Quando pensamos no processo de envelhecimento, geralmente o ligamos às perdas que necessariamente acontecem no caminho. Elas de fato ocorrem e, se queremos um envelhecimento saudável, nada mais salutar do que reconhecer isto! Apesar do nosso corpo estar perdendo vitalidade à medida em que o tempo passa, nossas experiências de vida, se bem analisadas, podem nos trazer sabedoria para que possamos lidar melhor com o mundo que nos cerca.
Quando jovens, somos bombardeados por receitas e estratégias para alcançar o sucesso, o amor, a estabilidade e a alegria de viver. Todas essas receitas, se aceitas de maneira acrítica, geram ansiedade, sofrimento e decepção, já que a vida não é linear e nenhuma existência se faz por meio de receitas. A vida é complexa e quando jovens somos convidados a acreditar que, se seguirmos algumas regras, nossa vida será bem-sucedida: ainda não sabemos do peso que o imponderável tem sobre nossas existências, isso só a maturidade ensina.
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Estereótipos, preconceitos e discriminações no envelhecimentoEnvelhecendo juntos, nos tornamos amigosOs desafios do envelhecimento nos próximos anosChronos e KairósQueremos velhos no outdoorMorrer é castigo? Carinho com nossos paisA mania de controle vai cedendo espaço para uma relação mais amistosa com o mundo, na qual vamos aprendendo a conviver com a impermanência e com a instabilidade das coisas. Se o trem atrasou, não há o que ser feito. Se o carro enguiçou, o melhor é mandar ao conserto. As resoluções parecem mais simples e aquilo que antes significava uma “catástrofe” passa a ser percebido como um movimento natural das coisas: que em alguns instantes dão certo e em outros dão errado. A maturidade pode nos ensinar que tão importante quanto planejar é ter um pouco de confiança no acaso, já que a vida não acontece apenas segundo as nossas expectativas.
Com o amadurecimento aprendemos a confiar mais no universo do que na força das nossas mãos. Entendemos que nossas vidas são o resultado das boas e das más escolhas que fomos fazendo ao longo da nossa existência e que, ao lado de alegrias, conquistas e vitórias, não fossem as dores, as tristezas e as decepções que sofremos, nós nunca seríamos quem somos hoje. Aprendemos a ser gratos por quem somos, nos reconciliamos com nosso passado e vivemos sem renunciar nenhuma parte de nós em nome de agradar aos outros.
Não tem nada melhor do que amadurecer para termos uma relação mais saudável e feliz conosco. Quando jovens somos dominados pela insegurança e pelo temor de não sermos aceitos por nossos pares, com a idade nos tornamos mais amigos da gente e passamos a amar e a admirar a pessoa que nos tornamos, a ponto de deixarmos o personagem de lado em nome da nossa autenticidade. Nos reconciliamos conosco e dissipamos muitas das dúvidas que nos incomodavam. Entendemos que viver sem máscara pode ser bem mais prazeroso e mais leve do que quando acreditávamos que elas nos serviam de proteção social. É claro que tem dias ruins, mas a maioria dos dias é boa.
Aprendemos que sair, viajar, divertir-se e estar cercado de gente é bom, mas que não há nada mais extraordinário que aquela hora do dia em que os negócios terminam, os afazeres acabam e as obrigações cessam para que possamos simplesmente jantar, tomar um banho e nos deitar para descansar. A idade nos ensina a valorizar o simples, o essencial e o cotidiano, já que é isso que realmente dá significado a vida.
Como nossa relação conosco passa a ser de admiração, respeito e cuidado, o peso da opinião alheia, tão vital quando se é jovem, passa a representar apenas o que sempre foi: uma opinião. Não levamos demasiado a sério o que as outras pessoas acham de nós, pois com maturidade passamos a ter noção de quem somos de fato e o que as pessoas pensam ou falam sobre nós não mais arranha nossa percepção sobre nós mesmos. Eis a liberdade que sempre sonhamos!
Como foi dito antes, não temos dúvida que as perdas acontecem durante o envelhecimento, pois elas são resultado de um processo natural de deterioração do corpo, o qual podemos, no máximo, retardar um pouco - e desde que tenhamos em mente que não há nada mais natural do que as transformações que o passar dos tempos nos trazem. No entanto, há também um outro lado, por vezes pouco explorado por aqueles que estão, como nós, em processo em envelhecimento, que é essa suprema liberdade de ser... sem se preocupar se nos assistem ou não a dançar a música da vida!