Jornal Estado de Minas

A Conta do Centrão pelas aprovações do primeiro semestre chegou agora

 

Era certo que a conta para o governo Lula ia chegar, mas novamente é importante ressaltar as habilidades políticas dos jogadores. A fala do presidente de que “quem discute ministro é o presidente da República” é recado claro de que ninguém tem mandato para falar em seu nome sobre o assunto. O recado veio depois de o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), afirmar que “fora a Saúde, tudo está sobre a mesa”. Porém, o jogo é delicado. A fala causou desconforto em partidos que já têm seu quinhão na Esplanada dos Ministérios.





Carlos Siqueira, presidente do PSB de Geraldo Alckmin, em entrevista para o "O Globo", se apressou em responder que “temos grandes qualidades e experiência servindo ao governo e ao Brasil, se o presidente desejar dispensar uma delas para ceder espaço para os que apoiaram Bolsonaro (...), quem perderá será nosso país”.
 
É bem provável que o PSD perca pelo menos um ministério no esforço de acomodar os partidos de centro, movimento que começou com a entrada de Celso Sabino (União-PA) no Turismo. Sabino tem mais apoio da bancada do partido na Câmara dos Deputados, além de ser muito próximo a Arthur Lira (PP-AL). Sabino também parece ter incorporado o “Centrão”.

Em entrevista na semana passada para a “Folha de S. Paulo”, Sabino disse que “hoje o centro político tem uma importância e uma relevância muito grande para qualquer governante. (...) O centro político é o pêndulo que pode ajudar o Brasil a crescer”. É verdade que ninguém governa hoje o Brasil sem essa massa amorfa de partidos. Sabendo disso, era difícil imaginar que o limite dado por Padilha – de que a saúde estaria fora da mesa – seria respeitado. E não foi.





Hoje o Ministério da Saúde tem o segundo maior orçamento da Esplanada, perde somente para a Educação. O presidente pode até não tirar a ministra Nísia Trindade do comando da pasta, mas isso não significa que os partidos de centro não terão ingerência sobre os desembolsos do ministério.

Não foi por coincidência que o governo editou, também na semana passada, três decretos para recriação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Parte do orçamento é competência do Ministério da Saúde e do Ministério das Cidades passam para lá. A fundação tem capilaridade, com presença nos estados, além da possibilidade de receber aporte de emendas dos parlamentares. Uma lógica parecida com a (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Capilaridade, orçamento e a possibilidade de virar duto de emendas são exatamente o que parlamentares precisam. A Funasa só foi recriada com essa finalidade: acomodar interesses políticos dos aliados, sem desacomodar ninguém. O mesmo não pode ser dito, por exemplo, de uma alteração no comando da Caixa Econômica Federal.





A Caixa também tem capilaridade e recursos. Hoje é presidida por uma técnica, Rita Serrano, mas a posição deve ser entregue ao Partido Progressista. Chegou-se a ventilar o nome de Gilberto Occhi, mas o desgaste de diminuir a presença feminina em posições de liderança do governo fez com que surgisse o nome da ex-vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho (PP-PI).

As negociações estão a pleno vapor, com choradeira de quem acha que vai perder ministério, criação de espaços novos a serem preenchidos e reivindicações de posições estratégicas. A conta chegou e Lula deve pagar, mas em suaves  prestações.