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COLUNA

O show de horrores da política brasileira nas relações exteriores

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Relações exteriores é uma matéria completamente estranha aos políticos brasileiros. Isso se deve ao fato de que temas relacionados raramente são um chamariz de votos. O resultado dessa ignorância é o show de horrores apresentado nos noticiários sobre as ações e falas de agentes públicos em relação à invasão russa na Ucrânia.





O presidente Bolsonaro, segundo noticiou o colunista do Globo Lauro Jardim, parece ter se aconselhado com Olavo de Carvalho por psicografia quando se manifestou a apoiadores no WhatsApp defendendo que somente Rússia, China e a Liga de Países Árabes podem livrar o mundo de um arranjo para colocar os progressistas europeus e americanos – que, segundo ele, são os novos comunistas – no poder no mundo todo.

É difícil saber o quanto o presidente acredita mesmo nisso, mas é certo que o deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) tinha absoluta certeza de que a guerra era só mais uma balada, na qual mulheres bonitas estariam em situação difícil o suficiente para o considerarem atraente.

Esse cidadão, um dos expoentes do Movimento Brasil Livre (MBL), foi até a fronteira do conflito na Eslováquia com a justificativa de esclarecer ao Brasil as “informações falsas” divulgadas sobre a guerra. Voltou com a carreira política destruída por causa de seus áudios vazados.





Em comum, Arthur do Val e Bolsonaro parecem viver em uma realidade paralela. É exatamente a mesma realidade na qual – segundo o ex-presidente Lula – o ditador da Nicarágua Daniel Ortega é comparável à ex-chanceler alemã Angela Merkel. Aliás, é muito interessante como a posição do Partido dos Trabalhadores e a do governo Bolsonaro se assemelham em relação à invasão Russa: ambos colocam os Estados Unidos como um dos principais responsáveis pela agressão.

No dia 25 de fevereiro, o Partido dos Trabalhadores no Senado emitiu carta assinada pelo líder da sigla na casa, senador paraense Paulo Rocha, na qual condena a política de longo prazo dos EUA de agressão à Rússia e de contínua expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em direção às fronteiras russas.

Segundo a carta, “trata-se de política belicosa, que nunca se justificou, dentro dos princípios que regem o Direito Internacional Público”. A sigla dizia ainda que essa política norte-americana era o que explicaria o conflito com a Ucrânia. Pegou mal e a nota foi retirada do ar.





Em contraste com o Brasil, temas de política externa nos Estados Unidos normalmente são centrais nas campanhas. Eleitores querem saber qual a chance de serem obrigados a irem para uma guerra em algum confim do mundo. Por isso mesmo, os políticos americanos mostram desenvoltura maior por lá. O presidente Joe Biden, por exemplo, dirigiu por muito tempo a Comissão de Relações Exteriores do Senado e teve papel importante na definição da política de Obama para o Iraque e o Afeganistão.

Joe Biden dificilmente proferiria despautérios no estilo dos políticos brasileiros, mas foi muito revelador perceber a forma como a temática externa foi tratada no seu discurso por ocasião do Estado da União na semana passada. Biden abriu falando da agressão à Ucrânia e da elevação das sanções contra a Rússia e só. O resto dos 45 minutos do discurso foi dedicado à política interna, com o foco claro de recuperar a economia americana – com um viés bem desenvolvimentista – da crise causada pela pandemia.

Demostrar solidariedade pelo povo agredido, condenar a agressão russa e, se possível, ajudar como puder os refugiados é básico. De resto, talvez seja melhor mesmo seguir o exemplo de Biden e focar na reconstrução do Brasil. Se for para passar vergonha, melhor não falar nada.