Há algumas semanas não se comentou outra coisa na internet que não o processo de rejuvenescimento facial pelo qual passou o ator Stênio Garcia. Ele ganhou de um programa de televisão uma mudança radical no visual. No Twitter, o ex-ator global virou meme e recebeu uma enxurrada de críticas por sua nova aparência, bem mais remoçada e alegre que na foto de comparação.
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Transumanismo: qual o nosso limite?Presente é viver no presenteO Eu te Amo mais importanteMisses da maturidadeQuem é a Elis Regina do comercial?O que é a felicidade, afinal?O que é a felicidade afinal?Ainda que a autoestima não esteja ligada diretamente à aparência, não temos dúvida de que dar uma repaginada, seja por meio de procedimentos estéticos, seja por meio de processos de emagrecimento, por exemplo, pode ser muito positivo para o sujeito.
E provavelmente foi isso o que aconteceu com o ator, que relatou que após o procedimento estava se sentindo com mais qualidade de vida. Ao se sentir mais confiante após a harmonização facial, o ator nos mostra que procedimentos estéticos podem sim impactar positivamente a qualidade de vida de uma pessoa e não deveria haver qualquer problema nisto.
Deixando de lado o debate sobre a busca de juventude eterna, que não parece ter sido o objetivo do ator, o que a situação em questão nos mostra é que o modo como a sociedade encara as intervenções estéticas femininas é muito diverso do modo como encara as masculinas. Provavelmente, se fosse uma mulher de 91 anos, como é o caso do ator, passando pelo mesmo procedimento, ela não seria vítima de tão severas críticas e tampouco viraria meme.
Os estereótipos de gênero são construções sociais profundamente enraizadas em nossa sociedade, moldando as expectativas e normas impostas a homens e mulheres. Embora tenhamos avançado em muitos aspectos na busca pela igualdade de gênero, é surpreendente como pouco progresso foi feito na alteração dessas expectativas em relação ao masculino e ao feminino.
Segundo os estereótipos do masculino e do feminino enraizados em nossas sociedades, quando uma mulher decide se submeter a procedimento estético, é comum que isto seja encarado como uma forma de cuidado pessoal, aceitação social e até mesmo de empoderamento. Muitas vezes a mulher é elogiada por sua coragem de assumir o controle de sua aparência e se sentir bem consigo mesma. Por outro lado, quando um homem decide realizar procedimentos estéticos semelhantes, frequentemente enfrenta críticas e ridicularização.
Essa disparidade reflete as expectativas sociais impostas a homens no que se refere à sua aparência: que deve ser imutável. Enquanto a feminina pode ser flexível e passível de aprimoramentos. Tais estereótipos de gênero têm raízes profundas em nossa cultura, reforçando a pressão para que os homens se enquadrem em uma imagem de virilidade, força e praticidade, sem qualquer espaço para “futilidades”.
Os estereótipos de gênero são repetidos e reforçados em nossas práticas cotidianas. Por meio dessas reafirmações as expectativas e as normas de masculinidade são constantemente reafirmadas e acabam por limitar a expressão e a liberdade dos homens. Essa rigidez na concepção do masculino contribui para a criação de uma imagem estereotipada que exclui a possibilidade do cuidado com a aparência.
A manutenção dos estereótipos, associada com uma visão limitada da situação coloca uma forte carga sobre os ombros dos homens, restringindo sua expressão e limitando suas opções para buscar qualidade de vida, que foi o que Stênio Garcia achou ter conseguido com a intervenção que sofreu. É fundamental desconstruirmos os estereótipos de gênero ligados ao feminino e ao masculino, reconhecendo que os homens também têm o direito de se cuidar, buscar melhorias estéticas e reforçar sua autoestima do melhor modo que lhes convier.