Jornal Estado de Minas

TECNOLOGIA

2036 é logo ali. Você já parou para pensar (e agir) sobre o futuro hoje?



Sempre gostei de assistir a filmes que acontecem no futuro. Isso me faz prospectar sobre as tecnologias presentes na história, sua viabilidade e os impactos que teriam no mundo. E também imaginar quem seriam os profissionais que apoiam tecnicamente os roteiristas na criação de um enredo verossímil. 





Amy Webb, fundadora do Future Today Institute é uma dessas pessoas. Então costumo acompanhar bem de perto o conhecimento que ela produz. Semana passada, no evento SxSW, ela lançou o 14th Annual Tech Trends Report, um delicioso banquete com mais de 500 tendências tecnológicas e científicas de diferentes setores.

A metodologia da pesquisa é chamada de “Roda da Disrupção” e correlaciona 11 macroforças, tecnologias emergentes, sinais fracos, sinais fortes e tendências. Este ano, com o volume de transformações globais decorrentes da pandemia do COVID-19, o relatório ganhou corpo, chegando a 504 páginas em sua versão completa.

O futuro em três descobertas-chave de Amy


Para introduzir o relatório de 2021, Amy Webb apresentou 3 key-findings ao público. A primeira delas é o You of Things, ou YoT, uma variação do termo internet das coisas aplicada ao corpo humano. Esta tendência abrange o crescente uso de dispositivos vestíveis e até mesmo implantados em nosso corpo, correlacionando dados biométricos e comportamentos no mundo real. Cada vez mais nosso corpo se comportará como uma rede conectada por sensores que mineram dados para posterior processamento por inteligência artificial. 





Assim como a pandemia acelerou a telemedicina, a tecnologia para realização de exames em casa também será acelerada. A indústria da saúde, aliás, é apontada como o novo campo de batalha entre as big techs. Com tantos dados captados, conheceremos muito mais sobre nós. Ao mesmo tempo em que a privacidade se tornará uma questão crítica: quem poderá ter acesso aos dados biométricos de uma pessoa? A análise automatizada dos dados individuais se tornará um instrumento para reconhecimento, recompensa, alertas e até mesmo punição. Como assegurar a autonomia em um mundo cada vez mais influenciado por decisões tomadas pela inteligência artificial?

Novas formas de experimentar a realidade


A segunda descoberta-chave apresentada se relaciona com a mistura de como experimentamos o mundo físico e o digital. Além das já conhecidas realidade virtual e realidade aumentada, emergem agora as tecnologias de realidade assistida e a realidade diminuída. Amy apresentou o jogo de corrida EndeavorRx, desenvolvido por neurologistas e aprovado pela FDA como método para tratamento de crianças com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). O jogo ativa o córtex pré-frontal, aumentando o foco e a concentração dos pacientes.

Já a realidade diminuída permite a retirada de estímulos existentes do mundo físico. Assim como existem headsets para cancelamento de ruído, começam a surgir janelas que identificam ondas sonoras e eletronicamente emitem frequências contrárias que eliminam os sons indesejados. A mesma aplicação também começa a ser experimentada para retirar objetos do campo de visão de uma pessoa. Neste ponto, Amy alerta para o risco da realidade diminuída nos tornar menos sensíveis a problemas reais que acontecem próximos a nós.

Alguma coisa está fora da ordem


A terceira descoberta-chave foi chamada de Nova Desordem Mundial. Nela, Amy traz os sinais de um mundo que tem mais vigilância, com sistemas que monitoram tanto a coletividade quanto o indivíduo. O questionamento sobre os vieses dos algoritmos será cada vez mais forte. E o hacktivismo se tornará mais frequente.





Outro ponto relevante apontado é a necessidade de reflexão sobre um modelo de neutralidade da nuvem, já que hoje a hospedagem de serviços e aplicações de terceiros estão concentrados nas mãos de poucas empresas, como a Amazon (AWS).

Ainda neste contexto de transformações aceleradas, Amy trouxe para a pauta a biologia sintética, campo da ciência que nos permite redesenhar seres vivos. Isso mesmo: ler genomas, editar ou criar novos códigos para organismos. E dá-lhe discussão ética e regulatória a partir de então. Quem pode editar o código de uma pessoa? Quem pode decidir dar vida a um novo organismo? Atualizem os livros de ciência, pois a seleção natural ganhou a companhia da seleção artificial.


Distopia ou utopia? 


Ao final da apresentação, Amy nos convida a assumir o protagonismo na construção do amanhã: “Não tente prever o futuro. Isso não funciona. Em vez disso, foque em se preparar para o futuro observando sinais e tendências e tomando as melhores decisões”.

Em vez de buscar respostas, é hora de fazer as perguntas certas, considerando as tensões que podem nos orientar em direção ao futuro que desejamos. 

O 14th Annual Tech Trends Report é gratuito e open source. Se você também quer ampliar seu repertório para construir um futuro melhor, divirta-se: https://futuretodayinstitute.com/trends/





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