Jornal Estado de Minas

COLUNA

O tortuoso caminho eleitoral de Sergio Moro

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


Ainda que desponte momentaneamente como o nome mais bem colocado nas pesquisas para fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Lula, é difícil ver hoje em Sergio Moro a consistência de um candidato forte o bastante para aguentar a sanguinolência de uma campanha eleitoral e, menos ainda, para conseguir governar caso vença. Existem caminhos para construir tal consistência?

Em primeiro lugar, é indispensável para Moro aprender com o que aconteceu com Marina Silva em 2018. Pouco antes da votação do primeiro turno, no final de agosto, Marina parecia nome certo no segundo. A morte de Eduardo Campos fez com que Marina ultrapassasse Aécio Neves e empatasse com Dilma Rousseff.



O que se viu depois disso foi uma verdadeira campanha tanto do PT quanto do PSDB para uma desconstrução da candidata, com foco nas suas contradições ideológicas e programáticas. Deu certo e a terceira via ficou pelo caminho.

Marina não dispunha – como Moro ainda também não dispõe – de uma estrutura partidária suficiente para enfrentar os ataques. O seu partido, PSD, não tinha palanques regionais relevantes, nem tempo de TV. Mesmo dentro do partido, Marina não era unanimidade. O então secretário-geral do PSD na época, Carlos Siqueira, abandonou a coordenação de sua campanha dizendo: “Não participo da campanha de Marina. Ela não é do PSD.”

Com a subida nas pesquisas de Moro, não é irrelevante a probabilidade de que vire alvo tanto do PT quanto do atual presidente. Moro precisa urgentemente de alianças para poder chegar ao segundo turno, já que a estrutura do Podemos não será suficiente. Uma possibilidade seria a aliança com o recém-criado União Brasil, junção do PSL e do DEM, que poderia oferecer a força necessária para suportar a ofensiva de Lula e Bolsonaro.





Não que seja fácil mover um partido recém-criado e com caciques que concordam em quase nada se mover na mesma direção. ACM Neto, e a maior parte da ala que veio do DEM, parece mais receptível à ideia de apoiar Moro. Já Luciano Bivar, e parte dos que vieram do PSL, parecem mais resistentes. Atualmente, o único pré-candidato do União Brasil é o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta. Na semana passada, Mandetta teve que desmentir que havia desistido da corrida presidencial, mas poucos ainda acreditam em sua viabilidade.

Mesmo que Moro consiga trazer o União Brasil, reunindo forças para não “marinar”, o ex-juiz precisará construir uma imagem que abarque pautas além do combate à corrupção e uma narrativa defensável para sua nova base de apoio. 

É uma armadilha, por exemplo, tentar falar profundamente de economia e detalhar seus planos de governo agora. O que é necessário é transmitir a preocupação com o impacto da inflação, desemprego e imensa desigualdade social. Lula nunca entendeu nada de teoria econômica, mas sempre mostrou empatia pelos mais pobres e pelo achatamento da classe média. Até Bolsonaro se rendeu: hoje aposta boa parte das fichas em um programa social para reduzir sua imensa rejeição.





Em relação a narrativas, é perfeitamente viável para um bom marqueteiro suplantar as afirmações de que tenha “virado comunista” ou de que tenha “traído o capitão”, ou ainda de que “prendeu o principal adversário para poder virar ministro”. Mais difícil parece ser a tarefa de se reconciliar com a política para poder governar, caso ganhe.

Não fará isso se cercando de militares. A filiação do ex-ministro Santos Cruz ao Podemos é uma boa notícia para atrair as forças armadas, já que alguns ainda temem a reação dos quartéis caso Bolsonaro perca. Mas Moro precisará dos agentes políticos para governar: seria uma estupidez negar a política ou repetir erros de amadores no estilo “governar por bancadas temáticas”.

A escolha do vice também é estratégica. Lula busca um nome que atraia votos da centro-direita para sua candidatura, mas só faz isso porque sua base é sólida o suficiente para suportar até um Geraldo Alckmin ao seu lado. Será que valeria a pena colocar um nome de centro-esquerda na chapa de Moro para atrair votos desse espectro ideológico? Provavelmente não: o adversário do ex-juiz é Bolsonaro no primeiro turno. Talvez ceder a vaga ao União Brasil, para garantir o apoio de um partido de peso já no primeiro turno, seja mais conveniente. 

Joga a favor de Moro a confusão das prévias do PSDB, o acordo frágil que permitiu a ida de Bolsonaro para o PL e as falas tresloucadas de Lula em defesa de ditaduras. Nem por isso existe qualquer garantia de que o ex-juiz reunirá as condições políticas para ser um candidato vencedor e muito menos um presidente eficiente. Mesmo existindo caminhos, eles não deixam de ser tortuosos.





audima