Não é novidade que em nossas sociedades, ocidentais e capitalistas, o valor da pessoa humana muitas vezes seja reduzido àquilo que as pessoas produzem e, não raro, também pela quantidade de capital que elas têm disponível. Quando uma sociedade tem como pilares o fazer e o produzir, aquele que não pertence mais a tal lógica acaba sendo excluído e suas conquistas minimizadas.
Leia Mais
O (ab)uso de medicamentos pela população idosaOs grupos de convivência e a qualidade de vida da pessoa idosaA importância do cuidado ao IdosoAs melhores coisas sobre envelhecerO balanço de um ano difícil: há o que comemorar?Um conselho de ano novo: não prometa nada! Apenas seja feliz
Assim, com o aumento da população idosa, surge para as sociedades um desafio, que é fazer com que nossos idosos se sintam acolhidos e instigados a permanecerem ativos em um ambiente muitas vezes hostil e avesso àquilo que eles podem e querem contribuir para o aperfeiçoamento de si mesmos e da comunidade como um todo.
Se, por um lado, precisamos que as sociedades se preparem de modo mais genuíno para o acolhimento aos nossos idosos, por outro lado, é preciso que a população idosa perceba que com o fim de suas atividades laborais não há o término de sua vida ativa - por mais que a lógica do mercado queira nos impor isto -, ao contrário, pode ser este o momento ideal para tirar do papel sonhos há muito esquecidos.
Sintomas como a depressão e a ansiedade podem surgir após a aposentadoria, pois, de uma hora para outra, todas aquelas atividades inadiáveis somem e a urgência desaparece, de modo que pode parecer ao aposentado que sua vida não tem mais propósito. É exatamente neste momento que nossos idosos precisam olhar para dentro de si, em um processo de autoconhecimento, e descobrir aquilo que ainda motiva os seus corações.
A busca por um propósito é parte da nossa existência e a idade não é fator limitante para alcançá-la. Se ao chegarmos na idade da aposentadoria tivermos dúvida sobre aquilo que ainda nos move rumo aos nossos sonhos, precisamos olhar com benevolência, sabedoria e amor para a nossa história e, por meio de um processo ativo de autoconhecimento, buscar no fundo de nossas almas nosso propósito.
O que chamamos de propósito é aquele desejo de seguirmos em frente rumo a um objetivo que nos satisfaz, tanto interna quanto externamente. É aquele salto rumo à realização de nós mesmos e daquilo que planejamos quando ainda nos dávamos o direito de sonhar. É um resgate daquilo que somos e daquilo que ainda planejamos ser.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) elegeu três pilares para um envelhecimento saudável: a saúde, a segurança e a participação. A saúde está ligada aos hábitos de vida saudáveis e à mitigação dos riscos de doenças. Já a segurança seria o acolhimento e o apoio, necessários aos nossos idosos, a fim de lhes proporcionar uma vida boa. Por fim, a participação está diretamente ligada à integração da população idosa, tanto social, quanto econômica, cultural e espiritual.
É exatamente neste terceiro pilar que está a busca de propósitos para adjetivar a existência, tão necessária para se alcançar uma vida que podemos chamar de satisfatória. Um estudo conduzido pela Universidade de Michigan realizou uma pesquisa com 6.987 idosos e concluiu que aqueles que tinham um propósito de vida viviam por mais tempo.
Se o nosso objetivo é viver mais e com mais qualidade de vida, não precisamos ter dúvidas de que nosso próximo exercício conosco deverá ser o de descobrir onde estão os nossos velhos sonhos adormecidos, as conquistas que ainda queremos alcançar e os prazeres que ainda queremos ter, sem medo, vergonha ou desculpas, pois nada deve nos separar daquilo que verdadeiramente somos e ainda podemos conquistar.
Sabe aquela viagem que ainda está no papel ou aqueles planos que sempre permaneceram adormecidos na memória? Esta é a hora de realizar! Não! Você não está velho ou cansado demais! Talvez você só esteja com medo de começar a sonhar novamente e para isto só existe uma fórmula, ela se chama coragem! Coragem de ser e de fazer aquilo que tem a potencialidade de nos tonarmos pessoas melhores para nós mesmos!