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Estado de Minas VITALidade

As dificuldades de envelhecer no Brasil e agora mais ainda com a pandemia

Restrições impostas no combate à COVID desencadearam em muitos idosos redução da cognição, aumento da incidência de depressão, fragilidades físicas e emocionais


23/08/2021 07:44 - atualizado 13/11/2021 23:11

idoso cansado tampa o rosto com as mãos
Com a pandemia, surgiu um fardo ainda maior para os idosos (foto: Pixabay)


Em toda a história do Brasil, envelhecer é árduo, difícil e acompanhado de muitas perdas. Em qualquer faixa de escolaridade ou faixa de renda, o passar da vida exige luta constante. Em qualquer idade os mais pobres e os não brancos pagam um preço maior pelo existir, atualmente, devido à pandemia que nos assola desde dezembro de 2019, surgiu um fardo ainda maior para os idosos. E que fardo. 

No início da pandemia do Sars-cov 2, ficou muito claro que os grupos de maior susceptibilidade a adquirir a doença, suas complicações e a letalidade era o grupo de maior idade. Este dado trouxe ainda maiores dificuldades na vida dos idosos.

Além de serem obrigados a ficar isolados e convivendo o tempo todo com o risco de morrer, tiveram suas poucas atividades recreativas e lúdicas suspensas, pois pararam de receber visitas, de ir à praça dar um dedo de prosa, de frequentar suas igrejas, de fazer suas atividades de hidroginástica ou caminhadas.

Essas atividades impactam negativamente o evoluir dos anos das pessoas mais velhas, pois pode desencadear redução da cognição, aumento da incidência de depressão, fragilidades físicas e emocionais. Além disso, pode culminar em transtornos de humor, como depressão e ansiedade.

Essa faixa etária é, provavelmente, a mais atingida com as incertezas de uma pandemia que ceifou a vida de mais de 575 mil brasileiros e que, entre esses, estão antigos companheiros, amigos de jornada e entes queridos. 

De qualquer forma, envelhecer no Brasil, na grande maioria dos casos é um fardo. O Brasil é um país que envelheceu e não enriqueceu. Enquanto na Europa o processo de envelhecimento demográfico durou mais de 300 anos, o envelhecimento populacional no Brasil ocorreu em menos de meio século.

Nesta linha de raciocínio, os velhos têm de conviver com as doenças crônicas e degenerativas, porém ainda convivem com as doenças infectocontagiosas, típicas de países pobres. Além disso, vivemos em uma sociedade hedonista, com os prazeres imediatos ditando a premência de que ocorra já com muito ênfase na estética.

Assim, fica claro que o geronte precisa ter uma reserva psíquica muito saudável para suportar as perdas e a decrepitude física que o envelhecimento inexoravelmente traz. 

Cabe ressaltar, também, que envelhecer não traz somente prejuízos e dificuldades no existir. Idosos que envelhecem bem assim o fazem com dignidade e resiliência. Sabem extrair desta fase da vida as experiências acumuladas, a sabedoria amealhada, a ponderação do amadurecimento. Como é mágica a perda da urgência de que tudo se resolva no exato instante. Como é espetacular vislumbrar um idoso que, assentado na cabeceira da mesa, deslumbra-se com os seus filhos e netos. Trata-se da preservação de um pedacinho dele em cada um deles, já que parte do DNA que estes carregam foi herdada dele. É a preservação biológica da vida. É a perpetuação do seu eu. São situações que, reconhecidas, trazem extremo orgulho e alegria. Eles têm a noção de que aquelas pessoas são a sua continuação. São seus amores, suas dores, seus sorrisos e suas lágrimas, suas conquistas e suas derrotas no decorrer da vida.

Cabe aos mais jovens o reconhecimento do papel do seu genitor, seu avô, seu vizinho, seu amigo e até mesmo um desconhecido de que o peso da vida já é suficiente para eles carregarem e que devemos tentar não colocar mais fardos nesta caminhada. Facilitemos a vida dos idosos que cruzam os nossos caminhos. Sejamos carinhosos, tolerantes, pacientes com suas dificuldades e, em muitos casos, sua lentidão, sua surdez, suas limitações cognitivas. Façamos da vida dos idosos algo um pouco mais prazeroso e lúdico. Viver é mágico em qualquer tempo. Deixemos isso claro a estas pessoas.Cabe a nós ressaltar o que se mantém intacto e preservado e não ficar apontando só o que deles já está sendo tirado pelo contar das primaveras. 

Exercitemos nossa humanidade. Pensemos que nós, mais jovens hoje, seremos os idosos de amanhã. Pensemos sempre em como gostaríamos de ser tratados em um futuro breve. Cuidemos de quem nos proporcionou ser o que somos. 

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