O suposto atraso na reforma ministerial é um recado muito claro de Lula ao mundo político: quem está no controle do tempo sou eu. Essa mensagem vinda de um político experiente, que ficou preso por 580 dias, precisa ser um ponderador nas análises que, por vezes, são feitas nos noticiários.
Durante a tramitação do arcabouço fiscal foi comum ouvir que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, estava pressionando o governo para só colocar em votação o texto depois que concessões no arranjo ministerial fossem feitas por parte do chefe do Executivo.
Não só os ajustes nas cadeiras não foram feitos como Lula ainda vetou parte do texto aprovado pelo Congresso que proibia a exclusão de despesas primárias da meta. Na prática, o veto pode dar mais espaço para gasto público. Restou a Lira resmungar que o veto teria “muitas chances” de ser derrubado pelo Congresso Nacional.
A verdade é que, enquanto a popularidade de Lula continuar em níveis razoáveis e a economia melhorando, será muito difícil para os concorrentes do poder se insurgirem. Por enquanto, ambas as premissas favorecem o presidente.
O crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2023 superou a expectativa da maioria dos analistas. Com a produção e a demanda crescendo em níveis equilibrados, a inflação permanece sob controle. Esse cenário favorece o ciclo de redução da taxa de juros iniciado na última reunião do Comitê de Política Monetária. Com a economia minimamente em ordem, a popularidade do mandatário tende a seguir o mesmo caminho.
Uma pesquisa do instituto Genial/Quaest, publicada em meados de agosto, atribui ao presidente 60% de aprovação, ante 51% em abril. A mesma pesquisa mostra que a popularidade de Lula melhorou inclusive em São Paulo – governado pelo bolsonarista semi-arrependido, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) –, onde Lula agora tem aprovação de 42% (contra 36% de abril).
As boas notícias na popularidade e na economia terminam por refletir no Congresso Nacional. Não por acaso, o Senado aprovou na última semana o Projeto de Lei que dá ao governo vitória em julgamentos entre a fazenda nacional e o contribuinte no âmbito do Carf, espécie de tribunal administrativo para matérias tributárias. Com essa conquista, o governo espera trazer mais R$ 59 bilhões aos caixas públicos. À oposição, vocalizada pelo Senador Rogério Marinho (PL-RN), restou espernear.
O momento fortalecido do governo lhe garante também uma posição com mais condições de influir na reforma tributária, que também tramita no Senado. Longe de haver consenso, a divisão de poder entre União, Estados e Municípios foi o principal ponto discutido na sessão de debates promovidas por Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na última terça-feira. O governo deixou claro que não pretende atropelar os governadores, mas considerando a força que Lula tem no Senado, tão pouco parece ser razoável esperar que os mandatários dos estados consigam barrar o andamento da reforma.
Na mitologia Grega, Cronos era o rei dos titãs e a principal divindade relacionada ao tempo. A ideia é de que quem controla o tempo detém poder difícil de contrapor. Hoje, resta pouca dúvida que este tempo político está nas mãos de Lula, mas se até Cronos em algum momento foi derrotado, é sempre bom lembrar o quanto o poder pode ser efêmero.