Jornal Estado de Minas

O MST e a relação do presidente Lula com a agropecuária e o Congresso

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Fazia tempo que não se ouvia falar de coletiva de imprensa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para anunciar invasões. Pois foi exatamente o que fez a liderança do movimento na última terça-feira. Provavelmente, o impacto negativo será maior para o governo do que para os supostos grandes latifundiários combatidos pelo movimento.





A relação do governo com o setor agropecuário pouco melhorou nestes cem primeiros dias do ano. A volta do protagonismo do MST, somada às alterações na estrutura administrativa do governo federal, a proximidade com o movimento e o posicionamento contrário do novo governo à agenda legislativa do setor não dão muita esperança de melhora nessa relação.

A estrutura da administração Lula tirou competências do Ministério da Agricultura e Pecuária. O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) ficou com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Além disso, o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi para o Ministério do Meio Ambiente.

As alterações têm relação direta com o tema fundiário no Brasil e foram duramente criticadas pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), que chegou a dizer que o Ministério da Agricultura havia sido esvaziado. Além das alterações na estrutura, a presença do movimento em agenda oficiais parece legitimar parte das invasões.





João Pedro Stédile, por exemplo, estava na comitiva oficial do presidente à China. Em uma entrevista ao portal Metrópolis, o líder o movimento ressaltou que as invasões continuarão. Essa entrevista vem depois da coletiva citada no primeiro parágrafo, no qual foi anunciado o tal “abril vermelho”.

O MST nega a ligação entre suas ações e o governo Lula, mas as invasões nos 100 primeiros dias de governo superam o número total do primeiro ano de Bolsonaro no poder. As invasões contrariam o discurso de proteção da propriedade privada da campanha e, evidentemente, ensejou reação política dentro do Congresso Nacional.

O pedido de instalação da CPI do MST por enquanto dorme na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Mesmo entendendo que essa é uma carta que tende a ser usada na negociação por mais influência e espaço no governo, será difícil Lira segurar a instalação da CPI caso o prometido por Stédile se confirme.





Enquanto se discute invasão de terras, sobra pouco tempo para que outras pautas do setor voltem a tramitar no Congresso. Pelo menos três projetos de lei de interesse do setor passaram na Câmara e aguardam votação no Senado Federal: a regularização fundiária, o licenciamento ambiental e o marco legal dos pesticidas. Nos três casos, o governo tende a ser contrário à aprovação, o que aumenta ainda mais a tensão com setor.

Todos que conhecem minimamente Brasília sabem que a FPA é de longe a mais poderosa do Congresso Nacional. Oficialmente, são 347 parlamentares, sendo 300 deputados e 47 senadores. Nem todos possuem o mesmo comprometimento, mas nas pautas mais afeitas ao setor dificilmente ficam indiferentes ao posicionamento sugerido pela FPA, mas ainda quando têm um inimigo em comum.

As últimas falas do MST dão coesão para a bancada do agronegócio, que já tem tendência a fazer oposição ao governo. As mudanças na estrutura e as demonstrações públicas de proximidade de lula com a liderança do movimento causam constrangimento mesmo aos produtores que apoiaram o presidente em campanha e em nada ajudam na construção de uma base parlamentar.

Se tem alguém que deveria ter medo da volta do MST ao cenário político, esse alguém deveria ser o próprio Lula.