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Estado de Minas VITALidade

Carolina Herrera e a terceira idade: a quem pertencem nossos cabelos?

Sabe aquela frase 'não tenho mais idade para isto'? Na maioria, nada mais é do que o preconceito social e o estigma da velhice contaminando nossa existência


15/08/2022 06:00 - atualizado 15/08/2022 11:39

Carolina Herrera é uma mulher loura, de 82 anos; ela sorri para a foto
Carolina Herrera: 'O que a estilista não entendeu é que a classe e a elegância de uma pessoa não estão no seu corte de cabelo ou nas roupas que escolhe vestir, não mesmo!' (foto: Joshua LOTT/AFP)
No início desse mês, a estilista Venezuelana Carolina Herrera, de 82 anos, foi um dos assuntos mais comentados do Twitter. Ela declarou em entrevista ao jornal britânico 'Daily Mail', que apenas as mulheres sem classe mantinham seus cabelos longos após os 40 anos de idade. Não fosse suficiente, a estilista ainda decretou que minissaias, biquínis e jeans devem ser usados apenas pelos jovens. O tema, como não podia deixar de ser, viralizou e nos colocou para pensar se há uma idade para parar de fazer ou usar algo.

Sabe aquela famosa frase, “eu não tenho mais idade para isto”? Na maioria das vezes nada mais é do que o preconceito social e o estigma da velhice contaminando a nossa existência. Não são poucas as pessoas maduras que têm dentro de si a noção de que a partir de certa idade não é mais permitido determinadas coisas. E isto é verdade! Mas só é verdade em relação a algumas poucas coisas, pois nas demais, somos livres para continuar decidindo como se ainda tivéssemos vinte anos!

Por anos fomos vítimas da ditadura da moda: nos recomendaram o que vestir, como vestir, o que usar, o que parar de usar, quantos quilos nossos corpos devem ter para serem considerados atraentes, quantos centímetros devem ter as saias para não parecerem vulgar, a cor e o tamanho das unhas e dos cabelos, isto só para ficar em alguns exemplos. Mas, ainda bem e graças a informação e a um movimento lindo de auto aceitação, as pessoas não estão mais se deixando dominar pelas mãos de ferro da indústria da moda. 

Temos repetido na coluna a importância de ressaltarmos a discriminação que a população madura sofre e, na medida em que uma estilista famosa se acha no direito de decretar o que podemos ou não usar após certa idade, ela reforça padrões sociais discriminatórios em relação à velhice e ao envelhecimento, nos deixando reféns dos padrões de beleza, classe e comportamento que há muito estamos tentando nos livrar. 

As pessoas maduras de hoje não querem se prender aos estereótipos de outrora. Assim, os cabelos podem ser arrumados ou desgrenhados, as roupas podem ser curtas ou longas e os cabelos e as unhas, podem e devem ser exatamente como nosso desejo ordenar pois, acima de tudo, ao escolhermos nossas roupas e nossos complementos, não fazemos mal a ninguém, de modo que ninguém tem o direito de vir nos incomodar, ainda que sejamos adeptos da extravagância. Temos direito ao nosso próprio corpo e o adornamos como nossa imaginação determinar.

Em que pese meu respeito e admiração pelo trabalho de Carolina Herrera, ao decretar o que podemos ou não usar ou fazer, ela errou feio, pois fez coro àqueles que julgam e discriminam as pessoas maduras. Que acreditam que o mundo é apenas para os jovens e que nós, os maduros, somos um fardo social a ser suportado.

O que Carolina Herrera não entendeu é que a classe e a elegância de uma pessoa não estão no seu corte de cabelo ou nas roupas que escolhe vestir, não mesmo! A classe de uma pessoa está nos valores que ela carrega, nos gestos de bondade, na simplicidade brejeira, na delicadeza e na capacidade de se colocar de modo educado e gentil no tratamento para com os outros.

Elegância tem a ver com ter noção da dimensão do outro e respeitá-lo em sua inteireza, sem expectativas irreais. Tem a ver com não julgar as escolhas dos outros e compreender que uma pessoa, independentemente da idade, pode ter cabelo longo, usar minissaia, biquíni, jeans e tudo mais que desejar, sem que ninguém venha a lhe condenar no instável tribunal da moda.

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