O mercado de defensivos agrobiológicos ainda é tímido, representa perto de 5% do total, movimentando cerca de US$ 200 milhões ao ano. Apesar de a cifra não se comparar ao bilionário mundo dos agroquímicos, a demanda vem avançando. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que em 2010, 2% dos produtos registrados no órgão eram ligados ao controle natural de pragas e doenças. Cinco anos depois, o percentual mais que dobrou, passando para os 5%.
Dos importadores a pequenos consumidores, a busca por alimentos com menor margem de resíduos químicos é crescente, e, no país, pelo menos 50 fabricantes já oferecem essa opção ao agronegócio, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio).
Especialistas acreditam que a pressão deva ser um impulso para o crescimento do setor, já que o método não é prejudicial à saúde.
O controle natural de doenças e pragas é feito de forma alternada com os agroquímicos, reduzindo o número de aplicações. Em Minas, desde incubadoras em universidades até empresas de grande porte estão investindo no segmento. Em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, o Laboratório Farroupilha oferece alternativas naturais para a lavoura desde 2006. “Sabemos que não é possível deixar de usar os defensivos químicos em larga escala, mas o controle natural reduz o número de aplicações de agroquímicos e contribui para um cultivo mais sustentável”, observa Fernando Urban, diretor-executivo da empresa.
O grupo Farroupilha, que também atua no agronegócio, utiliza o controle biológico com resultados eficientes em lavouras como café, milho e algodão desde 2004.
FUTURO PROMISSOR
O potencial de crescimento do controle biológico vem se fortalecendo, e um sinal é dado por grandes players do mercado, como é o caso da FMC, produtora de agroquímicos, que também está atuando no controle natural; e da multinacional Bayer CropScience, que há dois anos entrou para o segmento. Alessandro Moreto, gerente de Clientes de Hortifrúti da multinacional, diz que um dos líderes do portfólio é um fungicida biológico aplicado em frutos e hortaliças, como tomates, morangos, cenouras, pimentões e batatas. “Os produtos duram mais e não há resíduos, o que favorece a entrada dos alimentos em grandes redes do varejo”, observa.
No Norte de Minas, o agricultor Dirceu Colares cultiva bananas há 19 anos. Ele conta que os defensivos naturais foram responsáveis pela única resposta eficiente que encontrou para o “mal do panamá”, doença que provoca a morte da fruta. Ele ainda utiliza o trichogramma – nome científico de pequena vespa usada para combater lagartas – e, também com o controle biológico, está vencendo o bicudo, inseto que ataca as raízes das bananeiras.
Oportunidade no caminho das fazendas
O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de alimentos e é o segundo maior exportador. A safra de grãos, estimada em mais de 200 milhões de toneladas para este ano, também acende um sinal amarelo. O país é um gigante no consumo de agroquímicos, está no topo do ranking. Na última década, segundo dados compilados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), o mercado de agrotóxicos do país cresceu 190%, ritmo mais acentuado do que o do mercado mundial no mesmo período (93%).
Walter Matrangolo, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, aponta que uma das formas de controle biológico é feita com o trichogramma, que impede a proliferação de lagartas que devoram as folhas, como a helicoverpa, que causou grandes prejuízos às lavouras. Ele considera que os efeitos dos agrotóxicos no meio ambiente são conhecidos quanto à destruição da biodiversidade, mas ainda não são muito claros na saúde humana. “Ainda assim, o consumidor está mais bem-informado, o que tem provocado uma demanda maior por produtos que têm menos agrotóxicos”, diz o pesquisador.
Samantha Bretas é sócia-proprietária da incubadora TBio na Universidade Federal de Lavras (Ufla). Em 2016, a empresa se prepara para lançar dois produtos, um bioinseticida e outro bioprotetor para a cultura do café. O bioinseticida está em fase de teste, já o bioprotetor, que forma uma capa em volta do grão maduro com a utilização de fungos, obteve resultados eficientes em capo. Para Samantha, o setor agrícola ainda é tradicional, mas aos poucos vai experimentando novos produtos.
Na opinião de especialistas, o fato de, no passado, produtos de pouca qualidade não oferecerem a eficiência prometida, acabou deixando um estigma.