Se uns querem fazer procedimentos estéticos porque entendem que aquilo faz com que se sintam melhores; se outros desejam ter cuidados com o corpo; e, ainda, se outros não querem fazer nada para mitigar o sinal dos tempos, não há o menor problema nisto. O modo como encarar o envelhecimento é particular e não cabe a nós julgar aquele caminho escolhido pelos outros.
A semana que passou foi marcada pela entrega do Grammy, evento universalmente conhecido para aqueles que se dedicam à música. Deixando de lado quem ganhou e quem perdeu – e as expectativas que havia sobre uma certa brasileira -, um dos assuntos mais comentados sobre a premiação foi a aparência da cantora Madonna.
Nascida em Bay City, Michigan, nos Estados Unidos, no dia 16 de agosto de 1958, a cantora hoje tem 64 anos e apareceu na premiação com o rosto inchado, demonstrando ter se submetido a intervenções faciais que, diga-se de passagem, não agradaram os fãs. As críticas foram duras, chegando alguns a afirmar que imaginariam que a cantora seria uma voz contra o ageísmo e contra um modelo de juventude inalcançável.
Madonna é para a geração 40/50 um ícone: uma mulher liberta que, com suas letras ousadas tanto nos inspirou! Quando falar sobre empoderamento feminino ainda não estava na moda, ela, por meio da sua história de vida, nos mostrava que era possível ser uma mulher independente e dona de si. Ela era mulher ousada, mãe, cantora mundialmente famosa, compositora, produtora musical, atriz, dançarina e empresária e nos dizia o tempo todo que nós também poderíamos ser muitas e não apenas a versão que era esperada de nós.
Ela dizia a todas nós que a sexualidade nos era possível e que sentir prazer não deveria vir acompanhado de dor ou de culpa. Cantou músicas com letras picantes, tendo lançado, inclusive, um álbum denominado Erótica, que foi seguido de um livro chamado Sex, tudo no intuito de nos dizer que também podíamos fazer parte do gozo.
Isto para falar apenas de algumas das muitas facetas da Madonna que à minha geração tanto inspirou, pois ainda há outra, a defensora de minorias. Em 2013 criou um projeto denominado Art for Freedom visando estimular a liberdade de expressão para protestar contra a violação de direitos humanos ao redor do mundo. Ela sempre soube do poder e da influência de sua voz também quando falava – e não apenas quando cantava – e não se acanhou em usar ele para defender os desamparados.
E algo que todos sabem sobre Madonna: ela é linda! E deve mesmo ser complexo envelhecer em frente às câmeras quando você já foi considerada uma das mulheres mais bonitas e sexys do planeta. Em um mundo no qual a aparência muitas vezes vale mais que a essência, o envelhecimento em frente às câmeras pode representar algo insuportável. Se as mulheres comuns são constantemente cobradas pelo modo como estão envelhecendo, parece impossível imaginar o que alguém como Madonna deve sofrer para envelhecer.
Envelhecer é algo complexo e sempre defendemos nesta coluna que há muitas coisas positivas com o advento da idade. No entanto, há também um outro lado, pois, envelhecer traz muitas perdas que, se não forem processadas, podem ser fruto de profundo sofrimento. A grande verdade é que cada um reage ao envelhecimento de um modo e não há jeito certo ou errado de encarar o envelhecimento.
Se uns querem fazer procedimentos estéticos porque entendem que aquilo faz com que se sintam melhores; se outros desejam ter cuidados com o corpo; e, ainda, se outros não querem fazer nada para mitigar o sinal dos tempos, não há o menor problema nisto. O modo como encarar o envelhecimento é particular e não cabe a nós julgar aquele caminho escolhido pelos outros.
Muitas de nós passou toda a vida tentando se encaixar a falsos padrões e no momento em que havia parecido que tínhamos nos libertado as pessoas estão preocupadas com o rosto inchado da Madonna?
Sejamos gratos à Madonna dos anos 80 que libertou a todas nós dos rígidos padrões morais de uma época, à Madonna que nos empoderou e nos fez ter sonhos, desejos e aspirações próprias, mas deixemos a senhora Madonna envelhecer como ela quiser, pois apenas ela conhece a dor de ser cobrada pelo simples e natural fato de estar envelhecendo.