O desejo pela juventude eterna não é uma novidade do século XXI, se olharmos para a história da humanidade o veremos desde tempos imemoriais. Os gregos associavam o envelhecimento ao castigo, algo parecido ao que fez o Cristianismo, ao dizer que no Paraíso éramos imortais, portanto, não envelhecíamos, e que, após desobedecermos a Deus, sofremos como castigo o envelhecimento e a morte.
Na literatura são fartos os exemplos de personagens que trocaram a própria gestão da vida em nome da juventude. Oscar Wilde nos deu um dos mais belos exemplos pelo desejo de juventude eterna – e o mal que isto pode acarretar – em seu brilhante livro O Retrato de Dorian Gray. Durante toda a narrativa o personagem é atormentado por seus fantasmas, o que o leva a atitudes ruins, todavia, seu declínio moral nunca pode ser visto em sua própria face, já que ele nunca envelhecia.
Frequentemente vemos pessoas se sentirem profundamente envaidecidas quando outras, ao fazerem uma observação sobre sua aparência, se referem ao fato delas não parecerem ter a idade que tem, como se juventude fosse um elogio e, consequentemente, as rugas fossem algo para se esconder.
Em tempos de etarismo, que é o preconceito que os mais velhos sofrem em razão de sua idade, nunca é demais lembrar que envelhecer é parte da existência e não devemos associar o envelhecimento a algo que deva ser mitigado ou disfarçado, tudo em nome da infantil ideia de juventude eterna.
Quanto mais demoramos para assumir nosso inafastável processo de envelhecimento, pior pode se tornar nossa maturidade. Se eu acredito que a beleza está na juventude e que estar jovem é um elogio, quando as inegociáveis rugas aparecerem eu certamente não terei meios internos para lidar com elas. Ao invés de marcas cunhadas pelo tempo, que representam também nossa evolução, vamos passar a velhice correndo atrás da juventude e tentando mitigar os efeitos inexoráveis do tempo.
Não queremos dizer que procedimentos estéticos devem ser evitados, nem estamos incentivando uma vida sem os cuidados de beleza, ao contrário, cada ser humano deve ser livre para escolher entre se submeter ou não a procedimentos estéticos e não há mal algum nisto. O problema é quando tais procedimentos são usados como meios de mascarar nosso horror ao fato de estarmos envelhecendo.
O que devemos é evitar a tentação de valorizarmos demais a juventude, deixando para o envelhecimento apenas adjetivos ruins. É preciso mudar o foco no processo de envelhecimento: o corpo não precisa estar jovem, sem rugas ou marcas para ser bonito, pois bonita mesmo é a alma de quem soube envelhecer mantendo-se atualizado, antenado e sempre aberto ao novo.
Hebe era a deusa da beleza dos gregos. Filha de Zeus e Hera, tinha por finalidade servir aos deuses do Olimpo a ambrosia, alimento divino que, quando dado os mortais, os fazia sentir-se como se imortais fossem. Estudiosos a consideram uma deusa menor, já que sua função era apenas a de serviçal dos deuses.
A juventude, assim como a deusa, deve servir ao ser humano apenas em seus aspectos menores, nunca alçada à categoria de valor supremo, que deve ser perseguido a qualquer custo. Para os gregos cada um de nós tem uma função específica no mundo e, para não atrapalhar a harmonia do cosmos, devemos atuar de modo a encontrar nossos talentos e, com isto, fazer nossa parte na construção do todo: e ser jovem a qualquer preço está longe de definir nossa posição na ordem das coisas.
Para os gregos, a beleza e a juventude, relacionadas ao frescor e ao vigor da vida, deveriam estar a serviço do divino – e não do sujeito que as tem. A verdadeira beleza que a juventude oferece é a beleza de coração, a pureza de propósitos, a capacidade de sempre acreditar e começar novamente. A maior tarefa de um jovem grego era tornar-se um ser humano obra de arte e ele sabia que a juventude deveria ser vista como auxiliar, nunca como protagonista, pois compreendida que toda beleza se traveste de feiura quando não reflete a beleza do coração de seu possuidor.