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Estado de Minas Coluna

Polêmicas e promessas não cumpridas fragilizam o ministro Paulo Guedes

Sem apoio do mercado, dos militares e dos políticos, parece ficar cada vez mais evidente que o "posto Ipiranga'' está com cada vez menos combustível na bomba


30/11/2020 04:00 - atualizado 30/11/2020 07:24

Paulo Guedes pode se transformar em uma lojinha de (in) conveniência para o presidente Bolsonaro(foto: Wikimedia Commons)
Paulo Guedes pode se transformar em uma lojinha de (in) conveniência para o presidente Bolsonaro (foto: Wikimedia Commons)

Basta uma rápida busca na internet para encontrar uma série de declarações polêmicas do Ministro da Economia. São raras as semanas em que Paulo Guedes não entra em atrito com figuras do alto escalão em Brasília.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ), costuma ser um dos alvos preferidos. Também não faltaram farpas com políticos tradicionais, ministros da ala militar e seu potencial sucessor e atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Fora da Esplanada, Guedes também se viu envolvido em assuntos pouco relacionados com as suas atribuições, como na vez em que falou sobre a primeira-dama francesa ou então ao se referir a viagens de empregadas domésticas à Disney.

 

Durante muito tempo, esse comportamento intempestivo e espontâneo era minimizado e encarado como um reflexo da sua condição de insubstituível.

No início do mandato, o então superministro chegou até a ameaçar pedir demissão se a Reforma da Previdência não alcançasse uma economia de R$ 1 trilhão.

Contudo, o “posto Ipiranga” chega ao final de seu segundo ano no governo em uma posição de extrema fragilidade. As principais agendas já vinham perdendo fôlego mesmo antes do enfrentamento da pandemia, a ponto de, nos corredores do Congresso Nacional, os parlamentares usarem como anedota as promessas de privatização em 90 dias e do envio da Reforma Tributária.

 

Como não há vácuo no poder, é claro que esse espaço de protagonismo seria preenchido por outros atores. Com a inviabilidade de privatizar as joias da coroa, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, assumiu um papel de destaque entre os investidores por perseguir uma agenda de concessões e parcerias público-privadas no nível infralegal, ou seja, sem a necessidade do aval do Congresso.

Já Campos Neto conseguiu trazer avanços para a discussão de autonomia do Banco Central e se habilita para assumir o comando da equipe econômica.

 

Enquanto isso, Bolsonaro teve uma aula prática em uma disciplina que seus antecessores no Planalto já dominavam: o aumento do dispêndio público tende – no curto prazo – a afetar positivamente a popularidade.

Os gastos extraordinários e os programas desenhados principalmente pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (PSDB/RN), trouxeram um apoio até então inédito na trajetória política de Bolsonaro.

Foi a primeira vez, desde o fim da lua de mel, que o presidente conseguiu governar com um maior número de apoiadores do que de opositores.

 

A realidade, contudo, sempre se impõe e basta olhar para os números para entender que as políticas atuais não se sustentam. A dívida bruta, soma do déficit primário e da dívida pública, deve fechar o ano em 96% do Produto Interno Bruto (PIB).

Esse montante representa um crescimento de 20,2 pontos percentuais em relação a 2019. A equipe econômica ainda projeta que a dívida seguirá crescendo gradualmente nos próximos anos, chegando a 100,8% do PIB em 2026. Apenas então passaria a seguir em trajetória decrescente, caindo para 98% do PIB em 2029.

 

Esse contexto de piora da saúde fiscal da União em paralelo às perspectivas de início de uma segunda onda da pandemia vai demandar uma capacidade ímpar de negociação.

Considerando a necessidade de um contraponto ao ímpeto gastador de parte do Poder Executivo e do Legislativo, nunca foi tão grande um Ministério da Economia com capacidade de diálogo.

Nesse ponto, antigos apoiadores de Paulo Guedes – em especial, os agentes de mercado que tinham seus escritórios na Avenida Faria Lima (reduto financeiro de São Paulo) –, começam a se manifestar explicitamente que uma saída de Guedes pode não ter um impacto tão ruim para o mercado.

 

Nos bastidores, parte desses Farialimers já falavam há tempos que Guedes se transformou no ministro-da-semana-que-vem, em alusão às promessas não-cumpridas, que sempre ficam para um futuro próximo.

Esse foi o caso das privatizações, da abertura comercial e do envio de textos de reformas ao Congresso Nacional (em especial, Tributária e Administrativa). A diferença é que agora esses agentes de mercado não parecem ter mais qualquer constrangimento em mostrar a cara quando fazem esse tipo de crítica.

 

Sem apoio do mercado, dos militares e dos políticos, parece ficar cada vez mais evidente que o “posto Ipiranga” está com cada vez menos combustível na bomba e pode se transformar em uma lojinha de (in) conveniência para o presidente Bolsonaro.

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