A Copa do Mundo de 2014 ficou marcada para sempre na vida dos belo-horizontinos por causa da acachapante derrota brasileira por 7 a 1 para a Alemanha, nas semifinais, naquele 8 de julho, dia mais tenebroso da história do futebol verde-amarelo. Mas o segundo Mundial nas terras mineiras foi mais do que isso. Durante 30 dias, BH recebeu a mistura de várias culturas e nacionalidades, abrigou seleções importantes “no quintal de casa” e viu craques desfilarem no gramado do Mineirão. Entre eles, Messi.
A passagem do camisa 10 argentino pela capital mineira também ficou marcada. Hospedado na Cidade do Galo, o jogador brindou os mineiros com grande atuação diante do Irã, mesmo que o desempenho de sua equipe tenha sido burocrático. Foi de Messi o belo gol de fora da área, já nos acréscimos, que evitou o tropeço dos argentinos. “Eleito quatro vezes o melhor jogador do mundo, La Pulga provou ser um dos atletas mais decisivos – e, por que não, abençoados? – do planeta, ao marcar o gol da mágica, porém não muito justa, vitória da Argentina sobre o Irã”, destacou o Estado de Minas, de 22 de julho de 2014.
Se a Cidade do Galo recebeu a Argentina, coube à Toca da Raposa II ser a casa da Seleção Chilena, uma das surpresas da Copa. Comandada por Jorge Sampaoli, La Roja encantou os brasileiros com um futebol vistoso e leve, com direito a vitória sobre a então campeã mundial, Espanha, por 2 a 0.
BH viu em ação o colombiano James Rodríguez dar show na goleada por 3 a 0 sobre a Grécia. O estádio também foi palco da vitória de virada da Bélgica sobre a Argélia por 2 a 1 e do empate morno entre Costa Rica e Inglaterra por 0 a 0, que decretou o fim da Copa para os ingleses ainda na fase de grupos. Eliminado nas oitavas pela Colômbia, o Uruguai não jogou em Minas, mas optou por se preparar num luxuoso hotel na região de Sete Lagoas.
Nas vésperas dos jogos, a cidade teve uma mistura de idiomas. As regiões da Pampulha, Savassi e de Lourdes receberam muitos turistas, transformando BH num verdadeiro carnaval fora de época. A capital também foi palco de um episódio triste.
Triste destino brasileiro
Maior desastre do futebol nacional, o massacre de 8 de julho no Mineirão começou a se desenhar nas quartas de final, diante da Colômbia. Foi nessa partida que os brasileiros viveram seu primeiro drama: perderam o atacante Neymar, que fraturou uma vértebra lombar. A partida contra os alemães até hoje é algo inexplicável. Os 58.141 pagantes que foram ao Mineirão deixaram o estádio sob lágrimas e decepção, numa competição em que a Seleção Brasileira prometia muito, mas fez pouco.
Durante a preparação, o que se viu foi uma série de homenagens a Neymar, com os treinos sempre ficando em segundo plano. “Força Neymar”, era a mensagem nas camisas e bonés dos jogadores quando desceram no hall do Gigante da Pampulha.
A capa do Estado de Minas de 9 de julho de 2014 foi diferente. Sem a clássica manchete, e com a imagem de um torcedor em prantos, refletindo bem o desastre daquele jogo. O texto do jogo também mostrou a decepcionante e estranha atuação da equipe. “A pior derrota da centenária história da Seleção Brasileira foi algo como um confronto entre um time de garotos perdidos e desequilibrados tentando reagir ao vigoroso oponente atacando-o com uma pluma em vez de espada.
No primeiro tempo, os alemães já venciam por 5 a 0 com enorme facilidade, gols de Müller, Klose, Kroos (2) e Khedira. Muitos brasileiros, que tiveram o rosto pintado de verde-amarelo, começaram a deixar o Mineirão assustados. No segundo tempo, Schürrle marcou duas vezes e Oscar fez o de honra. “De algozes, os comandados de Joachim Löw foram ovacionados em diversos momentos. Os dois últimos gols foram aplaudidos de pé pelos brasileiros, que gritavam “olé” a cada troca de passe do adversário. Oscar foi autor do gol de honra do Brasil, aos 45min, depois de driblar Boateng e chutar sem chances para Neuer”, destacou o Estado de Minas.
Dois mineiros no olho do furacão
Os dois jogadores mineiros que estiveram em campo na derrota para a Alemanha deixaram o gramado sob vaias. Ambos foram titulares na partida. Se o camisa 9 já era naturalmente o dono da posição, o ex-atleticano, que foi caracterizado por Felipão como um jogador que tinha “alegria nas pernas”, ficou incumbido de substituir o ídolo Neymar, mas naufragou junto com o restante do time.
Campeão e artilheiro da Copa das Confederações um ano antes, Fred já chegou ao Mundial em baixo rendimento. Conseguiu marcar apenas um gol, contra Camarões.
Bernard começou a Copa com prestígio total na Seleção. Negociado na temporada passada com o Shakhtar Donetsk por R$ 71 milhões, ele era a opção de velocidade no banco canarinho.
O jogo do Mineirão pelas semifinais seria especial para Bernard. Mas ele teve atuação apagada. Mais jovem daquele grupo (tinha 21 anos), o jogador atuou 90 minutos e, no fim, não conteve o choro.“Foi no Mineirão que o prata da casa atleticano conquistou o título mais importante da carreira, o de campeão da Copa Libertadores, no ano passado. Mas o estádio também é palco da maior derrota do jogador.
Nos primeiros minutos ele tentou mostrar serviço diante dos grandalhões zagueiros alemães. Pela direita, deu dois cruzamentos na área adversária, que não foram aproveitados por Fred e cia.”, publicou o Estado de Minas em 9 de julho de 2014.
As duas capas do EM
A inexplicável derrota brasileira para a Alemanha por 7 a 1 deixou até o mais otimista alemão boquiaberto. A tragédia histórica no maior palco do futebol mineiros mereceu duas capas no Estado de Minas. A primeira retratou cada um dos gols alemães, um torcedor brasileiro desolado e perguntou ao leitor se ele queria mesmo se lembrar daquele vexame. Na outra, na página 2, com o título “A maior vergonha do futebol brasileiro”, todos os detalhes do fiasco no Mineirão, com uma foto maior do técnico Luiz Felipe Scolari e duas menores com o zagueiro brasileiro David Luiz e o alemão Schweinsteiger.
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