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Estado de Minas COLUNA

Fracasso da campanha de desinformação contra vacina é esperança à política

Nem toda a mobilização criminosa contra a vacinação está sendo suficiente para conter a imunização no Brasil


10/01/2022 04:00 - atualizado 10/01/2022 06:58

O presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto
Disparos em massa de mensagens beneficiaram o então candidato Jair Bolsonaro antes da eleição presidencial de 2018 (foto: Evaristo Sá/AFP)

O que foi gerado de notícias falsas nas últimas semanas contra vacinação sugere que a capacidade dos exércitos digitais para disseminação das chamadas fake news (notícias falsas) está pronta para atuar também na campanha presidencial em outubro.

Foram milhares de mensagens colocando em dúvida a segurança da vacinação em crianças, criando teorias da conspiração rocambolescas e conclamando à resistência - inclusive por meio da força - contra especialistas que defendem o oposto. Muitas dessas mentiras têm circulado apenas no aplicativo de mensagens Telegram, uma parte menor chega por WhatsApp e outras ferramentas. 

Ironicamente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou na semana passada as medidas para conter as notícias falsas nas eleições de 2022. Nem de longe parecem ser suficientes frente à força que milícias digitais mostraram que ainda têm.

A criação de comissões e grupos de trabalho não funcionou na eleição passada e não funcionará agora. Na ocasião, os disparos em massa de mensagens em benefício do então candidato Jair Bolsonaro ocorreram amplamente, sob o olhar atônito das autoridades. 

O resultado desse julgamento poderia ter dado uma sinalização mais forte para os agentes políticos do que não será tolerado, mas, no final, o resultado foi apenas uma advertência do tipo "da próxima eu casso a sua chapa". Se não fosse trágico, seria cômico.

Para 2022, o TSE anunciou ações administrativas e jurídicas na tentativa de fazer frente às milícias digitais. Talvez a principal delas seja o processo de tratativa em parceria com as redes sociais para conter as notícias falsas. 

Aqui aparece mais outra coincidente ironia, que liga as fake news na vacinação e na política. Também na semana passada, Ministério Público Federal questionou o Twitter sobre a falta de uma opção aos usuários no Brasil para denunciar a desinformação sobre a pandemia da COVID-19.

O ofício enviado à plataforma de mensagens curtas, encaminhado pelo Procurador da República em São Paulo, Yuri Corrêa da Luz, afirma que em países como Estados Unidos, Coreia do Sul e Austrália os usuários já possuem essa opção. Tudo indica que, se não for obrigado, dificilmente o Twitter implementará a medida no Brasil e a razão é evidentemente financeira.

Como qualquer outra mídia, uma das formas de receita das redes sociais é o tempo que consegue manter seu usuário conectado e engajado. Quanto mais ficamos vidrados nas telas dos nossos celulares, mais fácil é nos convencer de alguma coisa.

Nada prende e engaja mais do que mensagens fantasiosas e absurdas, geralmente direcionadas a reforçar crenças que o algoritmo já aprendeu que o usurário tem. Ou seja, todas as vezes que Facebook, Instagram, Twitter e YouTube retiram do ar uma mensagem viralizada (falsa ou não) a plataforma perde dinheiro.

Mas vamos voltar ao julgamento da chapa vencedora nas eleições presidenciais de 2018. Ao proclamar o resultado, Barroso destacou que a maioria expressiva do Tribunal (6 a 1) entendeu que ocorreram condutas ilícitas relacionadas a disparos em massa e à difusão de desinformação contra os adversários.

Ocorreu algo parecido contra a vacinação, com complacência tanto das empresas quanto das autoridades.

Em comum, a divulgação de notícias falsas em 2018 agora tem a impunidade. No entanto, nem toda essa mobilização criminosa contra a vacinação está sendo suficiente para conter a imunização no Brasil.

Esse fato dá alguma esperança de que seja possível superar também a desinformação na política e fazer um julgamento adequado também em relação ao voto.

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