Jornal Estado de Minas

VITALidade

O Eu te Amo mais importante



Uma curiosidade sobre o Dia dos Namorados é que, enquanto em quase todo o mundo ele é comemorado no dia 14 de fevereiro, Dia de São Valentim, que é considerado o Santo Padroeiro dos Apaixonados, no Brasil, em razão de uma estratégia de marketing da extinta Loja Exposição Clipper, que queria alavancar as vendas do mês de junho, tradicionalmente fraco no comércio, foi eleito o dia 12 de Junho, véspera de Dia de Santo Antônio, o nosso Santo Casamenteiro para comemorar o Dia dos Apaixonados.



Talvez em razão de seu surgimento como estratégia de marketing, muitos dizem que o Dia dos Namorados é um dia puramente comercial. Deixando de lado essa controvérsia, é importante lembrar que esse dia pode despertar o incômodo sentimento de solidão que nos foi introjetado pela sociedade quando não tínhamos alguém para comemorar o dia 12 de junho. Só que agora pode ser especialmente cruel, a depender do ângulo que se olha, pois já não temos todo o tempo do mundo pela frente.

A solidão provocada pelo Dia dos Namorados pode vir da constante pressão para termos alguém em nossas vidas, como se a ausência de um parceiro nos impedisse de estar bem ou completos. Isso é uma espécie de solidão imposta pela sociedade. Presos a um modelo de como as pessoas "bem-sucedidas e em processo de amadurecimento" devem ser, inclusive tendo um parceiro, somos constantemente cobrados para estarmos acompanhados, como se a opção de dedicar tempo para amar e apreciar a nós mesmos não fosse válida.

Antes de mais nada, façamos uma distinção entre solidão e solitude. Enquanto a solidão é um estado de isolamento social e emocional associado a uma experiência negativa, como tristeza, vazio ou desconexão, a solitude refere-se a uma escolha consciente de estar sozinho e buscar o isolamento voluntário. Ela está associada a experiências positivas, como autorreflexão, autoconhecimento, criatividade e renovação pessoal. Não há dúvida de que a solitude é benéfica e desejável!

Diante disso, o Mito da Completude narrado no Banquete de Platão pode nos dar uma perspectiva do amor que internamente desejamos, mas que nunca damos e que não existe no mundo real, uma vez que as relações são construídas por seres imperfeitos. De acordo com o mito, nós pertencíamos a uma raça de seres chamados Andróginos, dotados dos dois sexos e de de grande força, agilidade e completude. No entanto, devido à arrogância desses seres, eles tentaram invadir o Olimpo e foram castigados pelos deuses, que os dividiram ao meio, fazendo com que passassem o resto de suas existências procurando sua outra metade.



Assim como no mito, muitas vezes acreditamos na ideia de completude essencial e desejamos encontrar nossa "cara metade" que foi separada pelos deuses. Achamos que vamos encontrar o parceiro perfeito, alguém que se encaixe perfeitamente em nossas fissuras. Sem perceber nossas próprias imperfeições, construímos uma lista de exigências que nem nós mesmos passaríamos. 

No livro "A Arte de Amar", Erich Fromm nos ensina que é um equívoco buscar alguém que nos complete, pois o amor verdadeiro está ligado a um processo de autodesenvolvimento e autossuficiência. Precisamos compartilhar nossa plenitude, e não nossas carências, com alguém. 

Segundo Fromm, a busca pela completude em relacionamentos românticos leva à dependência emocional e insatisfação. A base para construir um relacionamento saudável está, então, no autodesenvolvimento, no desenvolvimento de uma identidade própria, na compreensão de nossos desejos e necessidades e, acima de tudo, no cultivo do amor por nós mesmos. Esse amor-próprio, longe de ser egoísmo, nos permite amar e cuidar dos outros de maneira mais saudável.



É amando e mantendo uma relação saudável e assertiva conosco que podemos alcançar o que temos de melhor e, assim, partilharmos nossa melhor versão com os outros. O Dia 12 de Junho é o Dia dos Namorados, mas pode ser também a data do eu te amo mais importante da vida e do início da construção de uma verdadeira e profunda relação de amor conosco mesmo. 

À medida que amadurecemos e nos aproximamos do que Fromm ensina, deixamos de buscar por qualquer relacionamento. Tornamo-nos criteriosos em nossas escolhas, pois aprendemos que solidão e solitude são conceitos diferentes e não permitiremos que qualquer pessoa nos prive do prazer de nossa própria companhia ou de desfrutar de momentos especiais com nossos amigos!