O conceito de economias emergentes surgiu em meados da década de 1970, após o primeiro choque do petróleo (1973). Com a queda do Muro de Berlim, a desintegração da União Soviética, o fim da bipolaridade e a intensificação da globalização o termo foi popularizado. O surgimento de novas potências no Sul Global, as quais adotaram novas políticas para se inserirem no cenário globalizado que se construía, após o
término da Guerra Fria, consolidou a expressão.
Simultaneamente, as economias desenvolvidas apresentavam um crescimento mais lento, exceção aos EUA que prosperavam na onda das novas tecnologias ligadas às telecomunicações.
A emergência implica a integração de um país à economia mundializada e ao capitalismo, por meio de um forte crescimento econômico, atraindo novos investidores para esses mercados. Mas no universo dos países emergentes o social pode ser menos afetado e não resultar em melhoras significativas das condições de vida dos menos favorecidos, com risco de ampliar as disparidades entre as classes.
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O medo das vulnerabilidades e os reflexos nas relações sociaisSubmersível, inelegibilidade e as cortinas de fumaça da geopolítica globalA água e a guerraBRICS-PLUS: os desafios de um bloco que aspira crescerGeralmente, há crescimento, mas sem o desenvolvimento da sociedade, no mesmo ritmo. Nesse contexto das novas economias emergentes, o grande destaque é o BRICS, um novo ator econômico que ganha ênfase nas mídias internacionais.
O acrônimo BRICS formado, originalmente, pelo Brasil, Rússia, Índia, China e, a partir de 2011, pela África
do Sul, desponta no Século XXI como o mais promissor representante da emergência econômica atual.
Curiosamente, o termo não foi criado por nenhum dos seus integrantes. Em novembro de 2001, com os respingos do 11 de setembro e a globalização efervescente, Jim O'Neill, economista-chefe do banco norte-americano Godman Sachs, divulgou em um relatório denominado "The World Needs Better Economic BRICs", quando cita pela primeira vez os nomes dos quatro países - Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC)- com maiores possibilidades de atrair novos investidores. Foi assim que o termo foi cunhado. Ao brincar com as palavras criou um império emergente.
As grandes vantagens dessas nações são a sua população numerosa e o ritmo de produtividade. Jim O'Neill parte de um critério simples: o impacto do grande índice demográfico na esfera econômica (antes da entrada da África do Sul, o menor país em números populacionais era a Rússia com, aproximadamente, 144 milhões de habitantes) era o alicerce do maior desempenho da riqueza das nações.
Os economistas deduziam que, se esses países aumentassem sua produtividade, rapidamente se tornariam gigantes econômicos por causa do tamanho do mercado doméstico, do crescimento do comércio mundial e da globalização. Com essas credenciais , esses países, com programas econômicos sérios de médio/longo prazos desafiariam a dominação das nações ricas na esfera global.
A Europa, em especial, com seus países mais importantes ostentando uma população mais reduzida e envelhecida, enfrentaria dificuldades de garantir internamente a economia pujante do passado, abrindo espaço para as nações subdesenvolvidas industrializadas chegarem ao holofote do mercado internacional.
A esse respeito da dinâmica populacional, alguns integrantes do bloco já sentem o peso da redução demográfica. A Rússia é o caso mais sério, com a mortalidade em ascensão e a taxa de natalidade em declínio. A China já se organiza para um envelhecimento não tão tardio da sua população, mesmo tão numerosa (isso explica a flexibilização das rígidas leis de controle de natalidade dos últimos anos). O Brasil fecha o ciclo do bônus demográfico e se prepara para um número crescente de idosos nas próximas décadas, acompanhado de um declínio acentuado das taxas de fecundidade/natalidade.
O grande desempenho do bloco durante a primeira década desse século foi interrompido no Brasil e na Rússia, que apresentaram índices de crescimento decepcionantes. A China e a Índia mantiveram um ritmo muito satisfatório, reduzidos, em parte, durante a pandemia.
Mas, apesar dessa configuração, o BRICS, com 41% da população mundial, tem hoje um peso econômico maior que o G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá), os sete países mais desenvolvidos do planeta. Segundo os dados fornecidos pela Acorn Macro Consulting, um instituto de pesquisas do Reino Unido, o BRICS representa atualmente 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial
contra 30,7% do G7.
As curvas cruzaram, tornando esse grupo emergente mais poderoso economicamente que o G7. Inegavelmente, a China é a grande força e principal contribuinte que ampara a importância econômica do bloco. Com um PIB de quase 25 trilhões de dólares e reservas cambiais impressionantes, junto com a Índia são o grande destaque. As crises enfrentadas pelos russos e brasileiros reduziram a participação desses integrantes originais.
A ascensão silenciosa da coalizão BRICS representa um elemento-chave na transformação econômica, financeira e política externa. É uma mudança muito acentuada na economia global, desde 2001, com esse aumento maciço do bloco.
Este fenômeno põe em xeque a supremacia norte-americana, inabalável desde a Segunda Guerra Mundial e, evidentemente, atrairá grande resistência pelas lideranças ocidentais, que dissemina informações de cunho duvidoso para difamar os países membros, com pouco comprometimento com a verdade, embasada pela grande mídia, que corrobora a divulgação dessas ideias.
O BRICS busca uma nova redefinição do cenário geopolítico global. Para atingir esse objetivo, são realizadas conferências diplomáticas e uma cúpula anual que ocorre alternadamente em cada um dos estados membros. Este ano será entre os dias 22 a 24 de agosto, em Johanesburgo, na África do Sul.
Desde 2022, com as sanções econômicas ligadas à crise ucraniana, o interesse pelo BRICS aumentou de forma expressiva. Hoje cerca de 20 países influentes querem se juntar a ele, como Egito, Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Argentina, México e várias nações africanas.
Nesta nova etapa, o bloco, que andava meio esquecido, retorna ao tabuleiro geopolítico, com o objetivo de se firmar como protagonista no cenário global e estabelecer sua influência econômica e política contra as tradicionais lideranças, como os EUA e a União Europeia.
Para isso estão criando instituições financeiras próprias, como um novo banco de desenvolvimento, estabelecido em Xangai (decisão tomada na conferência que ocorreu em Fortaleza-Brasil, em 2014), com o intuito de desafiar o Banco Mundial (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e escapar do uso de sanções econômicas, utilizadas como armas pelos países do Ocidente.
Será fácil? Claro que não. Haverá muitos obstáculos pelo caminho a ser percorrido. Mas o mundo é dual e nada é absoluto no reino dos homens. Como observou o jornalista Georges Mack: "Não é mais o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento. É um mundo em ascensão e um mundo em descida". Isso preocupa aqueles que não querem perder o pedestal. Agora é aguardar as cenas, possivelmente
tensas, dos próximos capítulos.