Antigas discussões e desafios novos se misturam na busca de respostas sobre os rumos do crescimento econômico de Minas Gerais. Como parte das comemorações dos 90 anos do Estado de Minas, a reportagem do EM reuniu empresários de referência na indústria mineira que debateram sobre os caminhos que o estado deve trilhar para voltar a crescer num ano de muitas incertezas na economia e na política. Os presidentes da Usiminas, Sérgio Leite; da Forno de Minas, Helder Mendonça; e da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, se sentaram à mesa e discutiram o tema, com mediação dos jornalistas e colunistas de Economia do EM Marcílio de Moraes e Marta Vieira. Como Minas poderá superar dificuldades há muito identificadas na estrutura produtiva do estado para valorizar mercadorias, em boa parte exportadas em bruto, como o minério de ferro e café e soja? Eles defendem o fortalecimento da pequena às grandes indústrias para retomada do crescimento, cobram melhorias na infraestrutura, reformas estruturais e adoção de políticas de incentivo pelo governo que garantam aumento da competitividade das empresas.
Difícil recuperação
Flávio Roscoe
Sérgio Leite
Helder Mendonça
Café e minérios
Flávio Roscoe
“As commodities (produtos agrícolas e minerais cotados no mercado internacional) são um dos mais importantes ativos de Minas Gerais. Mas a gente se dá ao luxo de jogar fora. Devemos gerar valor nesses produtos. O grande problema é o entrave por conta de uma série de questões históricas. Como resolver o problema do Brasil e de Minas? Esse pacto é que a gente tem que rever no estado. Se as grandes empresas perderam 15%, as pequenas e as médias foram terra arrasada. Enquanto estado, enquanto sociedade, temos que fazer as opções necessárias. E quais são as opções? Isso não muda porque tem perdedor, mas a maioria é ganhadora.”Por mais produtividade
Flávio Roscoe
“O primeiro passo a ser proposto é deixar de lado as vaidades e seus feudos. Um dos gargalos são as contas públicas. Minas Gerais já gasta 30% do orçamento só com o pagamento de inativos. A estabilidade para a carreira pública veio com a Constituição de 1988. Antes, ela nunca existiu. Agora, a massa de inativos, daqueles cargos da Constituição de 1988, tende a subir vertiginosamente. Esse sistema é justo? Tem-se que criar pactos para uma regra de transição, pois o futuro é o colapso das contas públicas. Se o estado gasta mais, não é porque quer gastar mais, mas porque já está contratado. Vamos ter que discutir a produtividade do ensino, da saúde e do setor público. Por que a gente só faz isso quando se trata das empresas? As empresas fazem isso por essência. Se elas não forem produtivas, elas vão morrer. Já a produtividade do serviço público é assunto blindado. Como vamos repactuar com a distribuição de renda que o estado capta? Os tributos ocultos e as obrigações que impactam na nossa produtividade. Alguns vão ter que abrir mão de privilégios.”
Sérgio Leite
“A indústria do aço é uma das mais competitivas do Brasil. Tanto é que, da porta para dentro, são as mais competitivas do mundo. Onde ela perde competitividade? Nos impostos. O consumidor final paga por um produto que nas fábricas é produzido com um dos menores custos mundiais, paga nível mais elevado do que se comparado com outros países.”