Jornal Estado de Minas

Mercado de nutrição animal desconhece dificuldades, mantém investimentos e cresce

Fábrica da Guabi: empresa quer aumentar esforços para exportação - Foto: Guabi/Divulgação

Na contramão da crise, o mercado de nutrição animal cresce e mantém investimentos, remando contra a maré do mau desempenho dos principais indicadores da economia. Impulsionada pelo aumento da demanda externa pela carne de frango, a produção de ração animal no Brasil deve fechar o ano com alta de 3,2% ante 2014, segundo estimativa do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), que prevê produção total de 67,1 milhões de toneladas no encerramento de 2015. Se confirmada, a alta do acumulado do ano deverá superar o avanço registrado no primeiro semestre, quando 32,2 milhões de toneladas de ração foram produzidas, com expansão de 2,2% em relação ao mesmo período de 2014.

“Felizmente, em sentido contrário, a atividade pecuária (carnes, ovos e leite) continua resistindo à crise, uma vez que até maio expandiu 0,41%, apesar do retrocesso de 0,48% da agricultura, conforme estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP)”, observa Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindirações.

No balanço do sindicato, referente ao primeiro semestre do ano, o destaque foi a produção de rações para o segmento de aves, que demandou 18,7 milhões de toneladas da produção de alimentação animal. Desse total, 16,1 milhões de toneladas são voltados para a nutrição do frango de corte – crescimento de 5,4% em relação ao mesmo período de 2014. O saldo restante, ou seja, 2,6 milhões de toneladas refere-se às poedeiras.

“Os embarques de carne de frango do Brasil têm sido impulsionados pelos embargos dos tradicionais clientes dos Estados Unidos, onde 21 estados sofrem com a influenza aviária, que já abateu mais de 48 milhões de aves”, ressalta Zani. Segundo ele, até julho, as exportações brasileiras de frango in natura, cortes e derivados, avançaram 4,5%, alcançando quase 2,5 milhões de toneladas e a receita em reais chegou a R$ 12,7 bilhões, crescimento de 22,1%.

Para os dirigentes da Rações Itambé, controlada pela Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), o momento é bom para esse segmento do agronegócio. “A venda de carne para corte está favorável ao produtor que investe mais em rações”, explica o gerente de vendas da cooperativa, Reinaldo Borges. Segundo ele, em função do clima menos chuvoso e com menos pasto, o gado é alimentado com mais ração.

No entanto, Borges afirma que a alta do dólar eleva os preços de dois insumos – do milho e do farelo de soja, ambos commodities vinculadas à moeda norte-americana. ”O produtor prefere exportar a atender o mercado interno. Em 15 dias, o preço do milho subiu 20%”, observa.

- Foto: Fábrica da Guabi: empresa quer aumentar esforços para exportação

 


Para estrangeiros

A Guabi, produtora de rações e suplementos, informou ter mantido seu volume de produção anual nas oito unidades fabris este ano e que pretende investir cada vez mais esforços no mercado externo, já que vende para mais de 20 países das Américas, África, Ásia, Oriente Médio e União Europeia. Duas das fábricas estão em Minas Gerais – em Além Paraíba, na Zona da Mata, e em Pará de Minas, no Centro-Oeste do estado. Juntas, elas produzem todo o portfólio de rações comerciais da companhia, com matérias-primas destinadas a todas as espécies animais, como equinos, bovinos, peixes, camarões, aves, suínos, entre outros.

“As nossas unidades fabris – entre elas as duas de Minas Gerais – mantiveram sua produtividade e, consequentemente, os empregos de nossos funcionários, com, inclusive, contratações de profissionais para setores de grande crescimento na companhia, como a área técnica e comercial, marketing e comércio exterior”, disse Fábio Carvalhares Araújo, gerente de Marketing da Guabi.

Apesar do crescimento mais tímido, Araújo afirma que a companhia segue investindo em melhorias nos processos produtivos e em produtos inovadores para as variadas espécies animais. “O ano de 2015 tem sido um ano bom, apesar de os criadores e produtores estarem mais conservadores em seus investimentos, o que freia um pouco a expansão do mercado", observou.

Na multinacional norte-americana Cargill, a expectativa também é de alta e de novos investimentos em produtos para engordar bois em confinamento no Brasil. A unidade de negócios Cargill Nutrição Animal, representada no Brasil pela marca Nutron, lançou este mês uma nova linha de suplementação a pasto para bovinos de corte em todas as fases, para potencializar o desempenho e aumentar a produtividade e saúde dos animais.

“É um setor carente de novas tecnologias em nutrição animal, que ajuda os pecuaristas a obter melhores resultados”, resume Pedro Veiga, gerente global de Tecnologia de Bovinos de Corte da empresa. Para este ano, a Cargill projeta crescimento de dois dígitos. “Mesmo com a economia desaquecida e a redução do consumo e exportação de carne, a conjuntura geral ainda permite ganhos”, disse o gerente. Segundo ele, a expectativa é de que a empresa produza 40 mil toneladas de núcleo e premix este ano, 10 mil a mais que em 2014.

 


Enquanto isso...
...mercado pet também cresce


Na contramão da crise, um setor que tem chamado a atenção de investidores é o mercado de animais de estimação. A previsão de faturamento para 2015 é de R$ 17,9 bilhões, um aumento de 7,4% sobre o ano de 2014, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Os responsáveis pelo montante são os 132,4 milhões de animais de estimação, divididos em 52,2 milhões de cães, 37,9 milhões de aves, 22,1 milhões de gatos, 18 milhões de peixes ornamentais e 2,21 milhões de pequenos animais, como repteis e mamíferos. Os números de pets são de um levantamento de 2013, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter ideia, a francesa Royal Canin estima ampliar em 18% até 2016 a sua capacidade de produção da fábrica, em Descalvado (SP).

“Em 2015 já geramos 36 empregos diretos e mais 100 indiretos”, disse o presidente da subsidiária brasileira, Vladmir Maganhoto. A Nestlé Purina também já considera expandir sua capacidade para produzir rações no país. No ano passado, o Brasil ficou em terceiro lugar no ranking de faturamento global com o setor pet, com 6,3% do total.

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