É bem provável que você já tenha ouvido falar do Clubhouse, uma rede social criada em abril de 2020 nos EUA e que agora começa a ter crescimento exponencial por todo o planeta. Em fevereiro, ela virou trending topic no Brasil e se iniciou uma corrida por convites. É isso mesmo, para fazer parte da plataforma você precisa ser convidado por alguém que já faz parte do clube. E neste primeiro momento o aplicativo está disponível apenas para usuários de iPhone.
A percepção de exclusividade em torno do acesso trouxe à tona o debate sobre inclusão e diversidade. E o que poderia ser uma fragilidade do Clubhouse, virou fermento para o que o aplicativo tem de melhor: propiciar conversas relevantes.
Rapidamente o time da plataforma se posicionou informando que já foi iniciado o desenvolvimento do app para Android e que a acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva também será incorporada. Além disso, deixaram bem claro que desde a origem estão muito atentos para não tolerar racismo, discurso de ódio e abusos. Este cuidado é muito bem-vindo e pode ser uma vantagem competitiva em relação às redes sociais que já conhecemos, por vezes tão exaustivas.
Depois de alguns dias explorando o Clubhouse, naturalmente surgem analogias a outras referências midiáticas que trouxeram o áudio como elemento principal da conexão entre as pessoas.
A plataforma é feita de salas temáticas criadas pelos próprios usuários. E dentro de cada sala, com capacidade para até 5000 participantes, acontecem as conversas entre os convidados (speakers), enquanto os ouvintes podem a qualquer momento levantar a mão para participar da conversa. Lembra mais uma comunidade do que uma audiência. É tudo muito fluido, autêntico e é proibida a gravação dos encontros.
Sempre ao vivo e não deixa rastros. Você pode seguir alguém que considera interessante e acompanhar futuras conversas, mas não existem playlists nem timelines com o histórico do conteúdo para assistir depois.
A instantaneidade é uma das características mais interessantes do Clubhouse. Cada pessoa constrói sua relevância pela contribuição que traz para as conversas em tempo real, sem o verniz imagético das outras plataformas. E isso exige tempo e dedicação.
Não há como terceirizar a presença para um time de social media ou produzir previamente os conteúdos para alimentar a rede depois. E essa identidade construída pela fala autêntica e pessoal traz um outro benefício coletivo: menor probabilidade de existência de bots e perfis falsos, prática tão recorrente nas outras redes.
Um ponto estimulante da centralidade do conteúdo em áudio é redução do atrito para participar de uma conversa. Ninguém precisa se preocupar com a roupa, penteado, maquiagem, cenário ou iluminação.
Em meio a artistas, gurus digitais, jornalistas e figuras comuns que habitam as salas do ClubHouse em sua primeira onda, identificamos um perfil extremamente relevante para a fluência das conversas: o moderador. Os debates mais proveitosos têm acontecido quando há alguém dedicado a articular o espaço de fala, conectando ideias e pessoas com diferentes perspectivas.
Em uma sala sobre marketing, com centenas de participantes, o fundador de uma foodtech que produz carnes à base de plantas fazia uma envolvente apresentação sobre seu negócio. Atento, o moderador percebeu a entrada de um executivo de uma famosa rede de fast food como ouvinte e rapidamente já o convidou para participar da conversa, enriquecendo bastante a discussão sobre o futuro da alimentação.
Um encontro improvável e que dificilmente aconteceria em um evento tradicional. Viva a serendipidade da plataforma e a astúcia do moderador.
Nem tudo é música para nossos ouvidos no Clubhouse . Há quem ignore que as salas são ambientes de conversa e entre em uma jornada egóica de autopromoção, perdendo completamente o senso de diálogo. Felizmente são minoria e costumam se aglutinar em salas com nomes pretensiosos. Depois de alguns dias navegando pela plataforma, é possível identificar este comportamento e se distanciar. Ainda assim, a rede é um ambiente propício para networking a partir de afinidade de interesses.
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A aura do radioamador, com uma pitada de disque-amizade e a contemporaneidade dos podcasts
Depois de alguns dias explorando o Clubhouse, naturalmente surgem analogias a outras referências midiáticas que trouxeram o áudio como elemento principal da conexão entre as pessoas.
A plataforma é feita de salas temáticas criadas pelos próprios usuários. E dentro de cada sala, com capacidade para até 5000 participantes, acontecem as conversas entre os convidados (speakers), enquanto os ouvintes podem a qualquer momento levantar a mão para participar da conversa. Lembra mais uma comunidade do que uma audiência. É tudo muito fluido, autêntico e é proibida a gravação dos encontros.
Sempre ao vivo e não deixa rastros. Você pode seguir alguém que considera interessante e acompanhar futuras conversas, mas não existem playlists nem timelines com o histórico do conteúdo para assistir depois.
Quem sabe fala ao vivo, sem filtro nem edição
A instantaneidade é uma das características mais interessantes do Clubhouse. Cada pessoa constrói sua relevância pela contribuição que traz para as conversas em tempo real, sem o verniz imagético das outras plataformas. E isso exige tempo e dedicação.
Não há como terceirizar a presença para um time de social media ou produzir previamente os conteúdos para alimentar a rede depois. E essa identidade construída pela fala autêntica e pessoal traz um outro benefício coletivo: menor probabilidade de existência de bots e perfis falsos, prática tão recorrente nas outras redes.
Um ponto estimulante da centralidade do conteúdo em áudio é redução do atrito para participar de uma conversa. Ninguém precisa se preocupar com a roupa, penteado, maquiagem, cenário ou iluminação.
Surge um novo tipo de influenciador
Em meio a artistas, gurus digitais, jornalistas e figuras comuns que habitam as salas do ClubHouse em sua primeira onda, identificamos um perfil extremamente relevante para a fluência das conversas: o moderador. Os debates mais proveitosos têm acontecido quando há alguém dedicado a articular o espaço de fala, conectando ideias e pessoas com diferentes perspectivas.
Em uma sala sobre marketing, com centenas de participantes, o fundador de uma foodtech que produz carnes à base de plantas fazia uma envolvente apresentação sobre seu negócio. Atento, o moderador percebeu a entrada de um executivo de uma famosa rede de fast food como ouvinte e rapidamente já o convidou para participar da conversa, enriquecendo bastante a discussão sobre o futuro da alimentação.
Um encontro improvável e que dificilmente aconteceria em um evento tradicional. Viva a serendipidade da plataforma e a astúcia do moderador.
Mais diálogo e menos autopromoção, por favor
Nem tudo é música para nossos ouvidos no Clubhouse . Há quem ignore que as salas são ambientes de conversa e entre em uma jornada egóica de autopromoção, perdendo completamente o senso de diálogo. Felizmente são minoria e costumam se aglutinar em salas com nomes pretensiosos. Depois de alguns dias navegando pela plataforma, é possível identificar este comportamento e se distanciar. Ainda assim, a rede é um ambiente propício para networking a partir de afinidade de interesses.
O que vem por aí?
O estágio atual do Clubhouse, ainda com cara de laboratório, tem sido uma oportunidade para que as pessoas e também as empresas identifiquem possibilidades futuras de interação.
Agendadas como eventos, as salas recorrentes brasileiras já estão se tornando frequentes na plataforma. Isso confirma que tem muita gente boa dedicando tempo e energia para conquistar autoridade e ampliar a base de seguidores.
Nas últimas semanas, várias marcas começaram a promover encontros para debater sobre temáticas específicas de interesse de seus públicos.
No Brasil, a grande expectativa é pela abertura da plataforma para dispositivos Android, que representam 90% dos celulares vendidos no país. Além do crescimento do número de usuários, veremos mais diversidade e caldo cultural para enriquecer as conversas e, até mesmo, inovação nas dinâmicas de uso das salas.
Pra quem for ingressar agora no Clubhouse, um lembrete: há muitas salas simultâneas e, em algum momento, você vai se deparar com uma conversa desinteressante. Esta será a hora de recorrer ao botão leave quietly – em bom português, uma discreta saída à francesa em sua versão digital.