O cálculo político que unirá o Partido Social Liberal (PSL) e o Partido Democrata (DEM) só foi possível pelos riscos e oportunidades postos para cada um dos partidos. Cabe aqui uma breve avaliação dos motivos que levam à soma de 17 com 25 resultar em 40.
Começando pelo 25, número correspondente ao DEM nas urnas. O partido tem hoje cinco prefeitos de capitais, 28 deputados, seis senadores, dois governadores e ainda dois ministros. Se não é o melhor momento, também está longe de ser o pior ao longo dos 25 anos de história da sigla. O DEM, antes com a denominação de Partido da Frente Liberal (PFL), chegou a ser a principal sigla de direita após o fim da Ditadura Militar. No governo de Fernando Henrique Cardoso, o partido chegou a ter a maior bancada da Câmara dos Deputados e a presidir as duas casas do Congresso Nacional. No entanto, nas eleições de 2006 e 2008, o partido sofreu sucessivas reduções de bancada e por pouco não acabou se fundindo em 2007 com o Partido Trabalhista Brasileiro, de Roberto Jefferson. A volta por cima veio exatamente com o sentimento contra a esquerda, que levou Dilma Roussef e trouxe Jair Bolsonaro.
O 17, número que identifica o PSL nas eleições, foi o veículo de Bolsonaro para chegar à presidência. Impulsionado pela mesma força que trouxe o DEM de volta ao jogo, o partido de Luciano Bivar nunca teve expressão política relevante até a última eleição presidencial. Para ter uma ideia, o PSL elegeu apenas um deputado federal até 2018. O fenômeno Bolsonaro transformou o PSL no segundo maior partido do Brasil em número de deputados (52), além de dois senadores e dois governadores. Como Bolsonaro não obteve o controle da sigla, desfiliou-se e permanece sem partido até o momento. Para não retornar à insignificância, o presidente Luciano Bivar foi obrigado a fazer um movimento para fortalecer a posição do PSL como uma agremiação perene de espectro direitista, mesmo sem Bolsonaro.
O novo partido, chamado União Brasil e representado nas urnas pelo número 40, deverá ter sua existência confirmada nos próximos dias. As executivas nacionais de DEM e PSL já aprovaram a fusão, que deverá ser definitivamente firmada no próximo dia 6, em uma convenção conjunta. De imediato, o novo partido sairá com mais de R$ 340 milhões de fundo partidário, resultado de uma bancada de 80 deputados e oito senadores. ACM Neto tem dito que a prioridade dessa nova agremiação será o lançamento de uma candidatura própria à Presidência da República, mas tudo indica que o foco será preservar o número expressivo de parlamentares e governadores.
A aposta é que o espectro mais conservador da política brasileira precisará de um partido forte a despeito do que ocorrer com Bolsonaro na eleição presidencial. Fica nítido que o DEM entra nessa relação com o lastro de anos de identidade histórica na política brasileira e o PSL com a força do momento (como hoje tem mais bancada que o DEM, tem também maior participação no fundo partidário).
Resta ver como se comportarão políticos mais moderados do DEM, como o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. É bem provável que alguns desses políticos não queiram migrar para esse novo partido e busquem outro. O mesmo pode ocorrer com políticos que ainda estão no PSL e que têm um alinhamento maior com Bolsonaro. É bem provável que esses rumem à mesma legenda que o presidente. No caso de Pacheco, as negociações para ida ao Partido Social Democrático (PSD), de Gilberto Kassab, já estão avançadas.
Passando a régua no cálculo político, o novo partido deverá terminar o ano com menos parlamentares e o enorme fundo partidário deverá ser investido no fortalecimento da bancada federal e na capilaridade nos estados, mas não em uma terceira via na corrida presidencial. A conta pode até não ser exata, mas até que politicamente pode fazer sentido.