, com a realidade daquele momento e deve ser interpretada como tal. Trazer o conhecimento ao pé da letra só interessa aos inescrupulosos que guiam aqueles que buscam apoio sustentado na fé e na verdade, mas que não estão encontrando os princípios defendidos por Cristo nas igrejas, apenas interpretações que alimentam ódio e desamor. O inverso do que Ele propagou. 

Desconfiem de blogueiros, quase todos financiados por grandes marcas e, portanto, reproduzem o que eles querem; repensem sobre os coaches, alguns deles montanhistas fracassados no processo de subir uma vertente no Brasil (cujo relevo é modesto em altitudes), não é o um Everest, quiçá com a capacidade de os orientar!  Questionem influencers, que baseiam conhecimento em filmes a que assistem e "bibliografias" tiradas de suas caraminholas e que nunca leram um livro sobre aquilo que vociferam como donos da verdade. 

Nunca tivemos tanto acesso à informação e a preguiça de buscar o próprio conhecimento tornam   qualquer uma marionete fácil do sistema. Leiam mais, por favor! Busquem a verdade, somente ela libertará!

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