Jornal Estado de Minas

COLUNA

Bolsonaro perde oportunidade de se capitalizar no combate à COVID-19

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

O presidente Jair Bolsonaro perdeu a oportunidade de se capitalizar politicamente no combate à pandemia. O governador João Doria (PSDB-SP) aproveitou.

O presidente começa a segunda metade de seu mandato correndo atrás de uma imagem que sempre negou: o responsável pela cura.



Todo tipo de maluquice conspiratória da direita radical foi ecoado pelo presidente, o que não prejudicou sua imagem até o fim da primeira onda da pandemia.

Isso vem mudando, ainda nada que ameace a permanência de Bolsonaro no cargo, mas com possíveis consequências para alguns de seus ministros e até para sua viabilidade eleitoral em 2022.
 
Vem mudando porque muitos brasileiros se sentiram desamparados frente aos paulistas. A imagem de João Doria vacinando a primeira pessoa no Brasil, a enfermeira Mônica Calazans, foi considerado um marco político mesmo por opositores.

Bolsonaro sentiu o golpe e não poderia ter deixado isso mais explícito do que mandando um ministro da Saúde nitidamente nervoso e acuado para uma coletiva desastrosa.
 
O general Eduardo Pazuello permanece em situação delicada. Hoje é dado como certo que o Ministério da Saúde deve passar de vez para o Centrão, mais especificamente para a área de influência do deputado Ricardo Barros (PP-PR), na esperada reforma ministerial depois das eleições das Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.



Mas Pazuello não é o único que saiu com a credibilidade abalada pela guerra da vacina entre Doria e Bolsonaro.
 
O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por todas as arbitrariedades que já falou contra os chineses, é absolutamente incompatível com o exercício de sua função precípua: a representação perante governos estrangeiros.

Não por acaso, nas últimas semanas, várias autoridades visitaram o embaixador chinês Yang Wanming em Brasília: de Rodrigo Maia (DEM-RJ) até o governador da Bahia, Rui Costa (PT-BH).

Ainda assim, é ilusório achar que Pequim pediria a cabeça do chanceler brasileiro como foi noticiado.

Ao contrário: parece mais provável que essa informação tenha sido plantada para que Ernesto aumente seu apelo perante o eleitorado mais fiel (e radical) de Bolsonaro.
 
Ainda que Doria tenha triunfado (momentaneamente, pelo menos), que Pazuello tenha ficado com fama de inepto e Ernesto de inapto, existe pouca margem para que um processo de impeachment seja instaurado contra Bolsonaro.



Na verdade, segundo o último Barômetro do Poder, levantamento mensal da InfoMoney com diversas casas de análise política; o apoio do presidente na Câmara passou de 188 deputados em dezembro para 203 em janeiro e, no Senado, de 23 para 25 parlamentares no mesmo período.

Isso a despeito da redução da avaliação positiva do governo perante a população, que também de dezembro a janeiro oscilou negativamente de 38% para 32%, segundo a pesquisa da XP/Ipespe.
 
Importante que se explique: o Congresso Nacional só é uma caixa de ressonância do sentimento geral da população quando o clamor é muito latente, muito mais do que um panelaço isolado ou mesmo uma mobilização restrita em redes sociais.

Bolsonaro continua com o apoio da bancada conservadora no Congresso, principalmente dos evangélicos e dos ruralistas (que, aliás, detestam João Doria).

Com isso, hoje o presidente está mais próximo de ver seus aliados – Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – ganharem a presidência da Câmara e do Senado, respectivamente.




 
O mais interessante é que toda essa situação pode afetar indiretamente um terceiro ministro: Paulo Guedes. Sim, pois a cobrança sobre ele aumentará quando o peso da falta do auxílio emergencial mostrar todo seu potencial.

A necessidade de a economia andar com as próprias pernas será premente. Guedes deverá estar sob pressão mesmo que os aliados do presidente ganhem as casas legislativas, visto que nem Lira nem Pacheco são defensores históricos de redução de austeridade fiscal, menos ainda em um cenário com retomada lenta da economia e sem o auxílio.

Sendo assim, se o risco de impeachment pode não ser ainda relevante, o enfraquecimento do candidato Bolsonaro em 2022 é. Com início da segunda metade do mandato do presidente, o tic-tac começa a aumentar de volume: hoje o presidente continua competitivo na corrida eleitoral, mas seus concorrentes pelo eleitorado de classe média urbana – Doria, Luciano Huck e o ex-ministro Sergio Moro – estão na espreita.

audima