Assistir ao paciente idoso é tarefa complexa e, se alguns pontos simples não forem levados em consideração pelo profissional de saúde que atende à pessoa idosa, corremos o risco de que haja uma confusão entre o que realmente é doença e o que é, de fato, processo natural de envelhecimento, tão facilmente confundidos pelos profissionais que atendem pessoas idosas.
O envelhecimento, inexoravelmente, traz diminuição de força, disposição, velocidade de reação, prejuízo nos órgãos dos sentidos, além de inúmeras outras alterações que ocorrem com o passar dos anos e que devem ser entendidos como senectude, ou seja, é o natural processo de envelhecimento bem-sucedido e não há que se patologizar o envelhecer. Porém, saber reconhecer o que é natural do envelhecimento e o que é doença exige um conhecimento adequado do profissional de saúde e uma forma diferenciada de abordar o idoso e suas queixas.
Não se tem dúvidas que o envelhecer dificulta sobremaneira o entendimento sobre as queixas apresentadas pelo idoso. Por exemplo, tomemos um idoso que se queixa de falta de ar: isto pode ocorrer, ou por baixo condicionamento físico, ou pode ser uma doença pulmonar ou até mesmo cardíaca. Assim, necessário que o profissional de saúde realmente saiba avaliar as queixas dos idosos, que geralmente são múltiplas, atingindo vários órgãos do corpo e que se sobrepõem, complicando ainda mais o diagnóstico.
Assim, os profissionais de saúde do idoso devem entender que mais importante que a codificação diagnóstica de uma doença é a realização de uma lista dos problemas apresentados pelo paciente, avaliando os itens que os incomoda e que devem ser priorizados para uma melhoria de sua qualidade de vida. O papel da lista de problemas seria o de auxiliar o profissional de saúde a organizar quais são as necessidades individuais daquele idoso e o que deve ser priorizado.
Importante lembrar que doenças comuns podem se mostrar muito mais complexas no paciente idoso, já que em razão do processo de envelhecimento há alterações no sistema ósseo, muscular, articular, nervoso, coração, vasos sanguíneos, sistema respiratório, isto só para citar alguns, além do fato de que a população idosa é extremamente heterogênea, onde encontramos muitos idosos jovens e muitos jovens velhos. O que importa na avaliação do idoso não é a sua idade cronológica e sim a idade biológica.
Para tentar mitigar estas limitações no atendimento à pessoa idosa, o profissional de saúde deve praticar uma escuta atenta, tanto para aquilo que é dito quanto para aquilo que não é dito diretamente, mas que se deixa perceber. As expressões corporais e faciais são importantes instrumentos para auxiliar na compreensão mais abrangente do processo de adoecimento do idoso.
Nunca é demais frisar que o profissional de saúde que atende aos idosos deve compreender que em suas conversas com seu paciente deve levar em consideração a dificuldade que eles têm para compreensão de termos científicos, comum a todas as pessoas não ligadas à área de saúde. Além disto, é preciso ficar atento, pois o idoso pode apresentar algum déficit cognitivo, o que faz com que o diálogo com ele tabulado deva ser conduzido por meio de expressões simples e linguagem acessível.
Importante frisar que o paciente idoso deve ser tratado com um adulto responsável por si, a menos que sua condição de saúde não o permita. Assim, o trato com o idoso deve ser respeitoso e não pode, em hipótese alguma, infantilizá-lo. Não há nada mais depreciativo para um ancião do que ser chamado de "vozinho"! Não! Ele é o senhor fulano de tal e como tal merece ser tratado.
Não se tem dúvidas sobre as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde para o atendimento satisfatório ao idoso, entretanto atender ao paciente idoso é um privilégio e traz ao profissional de saúde uma sensação de plenitude imensa com o seu ofício. Cuidar, aprender e poder compartilhar momentos de cuidado e saúde com a pessoa idosa é apaixonante, pois nos coloca para aprender com pessoas sábias, vencedoras, batalhadoras, resignadas e muitas vezes resilientes e com uma vontade de ensinar acima de qualquer medida, cabendo a nós apenas uma escuta atenta para, ao invés de sermos apenas consultados pelos idosos aprendermos também com suas imensas lições.