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Coluna

Forma de fazer política de Jair Bolsonaro foge da lógica tradicional

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“Assim o Lula ganha de WO”, teria desabafado Arthur Lira (PP-AL), recentemente, sobre a repercussão eleitoral das ações do governo do presidente Bolsonaro. Difícil atestar com certeza a veracidade do acontecido ou mesmo o contexto que a frase se insere, mas é possível usá-la como ponto de partida para entender as articulações dos palanques regionais na região onde o presidente tem maior rejeição, o Nordeste.





O WO é a forma reduzida de walkover, que significa, literalmente, atropelar. Nos esportes, é considerado WO quando o adversário nem aparece para a disputa. Nesse caso em questão, a disputa é eleitoral. A cerca de um ano das eleições de 2022, as forças políticas começam a se mobilizar. Nitidamente, parte dos que estão do lado de Bolsonaro – principalmente os não ideológicos, como Lira – ainda têm dificuldade para entender qual a estratégia do atual presidente.

A situação do presidente da Câmara dos Deputados é bastante exemplificativa, aliás. Deputado federal por Alagoas, Lira é adversário do grupo político do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Renan ganhou holofotes com a CPI da pandemia, se notabilizou como oposição ao presidente Bolsonaro e ainda tem o filho como governador do estado. Com isso, Lira tem poucas alternativas a não ser ter a força do governo federal ao seu lado para enfrentar o clã Calheiros turbinado, muito provavelmente, pelo apoio do ex-presidente Lula.

Situação parecida vive Ciro Nogueira (PP-PI), que foi praticamente forçado a se entrincheirar ao lado de Bolsonaro, mesmo tendo historicamente muito mais proximidade com Lula. Ciro deverá enfrentar Rafael Fonteneles (PT-PI), secretário de Fazenda do atual governador Wellington Dias (PT-PI) na disputa pelo governo do estado. Dessa forma, para Ciro faz sentido – no momento – ter o poder de manejar parte das emendas (leia-se recursos) sendo ministro da Casa Civil de Bolsonaro, já que necessariamente terá que enfrentar Lula no palanque de seu adversário.





Por sua vez, na Bahia, o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM-BA) permanece como favorito, mas terá que enfrentar Jacques Wagner (PT-BA), apoiado por Lula, e o ministro da Cidadania João Roma (Republicanos-BA), que deverá compor o palanque estadual para Bolsonaro. Como ministro que controla os programas sociais do governo, a aposta de Roma é que os recursos daí advindos sejam suficientes para deslocar o prefeito de um eventual segundo turno com Wagner.

Para não serem atropelados juntamente com o presidente, os candidatos que enfrentarão o PT precisam que Bolsonaro reforce sua presença em seus estados. Isso vem ocorrendo, tanto com a liberação de recursos, viagens para inauguração de obras e o lançamento do novo programa social. Mas, por vezes, nos bastidores mesmo os aliados parecem não entender como a poucos meses da campanha o presidente ainda não tem nem sequer um partido para disputar a eleição, só mais um dos diversos ineditismos do chefe do Executivo federal.

A forma de fazer política de Bolsonaro foge da lógica tradicional e isso não é necessariamente bom. Manter as instituições sob pressão constante é um modus operandi que desgasta todos seus aliados. Mas muito pior do que isso – pelo menos do ponto de vista eleitoral – é que a retomada da economia não seja suficiente para que o desemprego saia da casa dos 14 milhões de pessoas e que a inflação continue a castigar quem ganha menos.

Na realidade da maioria dos brasileiros, passado o pior da pandemia, conseguir emprego, pagar a conta de energia, abastecer o carro, comprar o gás de cozinha, entre outros desafios do dia a dia, serão as demandas a serem endereçadas aos candidatos. Qualquer um que não entender isso merece mesmo perder de WO.






audima