Minas Gerais tem uma forte tradição culinária que veio se consolidando e se inovando ao longo dos anos. Em Belo Horizonte, o segmento também esbanja história. Surgiu em restaurantes familiares, buscou referências francesas – berço da gastronomia mundial –, em técnicas e nos serviços de gala praticados no Automóvel Clube e nos salões de hotéis como o Del Rey. Começou a ser reverenciada nas páginas do Estado de Minas a partir de 1939, data da publicação da primeira coletânea de receitas, e dali ganhou espaço diferenciado por meio de seções como Um prato rápido (década de 1940) e Coluna Culinária (década de 1950).
Pouco mais tarde chegaram aqui cozinheiros e empreendedores estrangeiros, e mais e mais referências entraram como ingredientes desse caldeirão, numa mistura de saberes e sabores regionais e do mundo em um mesmo prato. O Senac inaugurou o primeiro hotel-escola da América Latina no Hotel Grogotó, em Barbacena. Mais tarde, a abertura do mercado brasileiro para a importação, na década de 1990, e a globalização promovida pela internet reduziram fronteiras e abriram ainda mais as perspectivas na cozinha mineira.
O Estado de Minas acompanhou essa evolução com artigos assinados por cozinheiros de renome, como dona Lucinha, e também com o guia Sabores de Minas, suplemento que mapeia a produção culinária do interior e que acaba de ganhar um projeto inovador na versão on-line. No Caderno Feminino, a editora e colunista Anna Marina sempre trouxe para o leitor todas as novidades gastronômicas. Também o lendário crítico Manuel D’Almada (um ghost-writer assinado pela jornalista Sílvia Laporte) fez história. Atualmente, o Divirta-se traz extenso guia de restaurantes e o caderno especializado Degusta as melhores receitas produzidas aqui e acolá.
Iniciativa inédita
Este 2018, data em que o jornal Estado de Minas completou 90 anos, é também um marco para a atividade gastronômica no estado: o governo acaba de lançar o + Gastronomia, iniciativa inédita no Brasil. “A gastronomia mineira é uma referência nacional e, com o programa, passa a ser compreendida como eixo estratégico para o desenvolvimento econômico de Minas Gerais, contribuindo para a descentralização de riqueza e para a geração de oportunidades de trabalho e renda. Trata-se do único estado no Brasil com uma política pública para o setor. O Plano Estadual de Desenvolvimento da Gastronomia, lançado no último 5 de julho, estabelece metas e diretrizes para o período 2018-2021 e consolida a gastronomia enquanto política pública em Minas Gerais”, explica Paulo Almada, secretário de Turismo de Minas Gerais.
Nesse sentido, iniciativas de outros países, como Peru, Espanha e França, foram importantes e inspiradoras para a construção da nova ação que surge para unir esforços, iniciativas, ações, projetos e políticas públicas para o desenvolvimento, fomento e posicionamento do setor.
O plano abrange a participação de 17 territórios mineiros. “Com diversos produtos referência, como café, queijo, cervejas artesanais e cachaça, a cadeia produtiva da gastronomia mineira engloba todos os processos, desde a produção, distribuição, beneficiamento, comercialização, pesquisa e consumo. Muitos países vêm utilizando a gastronomia como forma de posicionamento e destaque internacional. Minas Gerais tem em sua gastronomia uma de suas principais referências. Isso significa maior valorização de seus produtos, que pode refletir em ganhos para o setor produtivo, ampliação de vendas e até mesmo exportação.”
Turismo gastronômico
O segmento tem tudo a ver com turismo ao oferecer experiências marcantes aos visitantes. A gastronomia ocupa a terceira posição entre as principais motivações que levam turistas a viajar, ficando atrás de natureza (segundo lugar) e cultura (primeiro lugar), de acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT). Segundo a World Food Travel Association, o turismo gastronômico gera impacto econômico de US$ 150 bilhões anualmente.
Nesse sentido, estamos com a faca e o queijo na mão: “A gastronomia é a principal imagem de Minas Gerais para 29% dos turistas que visitam o estado, de acordo com a Pesquisa de Demanda realizada pela Setur-MG. Ou seja, atualmente, a gastronomia mineira é considerada um cartão de visitas para quem vem ao estado. A grande diversidade de festivais e roteiros gastronômicos e locais de visita à produção colocam Minas Gerais com destaque no cenário nacional do turismo gastronômico”, reforça Paulo Almada.
Esse “imenso” valor imaterial da gastronomia faz parte do modo de ser do mineiro e perpassa todas as regiões do estado, envolvendo saberes, ofícios e modos de fazer, celebrações, formas de expressão, lugares e representações que os grupos e comunidades reconhecem como parte integrante do seu patrimônio cultural.
Neste século, iniciativas públicas e privadas em torno do desenvolvimento da gastronomia mineira apareceram e se consolidaram. Festivais de importância internacional pipocaram aqui e ali. Neste especial, resgatamos essa história para mostrar para onde caminham os sabores de Minas.