Política deveria ser essencialmente um instrumento para a paz social. Se é assim, observando alguns acontecimentos recentes no Brasil e no mundo, não parece estar funcionando e o pior ainda pode estar por vir.
Na semana que passou, um extremista chamado Fernando Sabag Maciel aproximou uma arma a poucos centímetros da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, puxou o gatilho e por uma afortunada causalidade o tiro falhou. Essa foi uma quase tragédia anunciada: há dias já se viam confrontos pró e contra Kirchneristas em frente a casa de Cristina no charmoso bairro da Ricoletta, em Buenos Aires.
O Brasil também é pródigo em exemplos de falência da política. Para ficar apenas na última semana, um candidato a deputado estadual em São Paulo entrou no diretório tucano e deu tiros ao alto. O nome do indivíduo é Roque Barbiere (Avante). É um político tradicional da região de Birigüi, onde já foi vice-prefeito e está cumprindo o sétimo mandato como deputado estadual.
Ora, se um político experiente como Barbiere comete um ato de violência desses, sem repercussão alguma, é uma demonstração que a política como idealizada por Aristoteles – que deveria cuidar da felicidade coletiva na polis – talvez esteja fora de moda.
O problema é que tudo isso acontece às vésperas de uma data que pode ser definidora do futuro da democracia brasileira. O 7 de setembro é aguardado por todos que acompanham política minimamente.
A comemoração do bicentenário da independência virou motivo de apreensão. O principal ato será na praia de Copacabana no Rio de Janeiro, um reduto bolsonarista e reconhecido internacionalmente. É de se esperar imagens das ruas do bairro, bem mais estreitas que as de Brasília, lotadas de apoiadores do presidente.
Essas imagens serão amplamente utilizadas na campanha de Bolsonaro, dando a impressão que o “data povo” já escolheu seu candidato. Essa seria a lógica política, de alguém que busca ganhar as eleições nas urnas.
No entanto, conforme os acontecidos com Cristina e Barbiere demonstram, o cálculo político tem menos apelo que o fanatismo. É difícil controlar uma massa de pessoas, em especial se insufladas por um discurso violento de quem veem como seu líder.
Caso desbanque para violência, o ato de campanha que virou a comemoração do bicentenário pode ter o efeito oposto. Não servirá para reduzir sua rejeição entre os mais pobres tampouco entre o eleitorado feminino, nem mesmo para atrair os indecisos.
A alternativa seria de fato que o presidente estivesse buscando uma ruptura institucional e usasse o ato do dia 7 como estopim. Não parece ser o caso. Dessa forma, por mais paradoxal que possa parecer o maior interessado em que a comemoração transcorra com tranquilidade é o próprio Bolsonaro.
Ainda que o objetivo não seja o golpe, a presença do aparato militar, comporá um enredo que para o presidente demonstra toda sua força: “ Mundo, veja como tenho o apoio massivo das forças de segurança e do povo”
A grande questão é que a vontade da maioria do “povo” para a eleição de seu presidente se manifesta por meio das urnas (eletrônicas). Não é quem grita mais alto em manifestação que ganha eleição. Essa é a lógica política, que pessoas como Sabag e Barbiere tentaram assassinar na semana passada.
Se a política andou morrendo semana passada, seria ótimo que ela ressuscitasse no sétimo dia, de setembro.