Ações que visam melhorar a percepção das classes C e D sobre a administração do presidente Bolsonaro acabaram tendo um papel fundamental para atração de deputados e senadores para a base do governo no Congresso Nacional durante a janela partidária.
Só nas últimas duas semanas já foram implementados ou anunciados o fim da bandeira vermelha de energia, antecipação do 13º dos benefícios do INSS, aumento de 5% para todo o funcionalismo federal, pagamento do vale-gás de R$ 51 e a provável correção na tabela do Imposto de Renda para quem ganha menos.
Os principais partidos de sustentação do governo – Partido Liberal (PL), Partido Progressista (PP) e Republicanos – foram os que mais receberam deputados e senadores no período da janela partidária. Poderia parecer estranho que um governo com apenas 30% de avaliação positiva tenha tamanha capacidade de atração, mas, colocado dentro do contexto das medidas implementadas, tudo começa a fazer sentido e produzir efeitos nas pesquisas também.
Todo congressista quer ser associado ao vale-gás, ainda mais agora que ficou evidente que o atual presidente terá uma campanha bastante competitiva. Ficou mais fácil a escolha entre “carregar” Bolsonaro (em especial, no Nordeste) ou abandonar o presidente e investir em uma terceira via, por exemplo. O entendimento dos parlamentares de direita e centro-direita é reforçado pela execução das emendas do orçamento secreto em ano eleitoral.
São R$ 16 bilhões gastos nos redutos eleitorais dos apoiadores do presidente. Esse dinheiro é canalizado, por exemplo, via Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Por não ser um ministério, a Codevasf pode fazer chegar os recursos de forma muito mais rápida, menos burocrática e com menos transparência. Toda essa tecnologia de uso da máquina pública é característica dos aliados do presidente.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP); o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) e o cacique Valdemar da Costa Neto (PL) conhecem como poucos as melhores formas de fazer campanha e mover a máquina pública. Essa organização do lado de Bolsonaro é novidade, que começa a contrastar com a confusão vista do lado opositor: a campanha de um Lula centralizador, que a torna lenta e perdida entre a possibilidade de trazer mais eleitores para a sua base ou continuar falando para convertidos – vide Geraldo Alckmin brandando “Lula” para sindicalistas.
Essa é questão central: mesmo os que estavam céticos quando a viabilidade política de Bolsonaro, parecem ter mudado de ideia. A diferença final não deve ser maior de cinco ou sete pontos percentuais, para qualquer dos lados. Com isso, essa janela eleitoral cristalizou que não existe qualquer espaço para a união de partidos em torno de uma terceira via.
Juntos, União Brasil, MDB, Cidadania e PSDB tinham antes da janela partidária 152 congressistas. Depois do período de troca, o grupo perdeu 32 representantes dentro do Congresso Nacional. São esses quatro partidos que demonstram alguma disposição – mas nenhum apelo popular – em construir uma chapa única, ainda com todas as dificuldades internas de cada uma dessas agremiações.
Por fim, vale uma nota sobre a inação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto às nítidas ações de campanha antecipada e abuso de poder econômico. Para além de “motociatas” com clara intenção de pedir votos, a não manifestação do TSE sobre as ações populistas do governo em ano eleitoral – vide as citadas no primeiro parágrafo mais a redução de alíquotas sobre produtos e insumos –, favorecem a ideia de que é melhor estar ao lado de Bolsonaro do que contra ele.
Poucos se surpreenderiam se ainda vier esse ano um vale-combustível ou um aumento dos pagamentos do Auxílio Brasil ou qualquer outra coisa que favoreça quem está no poder e ao lado dele.