Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Análise: o principal adversário de Bolsonaro não é Lula: é a economia

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Na última sexta-feira, em uma convenção de pastores em Goiânia, o presidente Jair Bolsonaro buscou novamente transferir a responsabilidade dos problemas da nação para outrem. Nesse caso sobrou pra Deus mesmo: "Nós sabemos que temos que fazer a nossa parte, mas deixar as coisas impossíveis nas mãos de Deus”. O que parece beirar mesmo o impossível é uma recuperação da economia robusta que possibilite uma reeleição do presidente em outubro.




 
A inflação e o desemprego não permitem que uma campanha focada em agenda de costumes seja viável. É muito mais premente a falta de condições básicas de manutenção da vida de uma família do que uma discussão distante sobre aborto (que aliás, nem é de responsabilidade do presidente determinar). Na última quarta-feira (25), a Sondagem do Consumidor, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), apontou uma queda de 3,1 pontos em maio do índice de confiança do consumidor. As pessoas não gastam porque acreditam que a situação pode piorar.
 
Inflação e desemprego são as terríveis consequências práticas de um quadro que pode ser caracterizado como estagflação. A receita de subir juros (Selic) para conter o avanço nos preços acaba atraindo o dinheiro que poderia ir para investimento direto que gera emprego. Atualmente, só Brasil e Turquia têm quadro de desemprego e taxa de juros acima dos 10%. Não por acaso, o presidente Bolsonaro admira tanto o seu colega turco Recep Erdogan.
 
A diferença é que Erdogan era favorito para eleição que ganhou no mês passado. Erdogan vai ficar – caso termine o mandato – 20 anos à frente do governo turco. Durante esse período, o presidente fez todo tipo de mudança para aumentar seu poder, reprimir a oposição e aumentar a presença da religião – no caso, o islamismo – no governo. O resultado é uma tragédia: taxa básica de juros de 14% e desemprego na casa dos 10,7%, retroalimentada pela instabilidade política. Qualquer semelhança não é mera coincidência.




 
No Brasil, começa a se formar um consenso entre os especialistas do mercado que a Selic (hoje em 12,75% a.a.) deve continuar subindo, ainda que em ritmo menor. Não se espera uma piora nos índices de desemprego, mas tampouco uma melhora que leve o índice muito abaixo dos 11% (hoje em 11,1% segundo o IBGE). A perspectiva do mercado financeiro é coerente com a Sondagem do Consumidor da FGV e com outra pesquisa que tirou o sono dos apoiadores de Bolsonaro na última semana.
 
A última pesquisa do Datafolha, divulgada na segunda-feira (28), aponta que para 75% dos brasileiros o governo do presidente Bolsonaro tem responsabilidade na alta da inflação. Nos últimos 12 meses, o índice de inflação está em 12,13%, mas considerando apenas alimentação, o índice supera os 16%. O ministro Paulo Guedes, ainda no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, assegurou que “a inflação está no pico”. Difícil saber se alguém acreditou.
 
O fato é que a mesma pesquisa do Datafolha aponta para uma maioria dos votos válidos para o ex-presidente Lula, ou seja, segundo o Datafolha, Lula venceria no primeiro turno se a eleição fosse hoje. Pouca gente que entende de política acredita que esse seja mesmo o quadro até outubro. Afinal, a campanha nem começou ainda, na qual todos os escândalos de corrupção da era petista serão devidamente rememorados pelo eleitor.

No entanto, a julgar pela situação econômica atual do país e as pesquisas de sondagem com a população e o mercado, ninguém espera uma melhora. Aí, não adianta dividir responsabilidade com governador, com a mídia, com o Supremo Tribunal Federal ou mesmo com Deus. É o presidente Bolsonaro que vai ter que demonstrar competência para lidar com esse quadro delicado e ter chance de reeleição.