Jornal Estado de Minas

VITALidade

Cuidando do cuidador

(Por José Milton Cardoso Jr e Juraciara Vieira Cardoso)

Como sempre a coluna vem frisando, há um aumento no número de idosos em todas as sociedades do mundo, portanto, temos que lidar com a realidade de que somos uma sociedade em processo de envelhecimento. A prática tem mostrado que os que mais ganharam tempo de vida foram os octogenários e os nonagenários, caracterizados na prática médica como grandes longevos. 



Assim, temos que lidar com a realidade que envelhecemos e que com o envelhecimento aumenta a prevalência de doenças crônicas degenerativas, tais como as cardiopatias, pneumopatias, demências, dentre outras. No Brasil, tais doenças convivem com outras doenças transmissíveis, como dengue, malária, Chagas, hanseníase e, atualmente, ainda há a COVID-19. Essas doenças, somadas à perda de força muscular, fazem com que a capacidade de se deslocar, a autonomia para execução de tarefas e a independência para tomada de decisões fiquem muito comprometidas, o que acaba exigindo que sejamos cuidados por outros seres humanos, surgindo, deste modo, a figura do cuidador. 

Cuidar é se colocar a serviço de alguém e, se possível, sem pedir nada em troca. É em razão do cuidado que nos é possível deixar a fase infantil e nos tornar adultos, pois um bebê, sem os cuidados familiares, certamente pereceria em poucas horas. A primeira fase de construção da subjetividade só nos é possível graças ao amor e aos cuidados que nossas famílias nos dispensaram na primeira infância. Apesar da grande beleza, abnegação e entrega existentes no ato de cuidar, nem sempre o caminho é apenas de flores.

Para a Medicina, cuidador é aquele que dispensa cuidados à pessoa que, devido às limitações físicas ou cognitivas, não consegue gerenciar suas atividades, tais como alimentar-se, higienizar-se, locomover-se ou vestir-se, que são consideradas atividades básicas. Quando se fala de atividades mais complexas, tais como controle financeiro, realização de compras ou autogestão, o sujeito cuidado não apresenta nenhuma ou quase nenhuma condição de exercê-las. 



No caso do idoso, notadamente aqueles que demandam cuidados, como não há no Brasil uma estrutura adequada de acolhimento, tal atividade é inteiramente exercida pelos membros da família. A prática demonstra que, em sua maioria, os cuidadores são os cônjuges ou, na ausência ou incapacidade destes, os filhos, geralmente as filhas. O que é certo é que sem o auxílio deste cuidador o idoso não sobreviveria ou sobreviveria de modo precário. 

Ser cuidador de um idoso é uma tarefa árdua. Ver aquele membro da família outrora forte e cheio de vitalidade necessitando de auxílio até para realizar as atividades mais básicas exige obstinação, disposição, paciência, imensa compaixão e, muitas vezes, toda esta abnegação é acompanhada de exaustão. Sim, precisamos admitir que o cuidador pode ficar exausto, já que para o cuidado não há hora, dia, férias ou feriados. É uma tarefa perene e diária que muitas vezes resulta na anulação da própria vida em prol do membro familiar. 

Não é raro que esse cansaço dificulte muito o exercício da atividade de cuidador. Sim, o cuidador pode estar ansioso, angustiado, cansado, melancólico e impaciente. Somos apenas humanos e, às vezes, podemos manifestar nosso exaurimento com intolerância. Infelizmente, quando isto acontece, na maioria das vezes o cuidador ainda experimenta mais um estressor: a culpa. Mesmo sem intenção de magoar, magoa e, magoando, fica muito magoado. É uma sequência muito comum. Devemos entender que isto provavelmente é uma reação ao esgotamento físico e emocional.






Todos os seres humanos precisam de cuidados. Seres humanos fragilizados exigem ainda mais cuidados e essa tarefa realmente pode ser difícil. Não é incomum que o esgotamento gere um paradoxo de sentimentos no cuidador: o cuidar por amor e agradecimento somado com o ato de cuidar quando se está cansado, ansioso e no limite. É muito importante que estes sentimentos estejam claros na mente do cuidador para que ele busque amenizar suas reações, compreender-se melhor, sentir-se menos culpado e permitir-se um descanso.

É importante que o cuidador tenha sua própria vida e realize de modo adequado seu próprio cuidado, seja ele físico ou mental. Uma saída com os amigos ou uma noite de bom sono sempre podem ajudar! Todos precisamos entender que o cuidador também precisa de descanso, lazer e vida social. O cuidador deve ter férias! A família, entendendo esta questão, deve revezar-se no compromisso do cuidado, permitindo que o cuidador principal tenha momentos exclusivamente seus. 

O cuidador precisa manter em dia seus cuidados médicos e atividades físicas. Deve buscar participar de reuniões familiares ou com amigos, e nestes momentos permitir-se ser cuidado, abrindo mão completamente da função de cuidador. Ao se cuidar o cuidador também cuida da pessoa a ser cuidada, pois a integridade dela depende também da saúde do cuidador. Cuidador, se cuide! Famílias, auxiliem seus cuidadores!

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