Jornal Estado de Minas

Controle biológico de pragas já representa 5% dos agroquímicos

Para Fernando Urban, alternativa contribui para um cultivo sustentável - Foto: Farroupilha/DivulgaçãoMônica Pletschette produz hortaliças há mais de 20 anos. Ela é dona da Orgânicos do Fradhe, alimentos sem agrotóxicos que comercializa em feiras livres da capital. No sítio, em Sarzedo, na Grande BH, o controle biológico é feito pela própria natureza. Todos os organismos importantes para impedir a proliferação de pragas e doenças estão lá, onde o ambiente é cercado por matas, naturalmente equilibrado. Apesar de essa não ser a realidade do cultivo agrícola em larga escala, a boa notícia é que, no país líder mundial no consumo de agrotóxicos, produtores que não se beneficiam do mesmo ecossistema do Fradhe já podem comprar insetos, fungos e bioinseticidas e realizar o controle natural da lavoura.

O mercado de defensivos agrobiológicos ainda é tímido, representa perto de 5% do total, movimentando cerca de US$ 200 milhões ao ano. Apesar de a cifra não se comparar ao bilionário mundo dos agroquímicos, a demanda vem avançando. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que em 2010, 2% dos produtos registrados no órgão eram ligados ao controle natural de pragas e doenças. Cinco anos depois, o percentual mais que dobrou, passando para os 5%.

Dos importadores a pequenos consumidores, a busca por alimentos com menor margem de resíduos químicos é crescente, e, no país, pelo menos 50 fabricantes já oferecem essa opção ao agronegócio, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio).

Especialistas acreditam que a pressão deva ser um impulso para o crescimento do setor, já que o método não é prejudicial à saúde.

“Alimentos com menor nível de agrotóxico já são uma exigência do mercado de commodities. Quanto mais essa demanda crescer também entre a população, maior deve ser a utilização do recurso natural”, observa Luiz Alexandre de Sá, pesquisador na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio Ambiente. Segundo ele, quando uma população cresce demais, acaba se tornando uma praga. Assim, uma das formas de atuação do controle biológico é feita com a liberação de organismos vivos para baixar a quantidade do inseto, fungo ou qualquer outro agente que está devorando a lavoura, destruindo a renda do produtor.

O controle natural de doenças e pragas é feito de forma alternada com os agroquímicos, reduzindo o número de aplicações. Em Minas, desde incubadoras em universidades até empresas de grande porte estão investindo no segmento. Em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, o Laboratório Farroupilha oferece alternativas naturais para a lavoura desde 2006. “Sabemos que não é possível deixar de usar os defensivos químicos em larga escala, mas o controle natural reduz o número de aplicações de agroquímicos e contribui para um cultivo mais sustentável”, observa Fernando Urban, diretor-executivo da empresa.

O grupo Farroupilha, que também atua no agronegócio, utiliza o controle biológico com resultados eficientes em lavouras como café, milho e algodão desde 2004.
Entre os produtos do portfólio, estão fungos que controlam microrganismos causadores de doenças no solo, melhoram o enraizamento da planta, reduzindo até o estresse hídrico, além de bacilos e inoculantes naturais, que garantem maior produtividade. Fernando Urban acredita que, em 25 anos, o avanço do controle natural tende a ser exponencial. “A curva do químico e do natural ainda vai se cruzar. Muitos produtores ainda têm resistência, porque não acreditam nos resultados.”

FUTURO PROMISSOR

O potencial de crescimento do controle biológico vem se fortalecendo, e um sinal é dado por grandes players do mercado, como é o caso da FMC, produtora de agroquímicos, que também está atuando no controle natural; e da multinacional Bayer CropScience, que há dois anos entrou para o segmento. Alessandro Moreto, gerente de Clientes de Hortifrúti da multinacional, diz que um dos líderes do portfólio é um fungicida biológico aplicado em frutos e hortaliças, como tomates, morangos, cenouras, pimentões e batatas. “Os produtos duram mais e não há resíduos, o que favorece a entrada dos alimentos em grandes redes do varejo”, observa.

No Norte de Minas, o agricultor Dirceu Colares cultiva bananas há 19 anos. Ele conta que os defensivos naturais foram responsáveis pela única resposta eficiente que encontrou para o “mal do panamá”, doença que provoca a morte da fruta. Ele ainda utiliza o trichogramma – nome científico de pequena vespa usada para combater lagartas – e, também com o controle biológico, está vencendo o bicudo, inseto que ataca as raízes das bananeiras.
“Para mim, o custo/benefício foi excelente. O único produto que resolveu o problema.”

Oportunidade no caminho das fazendas

O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de alimentos e é o segundo maior exportador. A safra de grãos, estimada em mais de 200 milhões de toneladas para este ano, também acende um sinal amarelo. O país é um gigante no consumo de agroquímicos, está no topo do ranking. Na última década, segundo dados compilados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), o mercado de agrotóxicos do país cresceu 190%, ritmo mais acentuado do que o do mercado mundial no mesmo período (93%).

Walter Matrangolo, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, aponta que uma das formas de controle biológico é feita com o trichogramma, que impede a proliferação de lagartas que devoram as folhas, como a helicoverpa, que causou grandes prejuízos às lavouras. Ele considera que os efeitos dos agrotóxicos no meio ambiente são conhecidos quanto à destruição da biodiversidade, mas ainda não são muito claros na saúde humana. “Ainda assim, o consumidor está mais bem-informado, o que tem provocado uma demanda maior por produtos que têm menos agrotóxicos”, diz o pesquisador.

Samantha Bretas é sócia-proprietária da incubadora TBio na Universidade Federal de Lavras (Ufla). Em 2016, a empresa se prepara para lançar dois produtos, um bioinseticida e outro bioprotetor para a cultura do café. O bioinseticida está em fase de teste, já o bioprotetor, que forma uma capa em volta do grão maduro com a utilização de fungos, obteve resultados eficientes em capo. Para Samantha, o setor agrícola ainda é tradicional, mas aos poucos vai experimentando novos produtos.

Na opinião de especialistas, o fato de, no passado, produtos de pouca qualidade não oferecerem a eficiência prometida, acabou deixando um estigma.
Mas, atualmente, o problema foi superado. E o estigma foi vencido com a profissionalização. (MC).