Cinco anos mais tarde, o prefeito Gumercindo Couto e Silva doou ao Sete o terreno para o campo, que passou por atrasos até a inauguração. Em 1948, começaram as obras de terraplanagem, mas, em março de 1950, a quatro meses para o início da Copa, a arquibancada ainda não estava pronta – principalmente a parte de concreto armado da ferradura.
“Ameaçada a realização dos jogos da Copa do Mundo na capital”, era o destaque do EM em 13 de março de 1950, cobrando dos mineiros mais empenho. Em 4 de junho, a 20 dias do Mundial, delegados da Fifa vistoriaram e aprovaram o Independência, o último dos seis estádios a ficar pronto, único a ser inaugurado com uma partida de Copa do Mundo.
O Brasil havia acabado de passar da barreira dos 50 milhões de habitantes quando foi confirmado, em 1948, como sede da quarta Copa do Mundo, a primeira desde a paralisação provocada pela Segunda Guerra Mundial. Treze seleções participaram da competição, sendo seis europeias, cinco sul-americanas e duas norte-americanas. A tabela passou por alterações até que ficassem confirmadas as três partidas no Independência: Iugoslávia x Suíça, Estados Unidos x Inglaterra e Uruguai x Bolívia.
Belo Horizonte era uma cidade de 350 mil habitantes e, embora já experimentasse o crescimento a reboque da industrialização, ainda mantinha ares interioranos. Portanto, a chegada das delegações estrangeiras gerou grande interesse dos moradores pela competição de futebol, que, à época, rivalizava com o boxe e o basquete na preferência dos belo-horizontinos.
Os primeiros a desembarcar na capital foram os iugoslavos, em 20 de junho, e se hospedaram no Grande Hotel, enquanto os suíços chegaram um dia depois e ficaram no Hotel Financial. Na semana que antecedeu a partida, passearam pela cidade e treinaram no Horto.
BH receberia mais duas partidas, sendo que a segunda é considerada uma das grandes zebras da história das Copas: em 29 de julho, os Estados Unidos venceram a Inglaterra por 1 a 0. Quatro dias depois, o Uruguai goleou a Bolívia por 8 a 0. A torcida mineira, mesmo impressionada com a exibição de Schiaffino, Ghiggia e companhia, nem imaginaria que duas semanas depois aquele time seria responsável pela maior tragédia do futebol brasileiro até então.
Da euforia ao silêncio
Mullticampeão com Flamengo e responsável por montar o “Expresso da Vitória” no Vasco, Flávio Costa convocou uma Seleção Brasileira cuja base era formada por jogadores do futebol carioca. Dos 22, 13 eram do Rio, sendo oito do Vasco. A estreia foi promissora, com goleada sobre o México por 4 a 0. Depois, empatou com os suíços por 2 a 2, no Pacaembu, e venceu os iugoslavos por 2 a 0, na volta ao Maracanã.
A euforia tomou conta do país no quadrangular final (pelo regulamento, os quatro melhores se enfrentariam entre si e o melhor levaria o troféu). Sob a batuta de Chico e Ademir, o Brasil goleou a Suécia por 7 a 1 e a Espanha por 6 a 1. Os uruguaios, por sua vez, empataram com a Espanha (2 a 2), mas venceram os suecos (3 a 2) e precisariam vencer o Brasil no último jogo para levantar o troféu. Em 16 de julho, 172.772 torcedores se espremeram no Maracanã. O Brasil abriu o placar com Friaça, mas levou a virada em gols de Schiaffino e Ghiggia.