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Estado de Minas VITALidade

A vida que escolhermos viver

Quando a vida que não tivemos passa a roubar a alegria da vida que temos é preciso parar e olhar para nós e para nossa história com serenidade e complacência


31/01/2022 18:37 - atualizado 31/01/2022 18:57

Mulher de costas cabelos louros de frente para o sol
(foto: Reprodução/joiedevivre)
Às vezes, com o desenrolar dos anos, somos tomados pela estranha sensação de que gostaríamos de ter vivido outra vida, talvez mais ou menos agitada, mais ou menos compromissada, com mais ou menos amigos e amores. Quem sabe? Nunca saberemos! O que importa aqui é aquele incômodo de que a vida que vivemos não foi suficiente para nos bastar, que poderíamos ter feito diferente e, quem sabe, melhor.

Esse incômodo não é de todo ruim, ao contrário, ele pode nos impulsionar rumo a desafios que antes não tínhamos coragem de experimentar. Ele pode ser o ponto de origem de uma mudança de rumo, de um rearranjo nos planos e, quem sabe, até mesmo de construção de grandes obras. Somos humanos e, enquanto tais, fadados a sempre buscar o melhor em nós, ainda que a razão para isto seja um incômodo – e quase sempre o é!

O grande problema é quando essa sensação se torna algo que nos amargura, que nos impede de seguir adiante, que nos faz viver as fantasias da vida que não tivemos em detrimento da vida que escolhemos ter, e que tantos prazeres e alegrias poderiam ter nos proporcionado. Quando a vida que não tivemos passa a roubar a alegria da vida que temos é preciso parar e olhar para nós e para nossa história com serenidade, sabedoria e complacência.

O primeiro desafio é compreender que nossa existência é permeada de possibilidades, mas que, uma vez feita uma escolha, as demais possibilidades, pelo menos por um tempo, tendem a desaparecer, e que isto não representa uma perda, mas sim um exercício da nossa autonomia, da nossa capacidade de decidir uma solução dentre as várias que se apresentavam.

Durante nosso caminho existencial é claro que podemos ter feito escolhas erradas, mas isto não significa que toda a nossa existência tenha sido uma sequência de más escolhas, pois se olharmos com bastante delicadeza para a nossa história, certamente vamos ver muito mais escolhas acertadas que equivocadas.

E se quisermos avançar mais um pouquinho e fitar com bastante amor para a nossas vidas, certamente teremos orgulho de quem nos tornamos: e isto é o resultado das nossas boas e más escolhas, de modo que nenhuma parte da nossa história merece ser desprezada.

Outro grande desafio é aceitar que muitas vezes a vida nos impõe desafios que acabam por mudar completamente nossas rotas pré-programadas: seja uma morte na família, uma doença inesperada ou uma derrocada financeira. Tais mudanças, não raras vezes, não estão em nossas mãos, cabendo a nós apenas aceitá-las com maturidade e admitir que alguns planos precisarão ser revistos diante do imponderável. 

Por fim, talvez este sim, o maior desafio para nos apaziguar com nossas escolhas existenciais, seja renunciar a idealizações e projeções, que muitas vezes remontam à nossa infância - e que tanto pesam em nossos ombros adultos. Quando crianças somos levados a projetar uma vida perfeita, ao lado da pessoa perfeita, com o emprego e a família perfeitos, pois para as crianças não há limitação para o ato de sonhar. 

Ninguém nos avisa que a vida é permeada por desafios, contradições, perdas e, principalmente, adaptações constantes dos nossos planos existenciais primários. Vivemos em companhia de outras pessoas, que também tem lá os seus sonhos, suas projeções e idealizações, que precisam ser equacionados com os nossos.

Ao nos tornarmos adultos somos convidados a deixar nosso mundo particular e ingressar nos vários mundos das pessoas que nos cercam e isto, não é incomum, faz com que rearranjemos nossos planos iniciais. 

Nesta conciliação entre o nosso projeto de vida primário e o projeto de vida das outras pessoas é claro que vamos deixar de lado parte de algo que inicialmente nos era importante, mas em nome de algo que entendemos ser maior. Por mais que em um mundo egocêntrico isto pareça estranho, é exatamente assim que vamos renunciando às ilusões e projeções em nome de uma vida em comunhão.

O que precisamos muitas vezes não é de outra história nem de outra vida que não a nossa, mas sim compreender que dentre as várias possibilidades de escolha ou não escolha – em alguns casos – que tivemos, nós optamos em viver a vida que estamos vivendo e deixamos de lado todas as outras formas possíveis. Entretanto, nem de longe isto deve significar que escolhemos a vida errada: escolhemos a melhor vida possível dentre as várias que nos estavam disponíveis, sabendo que para isto tivemos que enfrentar uma série de desafios que, não raras vezes, acabaram por limitar nossas escolhas.

Assim, nada melhor do que lembrar da nossa história de modo afetuoso e gentil, refletindo sobre cada renúncia feita em nome de algo maior, deixando de lado projeções e ilusões – muitas vezes infantis. E se por acaso vier aquela sensação estranha de que a vida que levamos não é a que gostaríamos, que sejamos acolhedores conosco e tenhamos em mente que fizemos o melhor que poderíamos ter feito, diante das circunstâncias que nos apresentavam. 



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