Desde que foi desenvolvida no mercado brasileiro pelo visionário mineiro Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, fundador de marcas como Kaiser e Kero Coco, a água de coco em caixinha segue multiplicando os lucros no campo e em toda a cadeia produtiva.
“Estamos entrando num naturalismo, na busca frequente por produtos cada vez mais saudáveis e naturais”, explicou Francisco Porto, presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco no Brasil (Sindicoco). Segundo ele, o consumo da fruta in natura no país cresce entre 10% e 15% ao ano. “Além de ser um produto que ganhou o mercado internacional, a água de coco vem competindo com outras bebidas, inclusive, os refrigerantes, que já vêm perdendo espaço para as bebidas naturais”, destaca. No ano passado, a produção brasileira de refrigerantes recuou 5,9%, de acordo com dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal do Brasil.
Apesar do crescimento do coco envasado, Porto defende a criação de cooperativas de crédito para estimular o setor e, ao mesmo tempo, aliviar o preço do fruto que chega às mãos do consumidor. “O coco já é vendido por mais de R$ 6 em muitas praias e capitais do país. Já nas fazendas, cada unidade custa, em média, R$ 1”, afirmou, destacando que os produtores não veem boa parte do lucro, que na maioria das vezes fica com os intermediários e com o vendedor final.
A marca carioca do bem (escrita em minúsculo mesmo), que firmou parceria global com o grupo Casino na França e El Corte Ingles, na Espanha, já conta com mais de 20 mil pontos de venda para a comercialização da água de coco e outras bebidas naturais. “A água de coco, há seis anos tem uma grande receptividade, principalmente no verão. Feita com o coco anão verde, conseguimos levar a experiência da praia para a caixinha”, disse Marcos Leta, diretor e idealizador da do bem.
Nos campos, a região Nordeste do Brasil ainda é a maior produtora de coco no país, responsável por mais de 70% da colheita. No entanto, em Minas Gerais, os coqueirais já ocupam 2,2 mil hectares, a maior parte concentrada no Rio Doce e no Norte do estado, respondendo cada um por cerca de 12,9 milhões de frutos ou 35% da colheita de coco, conforme balanço da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção do fruto é expressiva também no Jequitinhonha/Mucuri (4,7 milhões de frutos), Zona da Mata (3,2 milhões de frutos), e Triângulo (1,9 milhão de frutos). Em 2015, Minas Gerais produziu 36,9 mil toneladas de coco. No país, a área de cultivo de coqueirais já soma 229,9 mil hectares, distribuídos entre as variedades gigante, anão e híbrido (cruzamento entre gigante e anão).
Segundo o coordenador técnico regional de Fruticultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Wagner Santos, a cultura do coco anão vem crescendo em regiões mais quentes, caso do Norte de Minas e do Vale do Rio Doce. “Governador Valadares tem uma expressiva produção e conta hoje com 389 hectares de área plantada”, afirma.
Para o especialista, a produção do fruto no estado tem grande potencial lucrativo, dependendo das práticas agronômicas empregadas na lavoura (adubação, irrigação, etc.) e das condições climáticas. “A cultura do coqueiro demanda bastante tecnologia e o produtor precisa investir na melhoria da qualidade do coco para aumentar a produção e garantir grandes volumes”, pontua. Santos explica que um dos maiores cuidados no plantio, é com o sistema de irrigação subterrâneo.
Dependendo da tecnologia utilizada, o coqueiro anão pode florescer com pouco mais de dois anos de idade e atingir, em função dos tratos culturais, de 200 a 250 frutos/pé/ano, o que proporciona maior rapidez no retorno dos investimentos realizados. “Um hectare (10 mil metros quadrados) equivale a um campo de futebol com capacidade de plantio de 100 pés. Cada pé produz por ano cinco cachos com cerca de 150 cocos cada um, ou seja, são 150 mil cocos por hectare”, explica.
VALORIZAÇÃO Em 2015, foram comercializados na Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas) em torno de 20,3 mil toneladas de coco verde ao preço médio de R$ 0,89 por quilo.
este”, afirma.
Em 2014, o quilo foi vendido por R$ 0,82, alta de 8,05% em um ano. No entanto, o total do fruto produzido no estado não é suficiente para abastecer o mercado interno. Ricardo Martins, chefe da Seção de Informação de Mercado da CeasaMinas, afirma que a Bahia – maior estado produtor de coco no país – foi responsável por mais de 50% do total ofertado no entreposto em 2015. “O que é produzido no estado atende apenas 10,6% do mercado e o restante vem de fora, principalmente do Nordeste”, afirma.
Um dos fornecedores da Ceasa é o produtor José Olímpio, que cultiva 10 hectares de coco verde (de onde é extraída a água) e cocos secos (matéria-prima do coco ralado e do leite de coco) em Mantena, no Vale do Rio Doce, segunda maior cidade produtora de coco em Minas, atrás de Várzea da Palma (Norte do estado). Há 15 anos, ele optou pelo coco e considera o negócio rentável, “se houver pé no chão”. “É um mercado grande, com aumento da demanda e, apesar do cenário, mantivemos a produção em 2015 com expectativa de estabilidade este ano”, afirma. Na propriedade do fruticultor, o preço líquido do coco oscila atualmente entre R$ 1,20 e R$ 1,50 a unidade, valor quase o dobro do que o registrado em 2012, quando o mercado pagava entre R$ 0,70 e R$ 0,75 pelo fruto..