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Estado de Minas COLUNA

O esporte favorito do presidente Bolsonaro é criar problemas para ele

Quando o presidente busca aumentar a remuneração para uma parcela desse funcionalismo, já muito bem pago, cria um incentivo enorme para que os outros pressionem


24/01/2022 04:00 - atualizado 24/01/2022 07:03

A tentativa de aceno para a categoria que lhe é próxima acabou lhe custando desgaste com os outros servidores públicos, em especial os ligados à Receita Federal
A tentativa de aceno para a categoria que lhe é próxima acabou lhe custando desgaste com os outros servidores públicos, em especial os ligados à Receita Federal (foto: Alan Santos/PR - 29/09/2021)
O esporte preferido do presidente Bolsonaro parece realmente ser escorregar nas cascas de banana que ele mesmo atira no chão. As idas e vindas na concessão de aumento de salários aos policiais confirma o empenho do chefe do Executivo em dificultar a própria vida.

A semana passada terminou com Bolsonaro admitindo que o reajuste às polícias federais neste ano está suspenso. O presidente havia sido desaconselhado por seus aliados políticos mais experientes, como Waldemar da Costa Neto, a fazer a sinalização do aumento desde o início. O chefe do Executivo insistiu e levantou a ira dos outros servidores que ficaram de fora da festa do reajuste.

A tentativa de aceno para a categoria que lhe é próxima acabou lhe custando desgaste com os outros servidores públicos, em especial os ligados à Receita Federal, que vão continuar pressionando por algum aumento. Os policiais, beneficiários originais dessa trapalhada, sairão evidentemente frustrados com o recuo e os apoiadores políticos reforçam a impressão de que Bolsonaro continua agindo como se fosse candidato a deputado federal e não a presidente da República

Essa confusão com o reajuste dos policiais é só mais uma mostra de que essa administração não tem qualquer compromisso com a bandeira de deixar o estado brasileiro livre das distorções de carregar uma casta de privilegiados concursados federais, que ganham muito mais do que a média dos trabalhadores brasileiros.

Segundo o economista da FGV Leonardo Siqueira, no nível federal, a remuneração mensal média saiu de R$ 5 mil para R$ 9,2 mil de 1986 a 2017 (aumento de 84%). É esperado que o servidor público federal aufira ganhos mais elevados, visto que 84% dos servidores têm mais de oito anos de estudo (no setor privado esse número é de 63%). O problema é que trabalhadores com a mesma capacitação e funções semelhantes tenham ganhos tão diferentes.

Segundo dados do Banco Mundial, esse “prêmio” no Brasil é de 96%. Isso significa, hipoteticamente, que um engenheiro que atua no mercado privado provavelmente ganha pouco mais que a metade de um servidor público do Executivo Federal. Isso falando apenas dos servidores do Poder Executivo. A situação em relação ao Poder Judiciário é mais absurda ainda.

Quando o presidente busca aumentar a remuneração para uma parcela desse funcionalismo federal, já muito bem pago, cria um incentivo enorme para que os outros pressionem também por isso e a distorção entre público e privado só aumenta. Foi exatamente essa distorção que Paulo Guedes disse que combateria no início do mandato.

Não é mero acaso que a debandada na equipe econômica continua em pleno vapor. Mais três secretários e um diretor pediram exoneração dos seus cargos na semana passada. Todos ligados, direta ou indiretamente, ao planejamento e orçamento. Vale lembrar que o presidente já tinha passado boa parte dos poderes de Paulo Guedes sobre o orçamento para Ciro Nogueira, para que este possa distribuir mais livremente as emendas aos aliados em ano eleitoral.

Nesse início de semana, saberemos o que Bolsonaro decidiu sobre a nova casca de banana que jogou para si mesmo. O aumento para os servidores, se houver, precisa estar no orçamento de 2022 sancionado pelo presidente na última sexta-feira.



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