Jornal Estado de Minas

Inseminação vence barreiras e registra alta este ano

Para Carlos Vivaqua, presidente da Asbia, bons negócios coma exportação de carnes são alavanca - Foto:
O mercado de inseminação artificial vem apresentando forte crescimento ano após ano, e em 2014 não foi diferente. De acordo com a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), o mercado geral de sêmen no Brasil cresceu 4,49% no ano passado, frente a 2013, com um movimento total de 13.609.311 de doses. Ainda segundo dados divulgados pela Asbia, de 2009 a 2014, a evolução do uso de inseminação artificial no Brasil teve um crescimento de 59% para o gado de corte e de 34% para o gado de leite. Neste ano, apesar da crise instalada no país, os dados do primeiro semestre mostram certa estabilidade do mercado com um pequeno aquecimento de 0,3% na produção de sêmen. Mas algumas empresas do segmento contestam esse resultado e apontam que o setor continua em expansão, independentemente da situação econômica do país. A comercialização de sêmen para a bovinocultura de corte foi bastante expressiva no primeiro semestre, com um total de 2.672.830 doses, contra 2.473.086 no mesmo período de 2014. O incremento foi de 8%. Já o produto destinado à produção leiteira registrou queda de 7%, com 2.317.712 doses contra 2.483.205 do ano passado.

O presidente da Asbia, Carlos Vivaqua, avalia que a solidez do mercado brasileiro de carne reflete no aumento da inseminação artificial na pecuária de corte.
“O preço elevado da arroba da proteína vermelha é um aliado ao aumento da inseminação artificial por parte dos produtores”, afirma. “Ao colocar um produto de qualidade elevada no mercado externo, é possível equilibrar a oferta e demanda em um cenário interno de crise econômica, que pode vir a afetar, em um futuro próximo, a procura interna de carne pelo consumidor, que já convive com a queda na renda”, explica.

Quanto ao resultado do sêmen de animais voltados para a produção de leite, o presidente da Asbia, diz que devido ao pequeno volume do produto no Brasil para exportação, a pecuária leiteira está mais pressionada no momento, diante do cenário nacional negativo. “Acreditamos que o leite seja um dos produtos mais afetados pela demanda interna, impactada pela redução de renda e emprego”, observa Vivaqua. Para ele, o produto pode ser ainda mais afetado pela queda das vendas no país. “Além disso, no primeiro semestre, o setor passou por problemas de qualidade, com fraudes principalmente no Sul do país,  o que impacta na demanda pelo produto e, consequentemente, no investimento dos produtores em inseminação.”

O presidente da associação acredita em expansão contínua do mercado de inseminação artificial este ano. O crescimento deve chegar a 5% no volume total de doses comercializadas. Para 2016, as previsões ainda são incertas, devido ao cenário econômico brasileiro instável.
“É importante destacar que a inseminação artificial é o único insumo que deixa residual entre as gerações, já que, em se tratando do valor genético de uma dose de sêmen, a contribuição ficará para as gerações futuras do rebanho”, diz Vivaqua. “Vale lembrar ainda que o custo da inseminação representa apenas 2% do custo total de produção”, reforça. Mesmo com todos os benefícios de melhoramento genético, atualmente, apenas 12% das matrizes bovinas contam com a inseminação artificial para reproduzirem.

TIPO EXPORTAÇÃO

A Asbia divulgou ainda o incremento dos negócios para o exterior, ampliados em 36% e 54% nos produtos voltados a corte e leite, respectivamente. De acordo com Vivaqua, o desempenho mostra a robustez do setor. No primeiro semestre, mais de 43 mil doses de sêmen das raças de corte foram vendidas para estrangeiros. A pecuária de corte representou a negociação de 64,5 mil doses para o exterior. Entre doses comercializadas, produzidas, provenientes de prestação de serviços e exportadas, a inseminação artificial trabalhou com 7.610.179 doses, no 1º semestre de 2015, contra 7.588.919 no mesmo período de 2014.

Algumas das maiores empresas do ramo apresentam desempenho melhor que o do mercado. A CRI Genética, subsidiária da Cooperative Resources International, fechou o ano fiscal em setembro e de acordo com o diretor-executivo, Sergio Saud, o crescimento foi de 14,6%, em 2015, se comparado ao mesmo período do ano passado.
“Nossa expectativa era positiva, na casa dos 12%, mas superamos. A alta de doses de sêmens da pecuária de corte foi de 20,3% e da de leite foi de 5,2%, no período de outubro de 2014 a setembro deste ano frente a igual período anterior. Na pecuária de corte, os produtores buscam cada vez mais tecnificar a fazenda, e para isso, é preciso investir em inseminação. O valor genético para o rebanho é o melhor caminho para o criador”, diz. No setor leiteiro, embora ele tenha uma expectativa positiva, Saud reforça que é preciso que o Brasil exporte mais leite e que a qualidade do produto seja melhor. “Há problemas na logística e de informação no campo, precisamos que empresas e governo estimulem a produção leiteira e consequentemente a inseminação”, destaca. Saud salienta que a CRI Genética registrou cinco anos consecutivos de crescimento.

Quanto ao impacto do câmbio no preço dos produtos da CRI Genética, Saud destaca que, infelizmente, tem repassado parte dos custos ao cliente. “No ano passado o câmbio valia 60% do que vale hoje. Somos obrigados a repassar, mas felizmente nosso cliente está aceitando, já que o sêmen representa apenas 2% do custo geral de produção. O impacto para o criador da fazenda não é tão grande e eles não querem abrir mão da qualidade”, ressalta.

RECORDE

A Alta Genetics, uma das maiores empresas do segmento no país, cresceu 8,49% em 2014 e bateu recorde com 4 milhões de doses de sêmen bovino vendidos.
De acordo com o presidente da Alta, Heverardo Carvalho, de janeiro a setembro, a empresa cresceu 12% em faturamento e 16% em volume de doses, em relação ao mesmo período do ano passado. “O incremento na pecuária de corte foi de 25% e na de leite, 1%, este ano. O resultado positivo da inseminação em carne se deve ao momento positivo do mercado da proteína vermelha brasileira, com altos preços da arroba, que devem continuar em 2016 e talvez 2017. Falta carne no mercado mundial e essa elevação deve perdurar ainda que seja uma variação entre R$ 5 ou R$ 10. Já o mercado do leite está estável. Ainda não tivemos queda significativa no consumo do produto no mercado interno e a valorização do dólar inibe a importação do produto”, diz.

Já a ABS Pecplan deve terminar o ano com expansão de 4% em volume de inseminação artificial. “O crescimento de doses de sêmen de corte pode chegar a 15%”, calcula o diretor-executivo da empresa, Marcio Neri. Para leite, o resultado deve ser o contrário. Ele lembra que a alta do dólar impactou muito nos últimos 12 meses. “Depois de muito tempo sem precisar repassar custos, tivemos que elevar o preço do produto em 20%, nos últimos sete meses, devido ao câmbio”, reclama.
Mas ele acredita na manutenção do mercado por causa da importância da inseminação artificial. “É o único insumo que deixa resíduos permanentes no rebanho”, afirma. Tanto que permanecem investindo e em fevereiro adquiriram 51% da In Vitro Brasil, com foco na tecnologia da fertilização in vitro dos embriões.

Raças de destaque

Balanço de 2014 da Asbia revela ainda o comportamento de cada raça. Na pecuária de corte, é possível perceber a ascensão da angus, com incremento de 13% de 2013 para 2014 e 281% nos últimos cinco anos; e também da braford, com 33% e 162%, respectivamente. De acordo com as principais empresas do setor, os destaques na pecuária de corte este ano, com os mais expressivos crescimentos, são a angus e a nelore, além do cruzamento das duas. Já na pecuária leiteira, as raças de expoentes superiores em 2015 são a holandesa, jersey e girolando.

A inseminação artificial foi praticamente reinventada há cerca de 12 anos, de acordo com o médico veterinário, pecuarista e diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) Frederico Mendes. “A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) facilitou o manejo da fazenda, a logística do processo e deu grande impulso no setor, que hoje bate recordes mundiais em volume”, explica. Segundo ele, antes era preciso ter uma equipe fixa para o manejo, observação do cio dos animais e inseminação, ou seja, era preciso esperar o cio para conseguir a inseminar. “Depois da IATF, técnica que usa hormônios e concentra a inseminação em um só dia para aquele lote de matrizes, é preciso contratar uma equipe multidisciplinar com técnicos e veterinários apenas para aquele período exato de inseminação. Com a IATF, paga-se por matriz inseminada ou por prenhes adquiridas”, justifica.

Segundo Frederico Mendes, a IATF já virou rotina para os criadores brasileiros e um passo a mais na escala da biotecnologia é a Fertilização In Vitro (FIV). “A FIV está sendo difundida aos poucos. São os bezerros de proveta produzidos em laboratórios, ou seja, a melhor genética da fêmea aliada a melhor do macho para a fecundação, gerando matrizes de excelente qualidade em um ano. O investimento costuma ser alto em leilões para multiplicar as matrizes diferenciadas”, destaca. O diretor da ABCZ lembra ainda da importância do uso de programas de melhoramento genético tanto na pecuária de corte quanto na leiteira. “São ótimas ferramentas. Através de cálculos matemáticos é possível identificar os melhores reprodutores e as melhores matrizes do rebanho. Identificando as melhores genéticas, é possível reproduzi-las e garantir o sucesso futuro do rebanho.”

Inovação tecnológica constante

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