De uma escola clássica e tradicional, onde a disciplina reinava absoluta, a um modelo permeado pelos avanços da tecnologia. A era da palmatória deu lugar a uma sala de aula diversa, onde liberdade também é sinônimo de criatividade. Da lousa ao tablet – este mesmo já se tornando superado –, muitas foram as mudanças na educação ao longo de nove décadas. Novas metodologias, a busca constante de um ensino para todos e avanços na inclusão são alguns dos principais ganhos. Em uma área naturalmente inquieta, sedenta por conhecimento, nuances do presente e do passado se misturam e se confundem. Com tanta dinâmica, experiências de ontem sempre voltam com novos significados. Pegar o melhor do passado e balancear com o melhor da atualidade é sempre desafio, palavra inerente à matéria educação.
Essa história é contada em imagens e peças preciosas no Museu da Escola, no Bairro Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte. A reprodução de uma sala de aula, com carteiras e bancos em madeira maciça, dá a ideia do tamanho da austeridade que já reinou nesse ambiente. Na parede, os uniformes clássicos: bermuda e saia plissada azul de tergal, blusa branca de tecido em corte impecável marcaram várias gerações até o final dos anos 1980. No acervo do ensino, projetores a gasolina e querosene impressionam.
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Conheça o segredo da escola municipal número 1 do Ideb em BHA reinvenção do ensino: desafio para educadores, especialistas e alunosNa era digital, educação aprende com o passado para se reinventar e projetar o amanhãConheça as escolas públicas que contam a história de Belo HorizonteEscolas investem no poder de criação dos alunos para superar desafios da educaçãoCom nove décadas de história, UFMG simboliza desafio em busca de financiamentoÁbacos e jogos matemáticos também ajudam a mostrar que o que hoje é usado como diferencial em algumas escolas sempre esteve na linha de ensino. Livros clássicos, como Bonequinha Preta, de Alaíde Lisboa de Oliveira, trazem de volta a infância de uma parcela de visitantes. Os planetários encantam. Entre os modelos, estão aqueles com lâmpada e com vela, originários de Leipzig (Alemanha) e que formaram alunos da Escola Estadual Dom Pedro II, de Ouro Preto, na Região Central do estado. Tem ainda globo hidrográfico, celeste (vindo da Inglaterra) e em alto-relevo.
Réguas e compassos de madeira, canetas-tinteiro e carimbos marcaram épocas. Nas fotos, meninas com laços de tamanho diversos nas salas de aula dão força à história contada pelos antigos, segundo a qual quanto maior o laço, melhor era a posição social. Na estante, mimeógrafos que rodaram exercícios e provas antes da chegada das reproduções em xérox ou em impressoras. Computadores antigos mostram como tudo foi diminuindo de tamanho ao longo do tempo. Criado em 1994, o museu esteve até 2011 no casarão da Praça da Liberdade em que já funcionou a Secretaria de Estado da Educação – hoje Museu das Minas e do Metal. Depois, foi transferido para a Gameleira. Foi pensado dentro da concepção de uma escola de formação (que divide espaço com o museu). “Entender a memória da educação é uma maneira de formar educadores e seus estudantes”, diz a coordenadora do Núcleo de Formação para a Educação Integral e Integrada, Itamara Soalheiro.
Todas as peças do acervo vieram de escolas de BH e de cidades do interior, como Ouro Preto, Mariana e Barbacena. “Todas as pessoas passaram pela escola ou tiveram interesse de estudar. As memórias são agradáveis, de temporecente ou longínquo.
O bibliotecário Mário Jardim, responsável por cuidar de um acervo único sobre a história da educação em Minas, destaca o papel importante do espaço: “Contribui para a formação do professor, fortalecendo sua identidade e valorizando a história da sua profissão”. Não apenas isso, como ressalta Itamara: “Conhecer o passado é importante para fazer mudanças. Tentamos nas visitas trazer essa história para o cotidiano, para trabalhar a memória, mas também o que as pessoas vivem hoje. Senão, fica apenas como um espaço do passado e não é isso”, ressalta.
O Museu de Ciências Naturais, no mesmo prédio do Museu da Escola, é um espaço a mais de conhecimento. Ele surgiu a partir da coleção particular do professor e naturalista Leopoldo Cathoud (que dá nome ao espaço), que narra a trajetória do ensino de ciência nas escolas. Criado oficialmente em 1946, foi montado num laboratório do Instituto de Educação (na época, a Escola Normal), para o ensino experimental de ciências.
Sozinha, tecnologia não ensina nada
Sozinha, tecnologia não ensina nada
Confrontando o passado, a tecnologia do presente e lampejos do futuro estão cada vez mais presentes nas escolas. São bem-vindos, mas é preciso cuidado, conforme alerta a gerente de Tecnologia Educacional do Colégio Padre Eustáquio, na Região Noroeste de BH, Maria Esperança de Paula. O colégio oferece aos alunos um óculos de realidade virtual, ligado a um aplicativo de celular cujo software permite enxergar o conteúdo de maneira ampliada. Outro sistema é o de realidade ampliada, que também usa aplicativo de celular ou tablet. Dá até vontade de pegar as imagens – e essa é a primeira reação dos pequeninos –, mas é tudo ilusão proporcionada em múltiplas dimensões.
Mas, sem o de sempre, o ensinar de verdade, nenhuma tecnologia sozinha resolve. “Independentemente da tecnologia, se as escolas não pensarem na estratégia metodológica que vão usar com aquele recurso, não adianta. Para fazer sentido, é preciso repensar hoje o uso dessa metodologia e a ação pedagógica que a escola está inovando”, avalia Maria Esperança.
Segundo ela, o exercício para o uso da tecnologia inovadora é sair do conteúdo para, de fato, transformar cada escola. “A lógica é conseguir a construção de conhecimento compartilhado em rede, para ter metodologias ativas, para que o conhecimento não seja engessado”, diz. A coordenadora é taxativa: a nova escola nunca chega de fato. “Não acredito na nova escola, mas em gerações de escola. Por isso, é tão importante repensar não o uso da metodologia, mas cada ação metodológica.”
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