Um número crescente de organizações está nomeando conselhos consultivos e existem boas razões para fazê-lo.
Seja para garantir aconselhamento especializado sobre tecnologia emergente ou avanços científicos, ou para obter informações sobre como fazer negócios em diversos mercados em mutação constante, contar com a contribuição de olhares diversos e especializados pode ser um grande diferencial para empresas que já construíram uma certa "musculatura".
Algumas empresas já iniciam o processo de melhoria de sua governança corporativa com a instalação de um conselho de administração. Outras, entretanto, fazem isso gradualmente, preferindo iniciar o processo com um conselho consultivo, não previsto no estatuto ou contrato social, não deliberativo e apenas aconselhador da gestão.
Mas o que é um conselho consultivo?
De acordo com o IBGC/Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, em seu Caderno de Boas Práticas em Governança Corporativa para Empresas de Capital Fechado, "O Conselho Consultivo muitas vezes é o primeiro passo dado por empresas fechadas para fomentar a adoção das melhores práticas de Governança Corporativa. Como regra, não delibera, mas sim aconselha e propõe diretrizes que podem ou não ser aceitas pelos sócios e administradores. Se o Conselho Consultivo, previsto e instalado conforme o Contrato/Estatuto Social, atuar de forma deliberativa, formalmente estará atuando como um Conselho de Administração, pelo qual assumirá os correspondentes deveres e responsabilidades legais."
Um conselho consultivo também pode ajudar uma empresa a alavancar seus produtos e serviços a nichos específicos de clientes, como o governo, por exemplo, ou para fornecer aconselhamento sobre relações públicas, gestão da reputação e como navegar em momentos de incertezas políticas e econômicas.
Mas cuidado. Os conselhos consultivos devem complementar e fortalecer a estrutura existente na empresa, partindo de uma estratégia clara, objetivos e diretrizes operacionais consistentes. A seleção e supervisão da administração, o monitoramento de desempenho, a aprovação de estratégias e a avaliação de riscos são assuntos reservados para a direção e conselhos de administração, cabendo, ao conselho consultivo apoiar essa governança.
Nesse sentido, os conselhos consultivos podem ser consideravelmente mais fluidos e leves em termos de processos e burocracia. Não há a necessidade de eleições, limites de mandato, comitês ou ampla publicidade de atos e remunerações. Os conselheiros consultivos são livres para concentrar suas energias em seu papel de aconselhamento stricto sensu, fornecendo experiência especializada, conhecimento e contatos não prontamente acessíveis àquela organização.
Em termos de foco, um conselho consultivo pode ser constituído com responsabilidades específicas para ajudar a empresa a buscar:
- Profissionalização
- Expansão
- Internacionalização
- Compliance
- Transparência
- Diversidade
- Crescimento Inorgânico
- Abertura de Capital
- Reestruturação Societária
- Sucessão
- Competitividade
- Inovação
Mas como isso vai ser operacionalizado e quais serão os tópicos priorizados? Depende de cada organização. Algumas empresas podem desejar/precisar de inteligência comercial, outras de inovação e tecnologia, outras de conhecimentos em relações internacionais. O alcance um conselho consultivo pode ser ilimitado, mas deve estar muito ligado a necessidades hierarquizadas da empresa que o constitui, sob pena dos resultados serem bem aquém do esperado, face à desorganização e grande amplitude de frentes de ação.
Empresas em busca de relações comerciais ou investimentos internacionais podem buscar nomear conselheiros específicos com conhecimento e network em determinados países. Em outros casos, com o em startups, o interesse principal pode ser desenvolver negócios abrindo portas e realizando apresentações e reuniões de negócio com maior valor agregado.
É evidente que há inúmeras áreas ou demandas em que especialistas externos podem aumentar o conhecimento, compreensão, habilidades e pensamento estratégico da direção, corpo técnico ou conselho de administração de uma empresa. Mas há um equilíbrio crítico a ser alcançado, em relação a experiência e habilidades, com a construção de uma relação de complementaridade com a direção, sem mascarar lacunas por ventura existentes.
Também, por outro prisma, conselhos consultivos podem ser uma maneira útil para que se desafie as suposições e dogmas até então existentes naquela organização.
Já em termos operacionais, os conselheiros consultivos devem estar comprometidos em cumprir o pactuado e ajudar a organização com o melhor de suas habilidades, participando de reuniões, tendo dedicado tempo a conhecer os materiais prévios, mantendo-se em comunicação aberta, clara e direta com a direção e outros membros do conselho, fazendo os follow ups dos pontos discutidos e apoiando os comitês, quando houver.
Um dos deveres mais sutis dos membros do conselho é a obediência. O conselho deve fazer tudo ao seu alcance para atingir as metas organizacionais, mas os membros têm a obrigação de seguir as diretrizes da sua organização.
Concluindo, um conselho consultivo pode, e deve, ser ágil, flexível e capaz de se concentrar em um conjunto restrito de questões. Uma organização pode recorrer a uma opinião ou parecer do conselho para criar, fortalecer ou desafiar um entendimento sobre qualquer número de tópicos, incluindo tecnologia, economia, política, legislação e o valor agregado advém da exposição para novos olhares e raciocínios, alargando, assim, os horizontes, melhorando a compreensão da empresa em relação a mercados, produtos, modelo de negócios e riscos.