Jornal Estado de Minas

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Conheça o segredo da escola municipal número 1 do Ideb em BH

A professora Rosimary Prado com turma do 5º ano: alunos participam de concursos e exposições e recebem prêmios por desempenho - Foto: Beto Novaes/EM/DA Press

Quando se caminha pelo terreno da educação, nota-se com facilidade que problemas existem, e aos montes. Mas é fato que, se nas últimas nove décadas surgiram desafios no ensino, muita coisa também evoluiu. E a escola mudou. Principalmente o perfil de quem entra. De uma era em que o laço no cabelo das meninas era sinônimo de poder e dinheiro em sala de aula para uma época na qual o acesso à educação é quase universal. De quando praticamente só os filhos da elite tinham a oportunidade de se tornar “doutores” para o presente, em que pelo menos 50% dos estudantes de escolas públicas, entre eles negros e pobres, têm direito garantido de entrar na universidade. Em meio a avanços e retrocessos, foi preciso medir a quantas anda o ensino, traçar metas e buscar melhorias. Nas últimas três décadas, avaliações foram criadas pelo governo federal para ser aplicadas em colégios e universidades e mensurar não só o nível de aprendizado, mas também verificar a estrutura pedagógica e física das instituições.

Os últimos números mostram que, se de um lado a democratização é real, por outro está posto um longo caminho de aperfeiçoamento da qualidade.

Diversas siglas, que se traduzem em números, têm uma finalidade comum: avaliar o ensino e aprendizado nas salas de aula Brasil afora e o tamanho dos desafios no setor. Algumas são bem específicas e medem os níveis de alfabetização, leitura, escrita e matemática. Outras dão o panorama geral, fazendo um verdadeiro censo da educação básica e superior, sem contar a mais popular delas, o Exame Nacional do Ensino Médio. Criado em 1998 para avaliar o nível dos concluintes do ensino básico, cresceu e tomou proporção tal que, hoje, sua nota é condição e passaporte para garantir uma cadeira na universidade.

Desde a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), em 1990, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), braço do Ministério da Educação (MEC), produz indicadores sobre o sistema educacional brasileiro. A criação da Prova Brasil, em 2005, e do Ideb, dois anos depois, também se transformaram em marcos do diagnóstico do ensino no país.
Já a Provinha Brasil visa a investigar as habilidades desenvolvidas pelas crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras. Composta pelos testes de língua portuguesa e de matemática, permite aos professores e gestores obter mais informações que auxiliem o monitoramento e a avaliação dos processos de desenvolvimento da alfabetização e do letramento inicial e das habilidades iniciais em matemática.

O último Saeb revelou uma catástrofe na educação básica e mostrou números absolutamente preocupantes. Divulgado no fim de agosto último, mostrou que é ínfima a porcentagem de alunos do 5º e do 9º anos do nível fundamental com conhecimento adequado em português e matemática. Pior ainda é a situação do 3º ano do ensino médio, série na qual sete em cada 10 jovens não conseguiram sequer aprender o básico. Minas Gerais e Belo Horizonte acompanham a derrocada nacional, com números ruins de uma ponta à outra. No limbo está o 9º ano, que anuncia o fracasso do ensino médio e, por isso, merece atenção especial.

  

Na sequência, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) reafirmou o mal crônico que acomete a educação brasileira. O Ideb do ensino médio avançou apenas 0,1 ponto percentual em 2017.
Apesar do crescimento observado, o país está distante da meta projetada: de 3,7, em 2015, atingiu 3,8 em 2017 – pouco, diante do objetivo de 4,7. Em Minas, a evolução foi de 3,7 em 2015 para 3,9 no ano passado.

O Ideb é uma iniciativa do Inep, com o objetivo de avaliar o sistema educacional brasileiro a partir da combinação entre o desempenho dos estudantes no Saeb e a taxa de aprovação na educação básica. Tem uma escala que vai de zero a 10 e é feito a cada dois anos. A cada edição, uma meta é estabelecida.

A avaliação do ensino mais recente, divulgada mês passado, é o Censo da Educação Superior 2017. Ele revela que o número de ingressos em cursos de graduação a distância tem crescido substancialmente nos últimos anos, aumentando sua participação no total de calouros de 15,4% em 2007 para 33,3% em 2017. Com mais de 6,2 milhões de alunos, a rede privada tem três em cada quatro estudantes da graduação e participação acima de 75% na fatia da educação superior. 

Edição de 31 de agosto de 1998 destacou a cobertura ao primeiro exame de avaliação do ensino médio - Foto:

Diagnóstico para definir o remédio

Sinalizar a gestores, escolas e redes habilidades e objetivos que precisam ser melhorados. Para o diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, a importância das avaliações no setor de ensino não tem discussão. O erro, segundo ele, foi ter avançado nessas avaliações antes de se fixar um currículo nacional.

“O número de escolas com bom desempenho subiu muito depois que o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) passou a ser censitário, em 2005, o que aumentou o olhar para as instituições de ensino e trouxe um acompanhamento maior. Outro ponto positivo é que as avaliações federais acabam gerando dados para as escolas fazerem as suas próprias avaliações”, afirma. 


E se é verdade que os números permitem procurar melhorar cada vez mais, tem gente tirando a lição de letra. Em Belo Horizonte, a Escola Municipal Padre Marzano Matias, no Bairro Rio Branco, em Venda Nova, é a melhor da capital, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). E o feito tem dose dupla: tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais do fundamental. Enquanto o índice da rede municipal de BH ficou em 6,3 nos anos iniciais, o da escola foi de 7,6, superando em 0,4 ponto a meta fixada para a instituição. Nos anos finais, BH nem alcançou a meta (5,1), ficando com 4,9. Já o colégio teve nota 6,2, novamente acima da projeção (6,1).

O segredo passa pela disciplina e a responsabilidade, garante o diretor, Júlio Cézar Matos Pereira. Aulas diferenciadas em determinadas disciplinas e ações acolhedoras, para realmente integrar os alunos deficientes, salas de aula e laboratório equipados e programas de incentivo não só a quem tem as melhores notas, mas àqueles que precisam se recuperar são marcas registradas da escola, que tem lista de espera chegando a até 40 nomes em algumas séries.

Recuperação paralela e reforço dão oportunidade a quem está com a nota abaixo do desejado.

Nos programas de enturmação, o aluno vai, momentaneamente, para uma nova turma formada por crianças com as mesmas dificuldades, até elas serem sanadas. Premiação de alunos destaque reconhece o trabalho de quem se esforçou e tentou melhorar. Concurso de poesias, campeonato de fatos, feira de ciências, exposição de jogos matemáticos criados pelos próprios alunos e escola integrada ligada à programação convencional do colégio fazem a diferença, segundo os educadores.

A participação é maciça nas olimpíadas e competições promovidas pelos governos federal, estadual ou municipal, como as de matemática, português e astronomia. E todo ano tem medalha, garante a coordenadora-geral, Aliny Francisca Pereira. “Trabalhamos com o objetivo de melhorar não só a nota, que é apenas um número, mas melhorar a educação”, diz.

A linha de trabalho dos professores cobra de todos responsabilidade, respeito e envolvimento dos alunos e das famílias com a educação. Se algo não vai bem, pais e responsáveis são intimados a comparecer ao colégio, nem que para isso se tenha que acionar o Conselho Tutelar. Os resultados são bons não apenas no Ideb. No Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa), a escola também foi o destaque da capital.

Nas turmas do fundamental 2, os alunos é que mudam de sala, permitindo aos professores terem salas ambientadas e valorizadas com material docente e pelos trabalhos dos estudantes. “A nossa lógica de trabalho e o incentivo à frequência permeiam todas as séries. As iniciais são mais fáceis, porque há o professor de referência. Temos um olhar mais atento ao 9º ano, no qual insistimos, trazemos de volta o menino quando ele não vem. Damos importância à educação. O aluno não tem opção de vir brincar, de deixar as atividades sem fazer. Eles devem entender que isso é importante para eles”, ressalta Aliny. O fato de muitos professores estarem no quadro desde a fundação da escola, em 2000, permite dar sequência à linha pedagógica. “É a identidade da escola. Quem vem entra nesse ritmo e, assim, mantemos a qualidade”, avisa Júlio Cézar.

A estudante Maria Eduarda Santos, de 9 anos, aluna do 4º ano do fundamental, diz que adora estar na Padre Marzano. Aluna-modelo, ela não dispensa a biblioteca nem uma boa leitura. “O que eu mais gosto é de estudar”, conta. O colega Samuel Lira, de 10, da mesma série, também leva a sério as atividades e se encanta com as aulas de matemática. “No ano passado fui para a semifinal do campeonato de fatos e, este ano, espero ser campeão”, planeja, orgulhoso.

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