Estado de Minas 90ANOS

Com nove décadas de história, UFMG simboliza desafio em busca de financiamento

Com 59 mil estudantes e servidores, a maior universidade de Minas ampliou acessos e se abriu para a pesquisa e a extensão


postado em 18/10/2018 06:00 / atualizado em 18/10/2018 14:32

Reitoria do câmpus Pampulha: fusão das escolas de direito, odontologia, medicina e engenharia, há 91 anos, originou uma das mais importantes instituições de ensino superior do país, que luta para manter qualidade(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Reitoria do câmpus Pampulha: fusão das escolas de direito, odontologia, medicina e engenharia, há 91 anos, originou uma das mais importantes instituições de ensino superior do país, que luta para manter qualidade (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


É uma universidade, mas bem que poderia ser uma cidade, dado o tamanho de sua comunidade acadêmica e de toda sua efervescência e produção. Fosse um município, a Universidade Federal de Minas Gerais teria o porte de territórios como Mariana, Ponte Nova ou Pedro Leopoldo. Nesse território chamado UFMG, 59 mil estudantes e servidores povoam, diariamente, quatro câmpus. Tornou-se um patrimônio de ensino, pesquisa e extensão. E colhe, agora, os frutos de 91 anos de história, mostrando como o embrião nascido timidamente da reunião de quatro escolas de nível superior que nem sequer existiam em Belo Horizonte se transformou na maior instituição de ensino superior do estado e uma das mais importantes do país. Em meio ao furacão de uma crise e de cortes orçamentários sucessivos, o medo, agora, é de retrocesso. “Somos patrimônio do país e não se constrói um patrimônio sem investimento adequado, permanente e substancial em educação, ciência e tecnologia”, afirma a reitora, Sandra Goulart.

“É uma universidade federal, mas é de Minas, tendo um papel importante em Belo Horizonte e em outras cidades com as quais tem relacionamento. Na criação, em 7 de setembro de 1927, seu nome já dizia isso: Universidade de Minas Gerais. Começou como instituição de ensino e, aos poucos, foi para pesquisa. Hoje, é polo de ensino, pesquisa e extensão, que são itens indissociáveis”, afirma a reitora. “Não se faz pesquisa sem ensino e vice-versa. Da mesma forma ocorre com a extensão, que é o ato de a universidade se voltar para a sociedade – o que sustenta a UFMG”, relata.

A Federal, como muitos a chamam, é marcada por resultados e também por momentos, conforme aponta Sandra Goulart. O primeiro deles é a própria constituição. A fundação decorreu da união entre a Faculdade de Direito (criada em 1892, em Ouro Preto, e transferida para a capital em 1898), a Escola Livre de Odontologia (1907), a Faculdade de Medicina (1911) e a Escola de Engenharia (1911). Nove décadas depois, se impõe como instituição de referência e relevância para a sociedade, com o intuito de formar não apenas profissionais, mas cidadãos. A reitora atribui o sucesso à tradição de consolidar o legado transmitido ao longo de várias gestões, dando legitimidade e robustez ao trabalho.

O segundo foi a consolidação do câmpus Pampulha, hoje a identidade da Federal, a partir da década de 1980, quando passou a abrigar unidades como a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), Letras, Odontologia e Farmácia. Dentro dessa consolidação, houve ainda o projeto Câmpus 2000, que levou do Centro de BH para o outro lado da cidade unidades como a Faculdade de Ciências Econômicas e a Escola de Engenharia.

(foto: Arquivo EM - 11/12/1971)
(foto: Arquivo EM - 11/12/1971)


O terceiro momento é o projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Instituído em 2007, ampliou a quantidade de vagas na rede federal de ensino superior, principalmente no período noturno. “Esse é um marco na história da UFMG, um compromisso de expansão que mudou a cara da universidade. O número de estudantes quase dobrou”, lembra a reitora. Por fim e o mais recente deles, a implantação da política de cotas, a partir de 2013. “Tornou a universidade mais diversa e inclusiva. Diversidade é um valor da UFMG e, quanto maior, mais alto é o potencial de criatividade, conforme apontam estudos.”

Se a estrutura cresce, aumentam também os desafios. O momento atual é tido como o mais delicado de uma história de 91 anos. Sandra lembra que os anos 1990 foram difíceis em matéria de orçamento – com a falta de perspectiva de crescimento do país, as universidades ficaram estagnadas. Depois do Reuni, passou a 13º lugar no mundo em produção de artigos, um impacto não só de quantidade, mas de qualidade. Nos últimos anos, com o corte de recursos da União, as federais amargam incertezas orçamentárias e um caixa à beira do vermelho. Prioridades tiveram de ser elencadas para garantir o funcionamento mínimo das instituições. A UFMG, por exemplo, tem hoje orçamento no patamar de 2010.

“No momento de grande avanço em que estava, é o maior impacto da história. Ensino, pesquisa e extensão dependem de continuidade. Por isso, o momento é de vigília e grande atenção. Há um ponto em que não há retorno”, avisa. Originária da Faculdade de Letras, Sandra Goulart lembra o significado grego da palavra crise: momento decisivo. O que mais assusta é a possibilidade de retrocesso. “Países em crise aproveitaram para investir em educação e pesquisa. Não é momento de cortar, mas de incentivar”, diz.

Do vestibular na torcida ao Sisu


Mudanças na forma de selecionar alunos para a UFMG foram apresentadas na edição de 10 de janeiro de 1973
Mudanças na forma de selecionar alunos para a UFMG foram apresentadas na edição de 10 de janeiro de 1973
Um salto de qualidade, expansão da estrutura e, consequentemente, crescimento exponencial da demanda, seja na disputa para entrar na UFMG ou dos universitários para ser atendidos nos programas de assistência estudantil. O primeiro caso é consequência de uma mudança emblemática ao longo desses 90 anos: o vestibular, modelo de ingresso até 2013, evoluiu e se transformou em Sistema de Seleção Unificada, em 2014.

Antes, as provas eram feitas em duas etapas, sendo a primeira fase, eliminatória, composta de questões de múltipla escolha e a segunda, de matérias específicas de cada área com questões abertas (respostas dissertativas). Um dos momentos emblemáticos desse tempo foram as oito edições aplicadas no templo do futebol mineiro: de 1970 a 1977, durante o regime militar, o vestibular da UFMG foi feito no estádio Mineirão, também na Região da Pampulha. O número de cada candidato era marcado no cimento da arquibancada; uma prancheta de compensado fazia as vezes de mesa. Policiais militares e o Exército faziam a segurança do local. Eram vários dias de avaliações objetivas, feitas por até 25 mil estudantes.

Em 2013, a UFMG aderiu ao Sisu e, por meio dele, passou a aceitar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como critério de entrada. O novo modelo enterrou de vez os intermináveis dias de vestibular em várias instituições distintas.


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