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Estado de Minas VITALidade

Ageísmo e mercado de trabalho

Não temos dúvida da importância da juventude para o desenvolvimento do país, mas deixar de lado a sabedoria dos mais velhos nos condena a repetir mesmos erros


16/01/2023 06:00 - atualizado 13/01/2023 11:17

Idoso conserta cerca de propriedade
(foto: Pixabay)

Muitas vezes não temos ideia do mal que fazemos aos outros aos tratá-los de modo discriminatório. A violência existente nas ações preconceituosas muitas vezes é dissimulada, dando a impressão aos mais desavisados de que se trata de uma mera brincadeira, sem qualquer mal embutido, o que nem de longe corresponde à verdade.

Estudos demonstram que pessoas que são vítimas de discriminação podem sofrer abalo na sua autoestima, piora no estado geral de saúde, isolamento social e até mesmo morte prematura. Em 2020 foi conduzido um estudo nos EUA que demonstrou que a discriminação em razão da idade custa milhares de dólares por ano ao Estado.
O aumento da longevidade fez com que o IBGE prospectasse que em 2060 teremos a maioria da população constituída por idosos. Um dado surpreendente sobre o aumento da expectativa de vida no Brasil é que o número de idosos dobrou nos últimos trinta anos e isto acarreta inúmeros desafios. Enquanto a França demorou quase cem anos para dobrar sua população idosa, o Brasil precisa organizar políticas públicas emergenciais, pois as mudanças na longevidade da população não vieram acompanhadas das mudanças sociais que seriam esperadas.

A Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (OHCHR), com o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UN DESA) e com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) emitiram um relatório no qual apresentam a discriminação por idade como um flagelo social.
Segundo o relatório, a pandemia de COVID-19 fez acentuar ainda mais a discriminação por idade, chegando até mesmo a adotar o critério cronológico para a alocação de leitos escassos. O relatório afirma que enquanto os países se recuperam dos efeitos da pandemia é preciso que voltem também os olhos para os estereótipos, preconceitos e discriminação baseados na idade, que acabam por limitar as oportunidades de assistência à saúde, o bem-estar e a dignidade das pessoas mais velhas. 

O preconceito e a discriminação em razão da idade se faz presente nos mais variados setores sociais, incluindo serviços médico-hospitalares, mídia, redes sociais e locais de trabalho. Em relação a este último, o preconceito em razão da idade começa aos 37 anos para as mulheres e aos 40 para os homens, o que parece ser uma loucura, já que em tais idades os trabalhadores costumam ser ainda bem produtivos. Uma pesquisa da InfoJobs demonstrou que 70% dos profissionais entrevistados, com idade superior a 40 anos, já havia sofrido alguma forma de preconceito em razão da idade.
A lógica que parece estar associada ao preconceito em relação à idade quando o assunto é mercado de trabalho é a da descartabilidade, na qual o sujeito e suas necessidades são desconsideradas em prol de uma maior produtividade, aqui traduzida como força de trabalho, e, muitas vezes, a mera força física, desconsiderando as capacidades adquiridas ao longo do tempo.

A discriminação no mercado de trabalho nem sempre é fácil de ser percebida pois, muitas vezes, ela acontece de forma velada, mas algumas situações podem ser indicativas de preconceito no ambiente laboral. Por exemplo, é preciso avaliar se há um padrão de contratação de pessoas jovens na empresa. Nas empresas de tecnologia isto pode ser facilmente percebido, mas não apenas nelas, já que estamos falando de um mal que atinge a sociedade como um todo. 

Outro ponto a ser considerado é analisar se há pessoas com mais de 40 anos sendo contratadas e se, uma vez contratadas, elas recebem oportunidades de promoção dentro da empresa. Há outros indicativos, tais como se a empresa é tolerante em relação a práticas discriminatórias, se há pacote de incentivos para aposentadoria antecipada ou se na empresa há uma política que reproduz a ideia de que pessoas maduras não podem se encaixar na cultura da empresa.

O preconceito é um péssimo conselheiro quando o assunto é idade, pois não temos dúvida do quanto a força da juventude é essencial para o desenvolvimento do país, no entanto, deixar de lado a sabedoria acumulada pelos mais velhos nos condenaria a sempre repetirmos os mesmos erros.

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